sexta-feira, 3 de abril de 2009

Roteiro: Parte 3 - Storyline

No Brasil alguns especialistas preferem o uso do termo sinopse ao termo consagrado em inglês storyline. Como este último ainda é mais usado por aqui, o preferi ao termo tupiniquim. Além do mais, acho que a palavra sinopse pode gerar alguma confusão.

Storyline é, nada mais nada menos, que o resumo resumido do resumo de um roteiro. Ele deve ter um único parágrafo e, segundo Marcos Rey, em seu livro chamado Roteirista Profissional, jamais deve exceder seis linhas. Ele deve descrever o inicio e o desenvolvimento do conflito (também chamado de plot, falarei mais sobre isso em um outro post). Também pode se estender até o final do conflito, mas isso depende do uso que será dado a ele.

Teoricamente o storyline faz parte do desenvolvimento de um roteiro. Roteiristas mais pragmáticos defendem que o roteiro deve começar com uma idéia, então se desenvolve esta idéia em um storyline, que é usado para escrever o argumento que finalmente se transforma em um roteiro. Nestes casos o storyline funciona como o roteiro do roteiro e deve conter o final do conflito, o clímax. A seguir está um exemplo de Storyline do título de Hamlet de William Shakespeare:

Um príncipe cujo pai, que era rei, foi assassinado por seu tio com o fim de usurpar a coroa. Este crime conduziu o jovem príncipe a uma crise existencial, que terminou numa onda de mortes, inclusive a sua própria.

No texto acima temos um leve desenho dos personagens essenciais, mas eles sequer têm nomes, a história não tem uma época definida, tão pouco são mencionados os personagens secundários. Mas o conflito está presente, a morte do pai, bem como o personagem principal, o príncipe e seu antagonista, o tio. Sendo, normalmente, isto o essencial para se escrever um storyline.

Mas muitos roteiristas pulam o storyline como parte do desenvolvimento de um roteiro. Eles vão da idéia diretamente para o argumento. Mesmo nesses casos, eles não se livrarão de escrever um storyline. Mudarão a sua função e o momento em que ele será escrito, mas ele ainda terá de ser escrito. Nestes casos, o storyline passa a ter sua função ligada ao marketing do roteiro. Afinal, o objetivo de todo o roteiro é ser filmado e para isso alguém precisa comprar a idéia. Os interessados, neste ramo, sempre começam pela leitura do storyline, um storyline interessante e atraente, tem mais chances de sair da gaveta. Quando o storyline é escrito com este objetivo. Ele costuma ser escrito após terminado o argumento ou mesmo o roteiro todo e o final costuma ser suprimido. Assim, nosso storyline de Hamlet poderia ficar assim:

Um príncipe cujo pai, que era rei, foi assassinado por seu tio com o fim de usurpar a coroa. Este crime conduziu o jovem príncipe a uma crise existencial, que terminou numa onda de mortes.

Alguns ainda defendem que o storyline, quando escrito para vender o roteiro, deve ser o mais espetaculoso possível. Muito mais parecidos com as sinopses encontradas em jornais e sites especializados do que com uma ferramenta para a produção de roteiros. Abaixo um exemplo de storyline escrita por Rick Polito para o filme O Mágico de Oz, disponíveis o texto original em inglês, bem como uma tradução livre:

"Transported to a surreal landscape, a young girl kills the first woman she meets and then teams up with three complete strangers to kill again."

Transportada para uma terra surreal, uma garota mata a primeira mulher que encontra e então reúne três completos estranhos para matar novamente.

Perceba que os mesmos elementos do storyline sobre Hamlet estão presentes aqui, bem como as mesmas omissões. Inclusive do desfecho.

Nada impede que mais de um storyline seja escrito. Um usado para escrever o argumento e outro para vender o filme.

Um comentário:

Rodrigo Camargo disse...

Isso me lembrou o abstract do meu TCC... Vixi, faz tempo... Mas era mais ou menos isso, reduzir um calhamaço de 150 páginas em meia dúzia de linhas sem perder a ternura. Belo post, go on.