sexta-feira, 25 de abril de 2008

Quebrando a Banca

Muitas pessoas sentem comichão por assistir filmes baseados em fatos reais. Para elas qualquer história banal ganha renovado interesse quando a informação de que algo do filme já aconteceu está impressa no cartaz à entrada do cinema. O que provoca tanto interesse? Em algumas a vontade de se meter na vida alheia, em outras um interesse genuíno pela excentricidade do mundo. Qualquer que seja a razão, no final do filme, essas pessoas (e as outras também) gostam de expecular sobre o que é e o que não é real na história que acabam de assistir (conheci uma mulher que tinha certeza que o Jack do Titanic existira). O que as pessoas não sabem é que o termo "baseado" deveria ser substituído por "inspirado" na grande maioria dos filmes, uma vez que da história original, normalmente, não subsistem mais que o plot (jargão técnico que significa aquilo que move a história) e duas ou três cenas. Exato o que acontece com Quebrando a Banca.

Alunos do MIT (Massachusetts Institute of Technology) desenvolvem um método para contar cartas no blackjack (popular jogo de cartas) sem serem identificados e passam os finais de semana apostando alto em Las Vegas. A verossimilhança com os fatos terminam por aí, a sinopse do filme não. Hollywood tem sua própria fórmula para filmes e quando os fatos não se encaixam nesta fórmula elementos podem ser alterados e introduzidos. Recordes, interesse amoroso, tutor todos esses são elementos incorporados para tornar a obra mais "cinematográfica". Por fim, a história do filme fica mais ou menos assim:

Ben Campbell (Jim Sturgess),um jovem genial que sonha cursar medicina em Havard e não tem dinheiro para pagar a faculdade, é recrutado por um de seus professores para participar de um grupo de contadores de cartas que consegue lucrar alto em Las Vegas. A principio Ben recusa. Jill Taylor (Kate Bosworth), seu interesse amoroso que coincidentemente faz parte do grupo, insiste e ele acaba aceitando. Seu grande sucesso lhe causa problemas com outro jogador e esses problemas o levarão a história ao seu desfecho.

Quebrando a Banca é um filme que não impressiona. Ao invés de aproveitar a oportunidade de ter um grupo de gênios dispostos a desobedecer regras e, com isso, criar uma história interessante, fragmentaria e inteligente, o filme adotou a esquemática clássica holywoodiana que expurgou todo um possível melhor conteúdo em favor de uma trama previsível e clichê. Não há surpresas, bons personagens, nem lances inteligentes. As pouco mais de duas horas passam quase como um filme adolescente, sem a graça e jovialidade dos bons filmes adolescentes como Superbad - é hoje (Superbad).

Talvez por isso, a notória falta de inteligência dos personagens que deveriam ser geniais passa quase despercebida. Seja o local onde Ben guarda seu dinheiro, seja o acordo que o Prof. Micky Rosa (Kevin Spacey) faz com Ben perto do final da narrativa a imbecilidade ronda os personagens. Os gênios parecem modelos e os "normais" é que são nerds, mesmo esta inversão não é aproveitada em beneficio da história.

Com dois bons atores em interpretações pobres, o elenco certamente não merece ser perdoado. Kevin Spacey surge como um professor escolado, mas falha peremptóriamente ao tentar transmitir um lado perigoso e assustador. Laurence Fishburne não passa de um troglodita que mesmo sendo capaz de contar as cartas, prefere, segundo ele mesmo, o outro lado do trabalho. Isto é, bater nos contadores. O que poderia trazer algo de interessante a trama se interrompe por aí já que o roteiro não lhe dá a chance de fazer nada além de tirar e colocar anéis.

Quando comecei a escrever esta crítica minha idéia era dar À Espera de um Milagre para este filme, agora que terminei estou tentado a pontuá-lo como meu primeiro Desejo de Matar, mas, além de ser injusto com o filme, eu receberia um MONTANHA de reclamações (não mais de duas ou três) de pessoas que adoraram o filme. Melhor não me levar pela emoção e jogar conforme as regras.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Os Indomáveis


Não existem gêneros cinematográficos mortos, por mais que um seja usado e maltratado pela indústria cinematográfica. Basta uma boa história e trabalho sério para que o aparentemente caquético gênero dê bons frutos. 2007 (no calendário estadounidense) foi o ano que devolveu à baila os westerns (faroestes), com, ao menos, três bons filmes: O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford (The Assassination of Jesse James by the coward Robert Ford), Onde os Fracos Não Tem Vez (No Country for Old Men) e o objeto de analise deste texto Os Indomáveis (3:10 To Yuma). Alguns reclamarão que Onde os Fracos Não Têm Vez não é um western. A verdade é que toda sua temática é a de um legitimo faroeste e o fato dele se passar nos dias de hoje apenas mostra a capacidade do cinema de recriar.

