quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Classificação Etária Indicativa de filmes

No Brasil e em todo lugar (acho) os governos possuem formas de classificar filmes com base na faixa etária para evitar que menores sejam expostos a conteúdo que possa lhes ser nocivo. Por aqui, a classificação é indicada por um sistema de letras e números como indicado abaixo:

Agora, muitas pessoas têm dúvidas quanto ao caráter desta classificação quanto a elas serem restritivas ou não. O que posso dizer é que elas são e não são restritivas. :) De maneira geral, a classificação etária é apenas informativa, serve para auxiliar os pais na escolha dos melhores filmes para seus filhos assistirem, mas existem exceções.

A lei no Brasil diz que nenhum menor de 10 anos pode ir a exibições públicas (o que incluí o cinema) desacompanhado de um responsável, isto independente da classificação etária do filme. Além disso, menores de 18 anos não podem assistir a filmes com classificados como para maiores mesmo que acompanhados pelos pais ou maior responsável. Nesses casos a classificação etária é restritiva. Agora, menores podem assistir filmes acompanhados de responsável não importa a distância entre a idade da criança e a classificação indicada, desde que (como já foi dito antes) o filme não seja indicado para maiores de 18 anos. O que significa que se você quiser levar uma criança de dois anos para assistir a um filme classificado para maiores de 16 pode fazê-lo (claro que não o aconselho a fazê-lo).

As classificações são realizadas pela Secretária Nacional de Justiça, órgão do Ministério da Justiça, que além de filmes, classificam programas de tv, espetáculos,jogos de video-game e até de RPG. Normalmente, ela é feita por dois técnicos que recebem o material de antemão e avaliam seu conteúdo, classificando o produto e escrevendo observações a respeito de seu conteúdo. Trabalhinho bacana este, não?

Não sou contra este modelo de classificação, no entanto preciso fazer uma observação que considero bastante relevante. Filmes costumam ser classificados apenas uma vez, a menos que sejam lançados DVDs com conteúdo diferente do original.Isso não parece ser importante, mas a verdade é que a maneira de pensar da sociedade muda no decorrer do tempo e filmes que no passado receberam classificações etárias altas, provavelmente as teriam reduzidas. O Ministério da Justiça mantém em seu site uma pesquisa de classificação etária onde é possível procurar por filmes lançados no Brasil. Fiz diversos testes e não consegui encontrar muitos clássicos como: Cidadão Kane, Kramer vs Kramer, Oito e Meio, Lanternas Vermelhas, Império dos Sentidos. Imagino que isso signifique que eles não foram classificados recentemente. Outros filmes encontrei classificação mais recente, mas elas combinam com lançamentos diferenciados feitos por distribuidoras para colecionadores. Entre os títulos estavam: O Poderso Chefão, O Silêncio dos Inocentes, Um Sonho de Liberdade.

O site do Ministério da Justiça traz ainda uma explicação sobre o porquê da classificação. Caso você queria consultar algum filme o endereço é http://www.mj.gov.br/ClassificacaoIndicativa/jsps/ConsultarObraForm.do.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Suecar (Sweded)

Você já suecou alguma vez? Opa, será que estou falando sueco pra você?

Suecar foi uma onda que varreu várias partes do mundo e consiste de nada mais que fazer sua própria versão de filmes consagrados. Os filmes costumam ser curtos e toscamente acabados. O que faz deles pérolas engraçadíssimas.

A mania bem como o termo surgiu com o filme Rebobine Por Favor (Be Kind Rewind), onde os atores Jack Black e Mos Def após apagarem acidentalmente todas as fitas de uma locadora (o filme se passa na década de 80) têm a idéia de filmarem as histórias por cima das fitas. Descobertos, obviamente, logo após a primeira tentativa se saem com a lorota de que a fita era suecada (sweded no original). No filme e fora dele a fita suecada vira uma febre.

É possível encontrar bons filmes suecados no youtube. Abaixo listo alguns, talvez, um dia eu mesmo me aventure. :)





segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Filmes de Bolso (Pocket Films)

Filmes de bolso (pocket films do original em inglês) é um segmento novo e ainda pouco explorado que, acredito, pode ter um significativo impacto na sétima arte, nos próximos anos. Ele consiste em produzir filmes para serem assistidos em dispositivos de bolso, tais como celulares, tocadores de mp4, handhelds e smartphones. Os poucos filmes produzidos hoje neste formato são curtos, costumam ter menos de 5 minutos e, normalmente, estão distantes do grande público.

