quarta-feira, 26 de março de 2008

Comentando Trilhas

O Cine Paranóia continua inovando. Agora, com a adesão oficial do colaborador Amarildo Mello, acrescentou-se à sua gama de atrações os comentários das trilhas musicais que acompanham os filmes. Começando pela excelente trilha de Cassino Royale.

Afim de realizar o aprimoramento do Cine Paranóia continuamos pedindo idéias para acrescentar ao blog.

Obrigado pela visita,
Equipe do Cine Paranóia

A Trilha de 007 Cassino Royale

Desde os primórdios as trilhas dos filmes do espião mais famoso de todos os tempos são tratadas com maestria, sejam suas seqüências instrumentais, sejam seus temas interpretados. Quem não se recorda de Live And Let Die (tema de 007 - Viva ou deixe Morrer) de Paul McCartney, Secret Agent Man de Johnny Rivers ou da trilha instrumental de Monty Norman, criada originalmente para 007 Contra Dr. No e que acompanha a série até hoje.

Neste filme, Monty Norman retorna com uma nova roupagem de seu tema característico e com alguns simples arranjos do novato na área Gary Trotman. Já na trilha interpretada, Chris Cornell (Ex-Sound Garden e Audioslave) empresta sua voz para cantar You Know my Name, composta pelo próprio Cornell e por um monstro no gênero, David Arnold. Aliando partes orquestradas com um refrão forte que cativa e prende a atenção dos ouvintes. Cornell também interrompe a seqüência de trilhas entoadas por mulheres, que começou com 007 Contra GoldenEye (Tina Turner) passando por 007 - O Amanhã Nunca Morre (Sheryl Crow) continuando em 007 - O Mundo não é o Bastante (Garbage na voz de Shieley Manson) até encerrar em 007 - Um Novo dia para Morrer (Madonna).

Durante o filme há passagens sutis da música tema em formato instrumental, principalmente nas partes de ação. Já nas cenas rodadas no Cassino em que os personagens de Daniel Craig (James Bond) e de Mads Mikkelsen (Le Chiffre) disputam a partida de pôquer, a trilha é suprimida, aumentando a tensão e concentrando o espectador no silencioso jogo de poker e nos blefes de seus personagens.

Como sempre ocorre nas trilhas de 007 o tema é forte, característico e com propriedade. O que garante conforto aos ouvidos. Agora é só aguardar as surpresas da trilha de 007 - Quantun of Solace, próximo filme da série que tem estréia prevista para novembro/2008, já que de ante-mão será comandada por novamente David Arnold e seu toque atento.

Faixas
01.African Rundown
02.Nothing Sinister
03.Unauthorised Access
04.Blunt Instrument
05.Cctv
06.Solange
07.Trip Aces
08.Miami International
09.I'm The Money
10.Aston Montenegro
11.Dinner Jackets
12.The Tell
13.Stairwell Fight
14.Vesper
15.Bond Loses It All
16.Dirty Martini
17.Bond Wins It All
18.The End of an Aston Martin
19.The Bad Die Young
20.City of Lovers
21.The Switch
22.Fall of a House in Venice
23.Death of Vesper
24.The Bitch is Dead
25.The Name's Bond... James Bond

007 Cassino Royale

Comentar sobre o personagem mais famoso de Ian Fleming não é nada simples, haja visto que desde sua primeira aparição cinematográfica, 007 contra Dr. No - 1962, até os dias de hoje somam-se 21 filmes, protagonizados por diversos atores, dentre eles: Roger Moore, Sean Connery e Pierce Brosnan. Assim, todo o cuidado é pouco na hora de apurar os fatos.

Neste 21º filme, Bond, interpretado pelo britânico Daniel Craig, precisa impedir que o banqueiro Le Chiffre (Mads Mikkelsen) continue financiando atentados terroristas, para isso James participa de um jogo de pôquer no Cassino Royale em Montenegro. Por trás desta trama existe o fato de que James foi recém promovido ao cargo de agente "00", cometendo vários deslizes para poder aprimorar sua conduta no MI-6.