Os Indomáveis é o remake de um clássico dos westerns chamado Galante e Sanguinário - o título original é 3:10 To Yuma em ambas as versões - que conta a história de Ben Wade (Russell Crowe), um perigoso e famoso ladrão de diligências, que após ser preso em uma pequena cidade precisa ser escoltado a Contention onde pegará o trem dàs 3:10 para a cidade de Yuma. Um pequeno grupo é selecionado para escoltar Wade, entre eles um rancheiro falido e perneta chamado Daniel Evans (Christian Bale) que acredita que com a recompensa por este trabalho poderá manter suas terras e reconquistar algum prestigio junto a sua familia. Entre eles e Contention está o bando de Wade que tentará obstinadamente resgatar seu líder.

Conciliando sua preocupação com a história que tem que contar, com seu desejo de homenagear o gênero, o diretor James Mangold (Johnny e June) adiciona todos os elementos consagrados possíveis de faroeste a história. Assim, se é para Ben Wade ser ladrão, que seja de diligências, já que Daniel Evans é pobre, por que não ser um rancheiro endividado que teme a ferrovia que talvez venha a passar por suas terras e, ainda, ex-soldado da guerra de secessão. O que não pode ser adicionado, James Mangold quer se concentrar na história, pode ser citado. não há bebedeiras em bar! que hajá ao menos um brinde; ninguém joga pôquer! Que o garoto embaralhe cartas; não há duelos! Que alguém comente a velocidade com que Ben Wade saca; não tem dançarinas de cabaré! Que Wade esteja dormindo com uma ex ao ser preso; essas são algumas das muitas homenagens preparadas pelo diretor que ainda introduz: celeiros em chamas, índios, garotos usando armas (algo cada vez mais inaceitável no cinema estadounidense), etc.

Manejando bem os recursos técnicos disponíveis sem deixar de usá-los como um meio para um fim (ops, referência ao Quebrando a Banca), James sabe que o que ele tem para mostrar são os dois ótimos personagens da história e chamar atenção ao meio que comunica esta história pode, de alguma maneira, tirar a atenção destes personagens. Assim, fotografia, montagem e trilha podem não ser destacados por determinado momento do filme, mas acompanham dignamente seus protagonistas.

Quem diria que o circunspecto protagonista de Psicopata Americano (American Psycho), O Grande Truque (The Prestige) e Batman Begins, Christian Bale, sabe atuar. Ainda que haja uma certa predileção pelo personagem de Russel Crowe, Christian valoriza seus momentos em cena mesmo com pequenos gestos. Seja um franzir de olhos ou um movimento com a mão tudo lembra um homem selvagem preso ao seu papel na sociedade. Na outra ponta, Russel Crowe vive um homem que se orgulha em dizer que é mau feito o diabo e que prova isso inúmeras vezes durante a projeção. Detentor de um certo carisma que fascina os inocentes ao seu redor, Ben Wade passa mesmo a imagem de bom moço e como todo o cara mau feito o diabo sabe usar isso em seu beneficio.

O filme, é claro, tem seus tropeços. Neste filme, eles estão exatamente em seus personagens principais e, lamentavelmente, poderiam ser evitados com imensa facilidade. Como já foi dito Daniel Evans é perneta o que faz as peripécias realizadas por ele no terceiro ato soarem inverossímeis, demorei mesmo a associar a dor que ele sente com uma queda ao fato de ele não ter uma perna. Já a Ben Wade é atribuída uma religiosidade artificial, ele cita passagens bíblicas e tem crucifixos incrustados nas coronhas de seus revólveres, mas desdenha da oração antes do jantar.