O grande adversário deste tipo de filmes tem sido os filmes feitos para cinema que vem sendo convertidos para formatos menores. Apesar desta pratica estar sendo bastante aceita tem seus problemas. O maior deles é que quando um filme é produzido todo o seu enquadramento é planejado para um formato especifico, de forma que, um filme que exibido em IMAX (ainda vou discutir sobre esta "nova" tecnologia) foi feito para ser exibido em uma tela de aproximadamente 1071 polegadas. É fácil imaginar que diminuir isto para 2,5 polegadas causará alguma perda de imagem, não? Coisas importantes podem acabar simplesmente desaparecendo da tela ou sendo indistinguíveis, um bilhete, as pessoas em um retrato, uma tatuagem. Ou mesmo, o carro que está perseguindo o mocinho e que está fazendo a curva em segundo plano. Profissionais da área têm combatido esta prática, recentemente, o diretor Peter Jackson (O Senhor dos Anéis) falou sobre assistir filme em dispositivos portáteis: "É uma pena. Se uma pessoa quer ter a experiência completa de ir ao cinema, essa não é a forma certa. É algo diferente. Não é para isso que nós trabalhamos, mas é uma escolha que a pessoa faz. Ter um filme no iPod é como ter um cartão postal de Paris no seu mural. É uma recordação. Nunca vai superar a verdadeira Paris."

Apesar de ainda não ter emplacado como um formato distinto, o filme de bolso vem sendo incentivado em festivais e concursos, inclusive no Brasil. A Mostra Curta Audiovisual de Campinas, o Festival Brasileiro de Cinema Universitário, o Festival Pocket Films, além de diversas companhias de telecomunicação são alguns dos seus incentivadores.

Então, se você sempre quis fazer um filme e não sabia como, pegue seu celular e entre nesta onda. Se você ainda não está convencido que pode fazer isso, assista aqui os trabalhos apresentados no Festival Pocket filmes e descubra o cineasta que há em você.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Afinal, Pra Que Serve um Diretor?

Quando comecei a estudar cinema e a entender como as coisas eram feitas nos estudios, a pergunta escrita no título desta postagem acendia feito um clarão em minha mente. Afinal, se quem escreve a história é o roteirista, quem controla as cameras é o diretor de fotografia, quem planeja o filme graficamente é o diretor de artes, quem dirige os atores é o diretor de elenco e quem monta o filme é o montador. Que diabos faz o diretor de um filme?

Pode parecer um pouco bobo dizer isso assim, mas o fato é que o diretor de um filme faz, a grosso modo, o mesmo que o diretor de uma empresa qualquer mais uma coisa ou duas. O diretor é a pessoa que sabe como ficará o filme no final. Assim, enquanto os outros envolvidos conhecem apenas de suas funções. Só o diretor pode dizer se eles estão trabalhando de acordo com a imagem que ele tem do filme. Como eu dise antes, ele fica jogando paciência enquanto todo mundo está ralando, exatamente como o seu diretor faz.

O diretor de um filme difere do diretor de uma empresa qualquer no fato dele ser único responsável pela qualidade do produto que ele está desenvolvendo. Então, enquanto o diretor de uma empresa dita ordens e sai para um cafézinho, o diretor de cinema acompanha cada etapa, sugerindo mudanças e trocando idéias até que tudo esteja como ele quer. Isto fica claro quando lembramos quem grita "Corta!" durante as gravações.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Produzindo um Filme

Antes de ter um roteiro em mãos, não existe filme para se produzir. Talvez, com sorte, haja um projeto, mas isso nada mais é que a idéia de se fazer um filme. Para que a produção seja iniciada existe a necessidade de se ter um roteiro em mãos. Se você leu os artigos sobre roteiro deste blog, tem uma idéia de que este possivelmente não é o roteiro que será filmado, mas precisa ser consistente o suficiente para que a produção possa ser iniciada. A produção de todo filme é um longo processo que pode ser dividido em três grandes fases chamadas pré-produção, produção e pós-produção. Neste primeiro artigo apenas explicaremos, a grosso modo, em que consiste cada uma dessas fases.
Afim de não criar parágrafos repetitivos, esta primeira elucidação é necessária. Produção é a divisão na qual o filme é filmado. De maneira que, pré-produção é a divisão que ocorre antes das filmagens e pós-produção é a que ocorre após. Isso pode parecer um pouco bobo e meio intuitivo, e é mesmo! De qualquer maneira, ter isto em mente dá uma dimensão muito mais clara da situação de uma produção qualquer.
Durante a fase de pré-produção são escolhidos os atores, as locações, parte da equipe técnica. Também são feitos os story boards, a captação de recursos, a obtenção de licensas (normalmente para se filmar em algum lugar público, ou se você precisar fechar uma rua), a construção de cenários. Caso haja alguma decisão muito impactante para a produção, como o uso de chroma key [1], ela provavelmente será tomada durante a pré-produção.
A produção, como já foi dito, tratá-se do período em que o filme é rodado efetivamente. Normalmente, ocorrem ensaios, gravações e escolhas técnicas como a luz ou o uso de um efeito visual, que realmente aconteça durante a gravação. Mesmo assim, por vezes acontecem mudanças nas escolhas realizadas durante a pré-produção: uma atriz pode ter quebrado uma perna; uma locação escolhida na pré-produção durante o inverno pode ter sido descaracteriza no verão. É importante ter em mente que muitas vezes é preciso improvisar, mas improvisar tudo seria loucura.
Pós-produzir um filme é montar um quebra-cabeças, nesta etapa é feita a montagem e inserida as músicas além de adicionados os efeitos de computação gráfica, quando os há. Também é nesta fase que ocorre o test screening[2].
Muito do que acontece durante a produção de um filme ainda será explicado neste blog, então acompanhe-o caso queira saber mais sobre produção cinematográfica.

[1] Chroma key é a conhecia técnica de filmar sobre um fundo azul ou verde.
[2] Test screening são comummente chamadas de exibições teste no Brasil. Consiste na exibição de um filme para uma platéia que após assistir ao filme preenche um questionário sobre o que achou do filme.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Roteiro: Parte 6 - Referências

Como acredito que já disse, estes artigos sobre roteiro não pretendem em hipótese alguma esgotar o assunto. Assim, vou indicar livros e sites que possam colaborar com aqueles que pretendam saber mais sobre o assunto.

Existe um escritor de nome Syd Field que acima de qualquer outro deve ser considerado quando o assunto é roteiro. Sua principal obra é O Manual do Roteiro, mas ele ainda têm outros títulos como Quatro Roteiros e Como Resolver Problemas de Roteiro que são leitura obrigatória. Além de diversos títulos ainda não traduzidos para o português.

A Jornada do Escritor - Christopher Vogler - O livro impresso no Brasil pela editora Nova Fronteira em 2006 está atualmente esgotado na própria editora, mas vale a pena dispender algum tempo em sua procura. Ele traz uma ótima explicação dos arquétipos literarios e faz comentários sobre alguns roteiros filmes de sucesso. Para aqueles que não têm problemas com o inglês ele pode ser comprado aqui ou aqui.

O Herói de Mil Faces - Joseph Campbell - Para ser lido juntamente com A Jornada do Escritor, este livro traz uma profunda analise do conceito universal do herói, incluindo uma analise psicológica e o caminho para sua ascenção. Ele pode ser comprado aqui.

O Roteirista Profissional - Marcos Rey - Foi o primeiro título que li sobre o tema, quando ainda era adolescente. É didático e fácil de ler, mas extremamente centrato na estrutura do roteiro em si. Ele pode ser comprado aqui.

Como Contar um Conto - Gabriel García Marques - Escrito com base em uma oficina de roteiros que o autor vencedor do nobel realiza todos os anos em Cuba. Para variar, ele está esgotado em português. MA pode ser encontrado em espanhol aqui.

Existem alguns sites que tratam de roteiro em português. Infelizmente, não conheço nenhum que tenha bastante regularidade, mesmo assim alguns são uteis.

http://www.roteirodecinema.com.br/ - O destaque deste site são algumas biografias e um bom acervo de roteiros nacionais, inclusive com textos inéditos.

http://www.roteirista.com - Curso on-line de Hugo Moss, autor do livro Como Formatar o Seu Roteiro - Um pequeno guia de Master Scenes. Infelizmente é pago.

http://www.films.com.br/intro.htm - Texto on-line do livro de Hugo Moss Como Formatar o Seu Roteiro - Um pequeno guia de Master Scenes.

Bom, é isso que eu tinha a dizer sobre roteiro. Em meu próximo post sobre fazer filmes falarei sobre as etapas de produção de um filme.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Roteiro: Parte 5 - O Formato de um Roteiro

O penúltimo artigo sobre roteiros vai falar, especificamente, sobre os itens que devem estar contidos em um roteiro. Para começar, vamos usar nosso conhecido trecho do roteiro do filme Cidade de Deus.

6 EXT. RUAS DO CONJUNTO - DIA

Cabeleira, Alicate e Marreco correm, perseguidos de perto, por um POLICIAL que dá tiros para o alto. Eles riem. E também atiram para o alto.

BUSCA-PÉ (V.O.)
O Trio Ternura não tinha medo de ninguém.
Nem da polícia... Eles achavam que a Cidade
de Deus era deles. Mas tinha um monte de
bandido que achava a mesma coisa. Naquele
tempo, a Cidade de Deus ainda não tinha
dono.

Os bandidos se metem pelas ruelas do local.