Os Indomáveis é não apenas uma homenagem ao gênero, como um filme que merece ser assistido seja por fãs de westerns seja pelo público em geral.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

2 Dias em Paris

Não são raros os casos de atores que se aventuram na direção, muitos com bastante sucesso. Entre esses três nomes não podem deixar de ser citados: Mel Gibson (Apocalypto), ganhou o Oscar de direção por Coração Valente; Clint Eastwood (Cartas de Iwo Jima), levou o Oscar por melhor direção de 2006; George Clooney (Boa Noite e Boa Sorte), que foi indicado ao Oscar por este mesmo filme. Pois bem, 2 Dias em Paris é mais uma das aventuras de Julie Delpy na direção. A qual não alcançou o mesmo resultado dos outros atores já citados, mas tem algum mérito.

Dois Dias em Paris conta a história de um casal, ele americano ela francesa, que após passar férias em Veneza decide ficar dois dias em Paris para que Jack (Adam Goldberg) conheça os pais de Marion (Julie Delpy). Durante esses dois dias Jack sofre com a nova cultura, com os hábitos de seus sogros, além de encontrar diversos ex-namorados de Marion e descobrir sobre suas mentiras "inocentes" (não guardei a expressão que Marion usa no filme, mas este é seu significado).

O filme é uma mistura de Antes do Pôr do Sol (onde Delpy co-escreve e atua) e Encontros e Desencontros com uma boa dose de Casamento Grego. De forma que o roteiro é baseado em diálogos como o primeiro, seu mote (o termo técnico seria plot) é o problema cultural e idiomático a semelhança do segundo e a familia da noiva proporciona estranhamentos e boas piadas como em Casamento Grego. É uma pena que ele não ombreie qualquer um deles, pecando especialmente pelo excesso. Na verdade, excesso é a palavra de ordem deste filme, além das muitas idéias por serem trabalhadas, a fotografia é excessivamente rude e invasiva, com closes igualmente excessivos que mostram mesmo as marcas do tempo nos rostos dos atores. Apesar do filme se passar em Paris não há mais de dois ou três minutos de projeção que identifiquem iconicamente a cidade. Os enquadramentos, em geral, são grosseiros e óbvios buscando sempre o ponto de vista de quem está assistindo o casal. O que torna o clima tão claustrofóbico que pensei que esta poderia ser a idéia do diretor de fotografia Lubomir Bakchev, cheguei mesmo a pesquisar a filmografia dele, mas não encontrei nenhum trabalho dele que eu já houvesse assistido. O que não me impede de dizer que mesmo que tenha sido proposital foi excessivo.

Contrabalanceando a má fotografia está a excelente montagem do filme. A enfase no início da projeção onde Marion explica seu relacionamento com Jack enquanto fotos acompanham a narrativa dela com o som do trem ao fundo. A montagem se sobressai como a melhor coisa do filme se destacando em muitos outros momentos da projeção. O que acaba sendo quase que o oposto do que acontece com Antes do Pôr do Sol que tem longas tomadas sem nenhum corte. Além disso, o montador (não consegui pegar seu nome) conhecia mesmo os momentos em que devia ser discreto e apenas acompanhar a narrativa. Chega a ser incrível que um material fotográfico tão pobre tenha rendido uma montagem desta magnitude.

Julie Delpy e Adam Goldberg trabalham bem, mas são prejudicados pelo roteiro de Delpy cheio de auto-referências. Ambos são hipocondríacos. Ele sofre em algum grau de sindrome do pânico, se recusando a andar de metrô ou ônibus. Ela é uma ativista de joça nenhuma que diante de problemas universais como racismo e prostituição infantil estoura em discussão, o que estranhamente parece nunca ter acontecido antes deles chegarem a França. Ambos tem problema com sexo.

Sobre o roteiro: Ele lança diversos detalhes que sobre os personagens que enriquecem a trama, seja o motivo pelo qual Marion se torna fotógrafa, sejam as tatuagens Jack, aquele mundo é visto em detalhes. O problema é que Delpy tem algo a dizer neste filme, mas suas muitas escolhas, seus muitos assuntos e seu interesse por seus personagens não permitem que ela faça mais que esboçar seu discurso o que não deixar de ser uma pena. As piadas culturais são bons momentos que devem ser vistos com atenção.