MONTAGEM cria a sensação de labirinto: o Policial nunca sabe para onde ir.

Os bandidos param um instante. Tiram as camisetas vermelhas, jogando-as por trás do muro de uma casa. Todos agora estão de camiseta branca. Eles continuam correndo até o...


A primeira linha que temos em nosso exemplo é uma espécie de cabeçalho e deve estar contida em todas as tomadas descritas em um roteiro. Ela é composta do nº da tomada, o tipo de ambiente, o local e o período do dia. O nº da tomada é essencial porque é praticamente a única forma de todos saberem exatamente o que será filmado. Quando o diretor diz para rodar a tomada seis, todos sabem o que devem fazer. O tipo de ambiente não passa de uma indicação que diz se a tomada será uma externa (EXT.) ou interna (INT.). Isto é importante porque tecnicamente mudam a iluminação, o tipo de camera que serão usados, por outro lado, externas, muitas vezes, precisam de permissões e condições climáticas. A coisa mais importante sobre o local da tomada é que uma vez que você chama um local de Quarto do Pedro, todas as referências ao mesmo local precisam ter o mesmo nome. Esse pequeno cuidado ajudará os continuistas e não gerará duvidas sobre o local a ser filmado. O período do dia normalmente é preenchido apenas com dia ou noite, mas também são possíveis amanhecer, anoitecer, meio-dia e qualquer outro momento que, de alguma maneira, seja distinguível na história.

Após o cabeçalho a descrição da ação deve ser escrita da forma mais direta possível preferencialmente seguindo a fórmula padronizada sujeito-verbo-predicado. Como já dito anteriormente, roteiros precisam ter a clareza como prioridade. Nada de firulas estilísticas que só gerariam duvidas.

Os diálogos devem ser precedidos pelo nome de quem está falando, que deve estar acima do diálogo e não a sua esquerda, como acontece nas peças teatrais.

Ainda existem várias marcações que podem ser usadas, citarei apenas algumas das mais comuns.
- Caso durante a tomada o local onde ela acontece mude, o novo local deve ser indicado em maiúscula, encostado a margem esquerda do texto. Não é necessário fazer quaisquer outras marcações.

1 INT. QUARTO DE PEDRO - NOITE

Pedro pega um isqueiro sobre o criado-mudo e caminha para a porta.

CORREDOR DA CASA DE PEDRO

Enquanto Pedro caminha tenta acender o cigarro que tira do bolso.

PEDRO
Droga de isqueiro.

- Quando a página acabar e a tomada não, o inicio da próxima página deve começar com uma indicação de que a tomada continua. Normalmente, isto é feito através do nº da tomada seguido pela inscrição CONT. (continuação).

- É muito comum que o roteiro contenha indicações do posicionamento das câmeras e efeitos de transições de imagens. Contudo muitas vezes elas são colocadas a pedido do diretor, mesmo que, em alguns casos, o roteirista pode sugerir isso.

Câmera acompanha Pedro que caminha pelo corredor. Close no rosto de satisfação de Pedro quando ele traga o cigarro após ele finalmente o conseguir acender.

FADE IN

- Algumas abreviações são usadas após algumas falas, as mais comuns são: V.O. - voice over significa que quem fala não está em cena, pode ser um narrador, mas também um radio ligado ou secretária eletrônica; O.S. - off screen ou simplesmente off significa que quem fala está em cena, mas não está visível; cont. - continuando significa que o esta fala é uma continuação de uma outra que foi interrompida por uma ação. Essas abreviações devem estar a direita do nome do personagem e entre parênteses.

CLAUDIO (OFF)
Você sabe que não pode fumar aqui.
Claudio surge no fim do corredor impedindo a passagem de Pedro

CLAUDIO (cont.)
Espero que você apague este cigarro agora.

- Descrições dos personagens podem ser feitas dentro ou fora do roteiro, apenas tenha certeza de que se o fizer dentro do roteiro, você o fará na primeira aparição do personagem e não mais.

Alguns outros detalhes poderiam ser incluídos neste texto, especialmente no que concerne espaçamento e tabulação. Mas isso tornaria este texto exaustivo e desinteressante para muitas pessoas apenas interessadas na leitura de um roteiro.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Sinédoque, Nova York


Finalmente assisti Sinédoque, Nova York e não farei uma crítica sobre este filme. Eu quero apenas incentivar você a, se tiver nervos de aço, coração de pedra e uma inteligência afiada, assistir a este filme sordidamente engendrado por Charlie Kaufman, roteirista de Quero Ser John Malkovich, Adaptação e Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças. Caso você não esteja a altura do desafio, não venha chorar sobre o meu ombro.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Roteiro: Parte 4 - PLOT

Nada me impressionou mais em minha primeira incursão adolescente sobre roteiro[1] do que o plot, que muitas vezes é chamado em português de conflito essencial. Conflito essencial já mata a charada sobre seu significado, mas, é sempre bom dar uma explicação pormenorizada. Plot é aquilo que perturba a rotina dos personagens, de forma que, no geral, um filme conta a história da introdução de um elemento estranho, uma discussão sobre este e sua adequação a rotina. Assim, temos a famosa divisão: inicio, desenvolvimento e conclusão.

Normalmente é muito fácil identificar o plot de um filme. Por exemplo, em Os Goonies o plot é o mapa do tesouro (alias o plot pode ser visto como uma espécie de mapa do tesouro); Em A Dama de Vermelho ele é o aparecimento da tal dama; Em A Espera de um Milagre é o aparecimento de um preso que tem a capacidade de curar as pessoas; Em A Corrente do Bem é a fé de um menino em que poderia mudar o mundo; Em O Senhor dos Anéis é a a descoberta do anel.

Convém lembrar que o plot é um elemento estranho para o cotidiano dos personagens e não para o nosso, isso significa que o conflito essencial do Matrix não é a Matrix; o do MIB - Homens de Preto não são os ets; o do Guerra nas Estrelas não são os Jedis; o do Harry Poter não é a magia. Em todos esses casos aquela é a realidade deles, logo deve ser vista como seu cotidiano. Quais seriam então seus respectivos conflitos. Em Matrix é a descoberta do Neo de que o seu mundo não era real; Em Homens de Preto é a chegada de um perigoso terrorista intergaláctico; Em Guerra nas Estrelas é a descoberta do Luke Skywalker de que seu pai foi um jedi destruído por Darth Vader; No Harry Poter é o retorno do Lord Voldemort[2].

Muitas vezes acontece também do filme querer retratar uma guerra ou um local, nesses casos, apesar de ser dado mais destaque ao pano de fundo da história, ela tratará dos seus personagens. Toda história só existe por causa dos personagens, guerras e lugares não podem ser personagens, de forma que estes filmes ainda têm seus conflitos relacionados aos personagens que o permeiam. Um exemplo disto é o meu exemplo padrão para essas postagens sobre roteiro. O plot de Cidade de Deus é o Zé Pequeno, seu inicio no crime, sua ascensão ao reinado e sua morte são as três divisões do filme. Um outro exemplo seria o Titanic.

Agora, todo filme tem um plot? Sim, todos tem. Sem ele não há história. Além disso, histórias convencionais têm apenas um plot, mas podem ter conflitos secundários que são chamado de subplots. Estes normalmente possuem inicio, desenvolvimento e conclusão como o plot. O filme pode ter tantos conflitos secundários que o conflito essencial acaba obscurecido ou difícil de identificar. Um filme em que isto acontece é Watchmen, ocorrem tantos subplots que quase não se percebe que o plot central é o advento do Dr. Manhattan. Já filmes com mais de um conflito essencial tendem a parecer diversos filmes unidos por um incidente, como acontece com Amores Brutos, 21 Gramas e Babel[3], além, é claro, de Crash.

Fica a certeza de que o plot é essencial para o desenvolvimento de qualquer roteiro de cinema e que sua adequação a ele, muitas vezes representada por sua aniquilação, é o objetivo da história. O que faz com que o plot possa ser descrito simplesmente como aquilo que leva a história adiante.

[1] Esta primeira incursão ocorreu quando eu tinha 13 anos e li O Roteirista Profissional de Marcos Rey.
[2] Harry Poter na verdade têm vários filmes e cada um tem seu próprio plot, mas Lord Voldemort se mantém como o grande conflito da saga toda. O que acaba tornando secundário o conflito de cada filme individualmente.
[3] Esses três filmes são dirigidos por Alejandro González Iñárritu e escritos por Guillermo Arriaga. Amores Brutos é normalmente considerados o melhor dos três pela crítica especializada, mas meu favorito é 21 Gramas.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Roteiro: Parte 3 - Storyline

No Brasil alguns especialistas preferem o uso do termo sinopse ao termo consagrado em inglês storyline. Como este último ainda é mais usado por aqui, o preferi ao termo tupiniquim. Além do mais, acho que a palavra sinopse pode gerar alguma confusão.

Storyline é, nada mais nada menos, que o resumo resumido do resumo de um roteiro. Ele deve ter um único parágrafo e, segundo Marcos Rey, em seu livro chamado Roteirista Profissional, jamais deve exceder seis linhas. Ele deve descrever o inicio e o desenvolvimento do conflito (também chamado de plot, falarei mais sobre isso em um outro post). Também pode se estender até o final do conflito, mas isso depende do uso que será dado a ele.