Dois dias em Paris é um filme que agradará a gregos sem nunca chegar a agradar troianos. É com certeza um filme que alimenta a pretensão de ser cult, o tempo dirá se conseguirá tornar-se. Contra ele, o excesso.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Jumper


Ontem ouvi o comentário de que não dou boas notas a nenhum filme, na semana anterior um amigo me disse que eu não gosto de filme nenhum. Bem, os que lerem as críticas deste blog talvez concordem com isso, mas a verdade é que o período de fevereiro à abril é o que lança as produções de pior qualidade todos os anos. Os blockbusters saem entre maio e agosto e os filmes que almejam prêmios (especialmente o Oscar) são lançados entre novembro e janeiro. Estas são as expectativas de lançamento no Brasil, nos EUA os períodos são um pouco diferentes. Assim, como não sou homem de comer sardinha e arrotar caviar e sei que críticas de filmes antigos são, em geral, desinteressantes demais para postá-las, continuarei a falar dos filmes que estão em cartaz e a lhes dar as notas que merecem.

Jumper tinha três fatores e meio em quatro para ser um excelente filme. Partia de uma boa idéia; foi dirigido pelo competente Doug Liman (Identidade Bourne); tinha os bons roteiristas David S. Goyer (Cidade das Sombras, Blade, Batman Begins) e Jim Uhls (Clube da Luta). Simon Kinberg também consta dos créditos e provavelmente é o responsável pela maior parte dos problemas do filme, mas estou tentando mostrar o que o filme tinha para dar certo; e um elenco mediano com os competentes Samuel L. Jackson (Star Wars), Diane Lane (Infidelidade) e Jamie Bell (A Conquista da Honra), o desprezível protagonista Hayden Christensen (Star Wars), o mesmo ator que interpretou Anakin Skywalker expurgando o Darth Vader como a encarnação do mal das mentes e corações de milhões de pessoas ao redor do mundo e o seu interesse amoroso Rachel Bilson (do seriado O.C.), com uma atuação simplesmente insignificante. Mesmo com tantos pontos em seu favor, a má escolha do protagonista e a influência funesta de Simon Kinberg (que já trabalhara com Liman no fraco Sr. e Sra. Smith) arrastaram o filme para baixo.

David Rice, um adolescente de 15 anos abandonado pela mãe e criado por um pai violento, descobre, ao cair em um rio, que tem o poder de se teletransportar para qualquer lugar que ele já tenha visto antes. Sem deixar nada para traz além de um pai com quem não se entende e uma paixão não consumada, David foge de casa e começa a roubar bancos. Seu novo estilo de vida chama a atenção de um grupo de caçadores de jumpers e de um outro jumper chamado Griffin que, ao contrário de David, está engajado na guerra contra os paladinos (os caçadores de jumpers).

Perceba que nesta sinopse encontram-se todos os ingredientes de um grande filme, o problema é que todos eles foram aplicados na dose errada. O pai de David, a namorada, um colega de escola e mesmo Roland (Samuel L. Jackson), que só protagoniza algumas cenas para que o filme possa mostrar o quão mau ele é, parecem apenas fazer figuração durante o filme. E se Roland é mau, David não é nenhum Robin Hood, ele usa seus poderes apenas em beneficio próprio sem se importar com as conseqüências de seus atos. Então, entre o mau, que odeia, persegue, e mata aquilo que não entende e o não bom, que tem a namorada em perigo, acabamos forçados para torcer pelo não bom, uma vez que não há nada no filme que nos aproxime de David.

As seqüências de ação geralmente são boas e beneficiadas pela leve confusão causada pelos saltos dos personagens, sem falar no interesse causado pela falta de empatia de David e Griffin, quando um quer fugir, o outro quer lutar; quando o outro quer explodir tudo, o um quer entrar num combate suícida; quando um quer lutar sozinho, o outro quer trabalhar em dupla e vice-versa. O que chega ao ponto deles abandonarem seus agressores para brigarem entre si.

Tenho um preceito que diz que nenhum longa metragem da atualidade com menos de noventa minutos é bom e que a culpa, nestes casos, é do roteiro. Jumper e seus 88 minutos de projeção sofrem especialmente neste quesito. Há uma quantidade altíssima de perguntas sem resposta, os personagens são caricatos ou inexpressivos e não há uma explicação clara para o pano de fundo da história. Sim, paladinos perseguem jumpers há séculos, mas não há nenhuma explicação definitiva para isso, há o esboço de uma ou outra. A guerra que citei na sinopse, ocorre da mesma forma que acontece neste texto, só é citada. Afinal, se os jumpers não são organizados mesmo após séculos de perseguição, como foi doloroso perceber isso, eles só podem ser caçados mesmo. De forma que o que acontece não é uma guerra e sim uma chacina.