Teoricamente o storyline faz parte do desenvolvimento de um roteiro. Roteiristas mais pragmáticos defendem que o roteiro deve começar com uma idéia, então se desenvolve esta idéia em um storyline, que é usado para escrever o argumento que finalmente se transforma em um roteiro. Nestes casos o storyline funciona como o roteiro do roteiro e deve conter o final do conflito, o clímax. A seguir está um exemplo de Storyline do título de Hamlet de William Shakespeare:

Um príncipe cujo pai, que era rei, foi assassinado por seu tio com o fim de usurpar a coroa. Este crime conduziu o jovem príncipe a uma crise existencial, que terminou numa onda de mortes, inclusive a sua própria.

No texto acima temos um leve desenho dos personagens essenciais, mas eles sequer têm nomes, a história não tem uma época definida, tão pouco são mencionados os personagens secundários. Mas o conflito está presente, a morte do pai, bem como o personagem principal, o príncipe e seu antagonista, o tio. Sendo, normalmente, isto o essencial para se escrever um storyline.

Mas muitos roteiristas pulam o storyline como parte do desenvolvimento de um roteiro. Eles vão da idéia diretamente para o argumento. Mesmo nesses casos, eles não se livrarão de escrever um storyline. Mudarão a sua função e o momento em que ele será escrito, mas ele ainda terá de ser escrito. Nestes casos, o storyline passa a ter sua função ligada ao marketing do roteiro. Afinal, o objetivo de todo o roteiro é ser filmado e para isso alguém precisa comprar a idéia. Os interessados, neste ramo, sempre começam pela leitura do storyline, um storyline interessante e atraente, tem mais chances de sair da gaveta. Quando o storyline é escrito com este objetivo. Ele costuma ser escrito após terminado o argumento ou mesmo o roteiro todo e o final costuma ser suprimido. Assim, nosso storyline de Hamlet poderia ficar assim:

Um príncipe cujo pai, que era rei, foi assassinado por seu tio com o fim de usurpar a coroa. Este crime conduziu o jovem príncipe a uma crise existencial, que terminou numa onda de mortes.

Alguns ainda defendem que o storyline, quando escrito para vender o roteiro, deve ser o mais espetaculoso possível. Muito mais parecidos com as sinopses encontradas em jornais e sites especializados do que com uma ferramenta para a produção de roteiros. Abaixo um exemplo de storyline escrita por Rick Polito para o filme O Mágico de Oz, disponíveis o texto original em inglês, bem como uma tradução livre:

"Transported to a surreal landscape, a young girl kills the first woman she meets and then teams up with three complete strangers to kill again."

Transportada para uma terra surreal, uma garota mata a primeira mulher que encontra e então reúne três completos estranhos para matar novamente.

Perceba que os mesmos elementos do storyline sobre Hamlet estão presentes aqui, bem como as mesmas omissões. Inclusive do desfecho.

Nada impede que mais de um storyline seja escrito. Um usado para escrever o argumento e outro para vender o filme.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Roteiro: Parte 2 - Argumento

Já foi dito aqui que o argumento é a verdadeira base de todo o filme. Agora, por argumento, se compreende o conjunto de idéias que serão desenvolvidas no roteiro. Ele tem a ação delineada, bem como a sequência, personagens e locações. Normalmente não tem diálogos e sua narrativa é pobre.

Como a palavra de ordem do cinema comercial é o lucro, métricas foram inventadas para tudo. Com o argumento não poderia ser diferente. De forma que, na matemágica de Hollywood cada página de um argumento representa dez páginas do futuro roteiro. Claro que, como o argumento não tem um estrutura rigidamente definida como o roteiro, esta medida pode variar muito de um argumentista para o outro.

Argumentista é aquele que escreve o argumento! Sei que não disse nada com isso, mas o fato é que em produções adaptadas o argumento costuma ser escrito pelo próprio roteirista ou roteiristas. Já em produções originais, muitas vezes o argumento vem de um dos produtores do filme. Por exemplo, o George Lucas costuma escrever diversos argumentos para filmes que produz e/ou dirige. Entre eles estão Star Wars - O Império Contra-Ataca, todos os filmes do Indiana Jones, Willow - Na Terra da Magia, entre outros.