Despretensiosamente é possível acompanhar o filme do começo ao fim sem se aborrecer. Na verdade, dá até para sair do cinema com uma boa impressão do filme, uma vez que ele passa tão depressa que não chega a nos aborrecer. O que não me impediu de olhar umas duas vezes pro relógio durante sua projeção.

terça-feira, 1 de abril de 2008

As Crônicas de Spiderwick

É sempre interessante ver e analisar o movimento de massas feito por Hollywood, atualmente quatro acontecem concomitantemente: Os remakes de filmes antigos e/ou estrangeiros, as homenagens a seriados antigos, as adaptações dos quadrinhos (graphic novels para os geeks) e as aventuras fantásticas para adolescentes. Nesta última onda encontra-se As Crônicas de Spiderwick (acho que depois escreverei um artigo sobre esses movimentos) que apesar de estar apenas aproveitando o filão inaugurado por Harry Potter traz algo de novo e tem até mesmo um certo charme.

O filme conta a história de Jared Grace (Freddie Highmore), de como ele encontra o Manual de Campo de Arthur Spiderwick, escrito por seu antigo parente(David Strathairn), que lhe revela um novo mundo, oculto pelo mimetismo, repleto de fadas, ogros, trolls e afins. Mundo que agora está em risco já que ao abrir o livro ele chama a atenção de Mulgarath (Nick Nolte), rei dos ogros, que há décadas quer se apoderar dos segredos contidos no livro. Para defendê-lo Jared contará com a ajuda de seus irmãos Mallory (Sarah Bolger) e Simon (Freddie Highmore) e de um simpático duende caseiro (brownie) chamado Thimbletack (Tibério em português).

Toda trama funciona bem ainda que ela seja extremamente simplista e leve. De fato, o filme não chama muito a atenção e só se torna interessante por não tentar enganar o espectador com reviravoltas banais que apenas confundiriam o seu público, nem impressioná-lo com paisagens grandiosas, sequer dar brechas para continuações (claro que uma seqüência é possível, mas o filme não tenta impor uma). Essas características criam uma história fácil de assistir e fácil de gostar. Os efeitos especiais são bem feitos, mas faltam exemplares dos seres deste outro mundo, no geral apenas ogros preenchem as cenas.

Um problema que acontece comumente nos filmes de hoje e me aborrece sobremaneira é a falha em sua própria lógica interna, claro que As Crônicas de Spiderwick, como filme despretensioso que é, não poderia deixar de ter a sua. Apenas deixarei aqui a pergunta a qual não consegui deixar de lado durante toda a projeção: Como um livro que não pode ser destruído tem suas páginas arrancadas e rasgadas? Desta pergunta pode surgir uma boa porção de outras, mas elas são de fato apenas variantes desta.

Apesar da forma quase caricata pela qual a familia Grace é tratada pelo roteiro, Jared é o rebelde que culpa a mãe pelo divórcio de seus pais, Mallory é a irmã mais velha que por ter uma visão mais ampla e madura do que está acontecendo com sua própria familia apóia a mãe e tenta aliviá-la dos constantes ataques de Jared, Simon vivido pelo próprio Highmore é um pacifista que foge de confrontos. Helen (Mary-Louise Parker) é a mãe que tenta reconstruir a sua vida, o talento dos três atores consegue conferir a eles bastante profundidade. Para se ter uma idéia, apesar de Highmore interpretar os gêmeos Jared e Simon, em nenhum momento há dúvida de qual deles está diante de nós. Frisando que nenhum deles usa algo particularmente emblemático.

As Crônicas de Spiderwick não tem a pretensão de ser um filme de arte, abrir uma nova franquia, ou qualquer coisa do gênero, e, como não tenta enganar seu espectador fingindo ser uma dessas coisas, ele terminar por agradar ao público em geral. Com certeza não estamos diante de um novo blockbuster, mas, sem sombra de dúvida, ele conseguirá atingir o seu objetivo, retornar um bom lucro para a Nickelodeon, responsável pela sua produção.