Muitas vezes é difícil diferenciar um bom argumento de um bom roteiro. Já que um é feito sobre o outro, felizmente temos um exemplo recente que pode ser usado para reforçar esta distinção. O filme Quem Quer Ser um Milionário, que ganhou o Oscar de melhor roteiro adaptado, é um roteiro ruim escrito sobre um bom argumento. Uma cena é categórica: Os par romântico do filme Jamal e Latika finalmente se re-encontram após anos de separação, mas há um problema, Latika vive com um poderoso bandido de Dubai. Jamal pede para ela ir com ele, ao que ela questiona: "Viver do que?". "De amor" - Jamal responde prontamente. É possível ser pior que isso? Se lembrarmos que em um argumento não entram diálogos, entenderemos que a potencialmente boa idéia de um reencontro entre os personagens no meio do filme escrita no argumento, foi completamente arruinada no roteiro por um diálogo pobre.

Para perceber a proximidade e as diferenças entre argumento e roteiro. Abaixo há um exemplo de argumento da sexta cena do filme Cidade de Deus:

ARGUMENTO
Pelas ruas da Cidade de Deus Cabeleira, Alicate e Marreco fogem da polícia. Eles percorrem algumas ruelas, trocam de roupa e correm até o campinho onde fingem jogar bola com os meninos.


ROTEIRO
EXT. RUAS DO CONJUNTO - DIA

Cabeleira, Alicate e Marreco correm, perseguidos de perto, por um POLICIAL que dá tiros para o alto. Eles riem. E também atiram para o alto.

BUSCA-PÉ (V.O.)
O Trio Ternura não tinha medo de ninguém.
Nem da polícia... Eles achavam que a Cidade
de Deus era deles. Mas tinha um monte de
bandido que achava a mesma coisa. Naquele
tempo, a Cidade de Deus ainda não tinha
dono.

Os bandidos se metem pelas ruelas do local.

MONTAGEM cria a sensação de labirinto: o Policial nunca sabe para onde ir.

Os bandidos param um instante. Tiram as camisetas vermelhas, jogando-as por trás do muro de uma casa. Todos agora estão de camiseta branca. Eles continuam correndo até o...

Perceba que o argumento continua até a cena seguinte do roteiro. Isto acontece porque o argumento não obedece a divisão de cenas que será criada pelo roteiro. Além disso, todos os elementos importantes do filme estão presentes no argumento: Os personagens, as locações e a ação. O argumento poderia ainda informar o estado de espírito em que os personagens fogem da polícia, mas é importante evitar o uso de adjetivos. Dar este tipo de informação já no argumento, pode engessar o roteiro. Então, se eles fogem alegremente ou desesperadamente, a medida do possível, deve ser uma decisão tomada no roteiro.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Roteiro: Parte 1 - O Que É Roteiro?

A melhor maneira de começar a definição do que é um roteiro de cinema é dizendo o que ele não é. Pois bem, um roteiro não é uma obra de arte, sequer deve ser artístico de alguma maneira. Muitas pessoas crêem que o roteiro é o fundamento de todos os filmes, mas a verdade é que ele é apenas a estrutura. O fundamento que sustenta todo o filme, estou fazendo uma analogia com a construção de um edifício, é o argumento (falarei sobre ele outra hora). Em função disto, dos principais papéis para a realização de um filme, o do roteirista é o mais obscuro. Mesmo o produtor, cujas funções muitas vezes são ignoradas pela maioria das pessoas, é mais conhecido que o roteirista de um filme qualquer. Excetuando-se, é claro, diretores-roteiristas como Christopher Nolan, os irmãos Wachowski, James Cameron, Francis Ford Coppola, etc. Que são conhecidos por seus trabalhos como diretores. Discorda? Aceite o desafio e cite em 10 segundos o nome de três roteiristas. Eu citarei o nome de um deles, existe um roteirista muito inventivo, habilidoso, conceituado e premiado hoje em Hollywood cujo o nome é Charlie Kaufman (ano passado ele dirigiu seu primeiro filme) e ele jamais escreveu um livro. Ora, sendo ele um escritor, pensa-se que seu desejo seria publicar livros, mas então por que ele não o fez? Pela mesma razão que a grande maioria dos outros roteiristas. Um roteiro não pode ser literário, nem deve entreter. Ele tem de ser claro e objetivo. Assim, mesmo um excelente roteirista, muitas vezes, seria incapaz de produzir um romance.

Outra coisa que deve ser desmistificada quando se trata de roteiro é que ele é fruto do trabalho do roteirista. Ao contrário do que acontece com um romance, normalmente, um roteirista não senta diante de um computador e começa a escrever um roteiro sobre uma história qualquer, às vezes, é claro, isto acontece. Mas o mais comum é que ele seja contratado para escrever um roteiro. De maneira que, o que o roteirista deve escrever vem da mente de quem o contratou e não dele mesmo. Muitas vezes quem contrata um roteirista é um produtor endinheirado e sem talento que o manda adaptar uma obra cujos direitos ele (o produtor) já adquiriu, razão pela qual a imensa maioria dos filmes são adaptados de outras obras. Eventualmente, surge um produtor com talento que vem com uma idéia para o roteirista escrever e surge um roteiro original. Quem manda fazer um armário embutido escolhe sua cor, o material, a quantidade de gavetas, se as portas são de correr ou de puxar. Será que quem contrata um roteirista é menos criterioso? Claro que não, a prova disto é que os roteiros têm diversos tratamentos (são re-escritos diversas vezes) para que o roteirista deixe o roteiro da maneira que o(s) produtor(es) quer(em) (eles costumam atacar em bando). Por exemplo, o roteiro de Cidade de Deus, que tem um trecho transcrito no final deste post, teve nada menos que doze tratamentos. Tudo acontece mais ou menos assim:

Um roteirista escreve um primeiro tratamento e o apresenta em uma reunião a uma meia dúzia de executivos que após lerem o textos têm idéias e criticas. O mocinho tem de ter um interesse amoroso; têm muitas cenas de sexo; o irmão da mocinha devia ser morto pelo bandido; deveriam ter palhaços na cena do funeral. E uma série de outras idéias que o roteirista, não muito amigavelmente, incorpora no roteiro. Outras apresentações são feitas e mais mudanças são pedidas. O mocinho tem de ter duas namoradas; não podem haver cenas de sexo; o irmão da mocinha devia ser morto pelo bandido; os palhaços do funeral poderiam estar acompanhados por mulheres barbadas. Então, em algum momento um diretor é contratado para o projeto e, como o diretor é o artista do filme, manda o roteirista mudar tudo de novo. Além disso, dependendo dos atores contratados, estes também exigem mudanças no roteiro. Acho que está claro que no fim o roteiro não é escrito pelo roteirista, mas apenas compilado por ele. Como dito no começo deste parágrafo, as vezes o roteirista simplesmente começa a escrever um roteiro para vendê-lo a algum estúdio interessado, apesar de nestes casos ele conseguir ter mais controle sobre o seu trabalho isto não é garantia de que ele não será modificado.

Legal, tudo isso para dizer o que um roteiro não é, mas afinal, o que é um roteiro? Roteiro é um texto que tem como função deixar claro o que e quando acontece algo planejado para que todos os envolvidos estejam preparados e saibam o que fazer a medida que as coisas acontecerem. Esta definição serve para qualquer tipo de roteiro (mesmo o de uma viagem, por exemplo), mas para o roteiro de cinema é necessário acrescentar o termo "técnico" ao lado da palavra texto. Afinal, o roteiro de cinema é um texto técnico. Por texto técnico entenda que existe uma norma que deve ser obedecida quando se escreve um roteiro, entre outros, os principais objetivos desta norma são, tornar fácil e direta a leitura do texto e garantir que cada lauda escrita represente um minuto de projeção, logo um texto de cem laudas resulta em um filme de cem minutos. Esta última regra é uma das mais importantes para a elaboração de um bom roteiro de cinema, já que com ela é possível fazer seu planejamento orçamentário. A norma adotada atualmente em Hollywood se chama Master Scenes e existem mesmo editores de textos que obedecem a ela.

O roteiro é divido em cenas, que possuem indicações sobre se elas têm locações internas ou externas, assim como uma descrição sumária da cena e da locação, além dos diálogos. Há anos atrás alguns realizadores começaram a usar storyboards para facilitar a orientação das equipes, apesar de muito usado hoje em dia, os storyboards não substituem os roteiros mas, de diversas formas, o complementam. Como para indicar o uso das câmeras e iluminação.

Existe todo um mecanismo para alcançar um roteiro escrito que ainda será visto neste blog, este mecanismo é formado principalmente pelo argumento e o plot. Além de algumas outras peças que cooperam para a obtenção de um bom roteiro. Abaixo se encontra um trecho da sexta cena do roteiro do filme Cidade de Deus. Em um outro post pretendo explicar o significado daquilo que está escrito.

EXT. RUAS DO CONJUNTO - DIA

Cabeleira, Alicate e Marreco correm, perseguidos de perto, por um POLICIAL que dá tiros para o alto. Eles riem. E também atiram para o alto.

BUSCA-PÉ (V.O.)
O Trio Ternura não tinha medo de ninguém.
Nem da polícia... Eles achavam que a Cidade
de Deus era deles. Mas tinha um monte de
bandido que achava a mesma coisa. Naquele
tempo, a Cidade de Deus ainda não tinha
dono.

Os bandidos se metem pelas ruelas do local.

MONTAGEM cria a sensação de labirinto: o Policial nunca sabe para onde ir.

Os bandidos param um instante. Tiram as camisetas vermelhas, jogando-as por trás do muro de uma casa. Todos agora estão de camiseta branca. Eles continuam correndo até o...