Diferentemente dos anteriores, esta película demonstra novas características que podem servir como fatores determinantes para o sucesso da mesma. Mas também apresenta a ausência de situações e personagens tradicionais, que talvez possam vir a torná-la decepcionante para os fãs mais fervorosos. Como as ausências dos personagens Q, interpretado por Desmond Llewelyn e falecido antes do lançamento de 007 - O Mundo não é o Bastante e R (Jonh Cleese), que participa dos 007 - O Mundo Não é o Bastante e 007 - Um Novo dia para Morrer, que eram responsáveis pelo alivio cômico destes filmes, o que não os impediu de serem descartados neste último. Outro ponto a se destacar é a falta (justa) de cenas mirabolantes e extremamente inverossímeis como a passagem inicial de 007 Contra GoldenEye e, por fim, o fator chave de todo James Bond, que é seu charme, foi totalmente perdido neste filme, não que o diretor e o roteirista não o tenham incluído no filme, mas sim pelo pela incapacidade de Daniel Craig em demonstrar o mesmo sex appeal que seus predecessores.

Mesmo com essas mudanças, diversos elementos clássicos continuam: as estonteantes Bondgirls,que em Cassino Royale são interpretadas por Caterina Murino e Eva Green, além do vilão-aberração (cada filme da série tem o seu). Neste ele chora sangue.

Os erros primários do agente, seu anseio por matar inimigos, sua impulsividade ao tomar decisões (o que quase o matou) e sua ingenuidade, que o torna alvo de traições, são evidentes desde o início da projeção. Bem como sua resistência em aceitar tais erros. E são exatamente os erros que o levarão para a missão central do filme, bem como o arrastarão ao seu desfecho.

quarta-feira, 19 de março de 2008

O que que há, Velhinho?

Após a descoberta de mais algumas incríveis ferramentas desenvolvidas e disponibilizadas gratuitamente pela Google. Uma importante adição foi feita hoje no Cine Paranóia, a criação da seção O Que Que Há, Velhinho? com as notícias mais relevantes do cinema.

Não fazia parte do escopo deste blog a divulgação de notícias, uma vez que diversos sites profissionais se dispõem a este papel de uma forma que seria impossível para a equipe do Cine Paranóia acompanhar. Felizmente, essas novas ferramentas permitem que as notícias sejam adicionadas de uma forma completamente orgânica, o que não causará nenhum desgaste excessivo na equipe.

Agora, a seção O Que Que Há, Velhinho? não trará a totalidade das notícias disponibilizadas diariamente na rede, mas será uma série de links para as notícias consideradas mais relevantes pela equipe do Cine Paranóia. Assim, a seção terminará auxiliando o leitor que não tem tempo para ficar varrendo diversos sites e lendo notícias desinteressantes para se atualizar.

terça-feira, 18 de março de 2008

Antes de Partir


O filme conta a história de dois pacientes terminais que se conhecem num quarto de hospital e após conviverem algum tempo neste mesmo quarto, criam uma lista com tudo o que desejam fazer antes de partir. Uma vez que Edward ( Jack Nicholson ) é um milionário solitário e extravagante, não é difícil para eles começarem sua última viagem.

Logo no inicio da projeção é possível se dar conta que não se verá uma produção caprichada. A cena onde um homem caminha pelo Himalaia com a narrativa de Morgan Freeman, visivelmente feita sob fundo verde, dá uma má impressão sobre o que virá a seguir. Afinal, a primeira impressão muitas vezes é a única num mundo onde se tem cada vez menos tempo. Razão pela qual filmes e livros tentam ganhar seu público logo no inicio e que produtoras costumam contratar grandes cineastas para filmar o primeiro episódio de um novo seriado. Uma primeira cena pouco trabalhada berra "ruim" nos ouvidos.

Da mesma forma que o filme teve de continuar esta crítica não pode silenciar ainda, apesar de um começo pedante, o filme não é ruim. Após a primeira cena no Himalaia o público é apresentado a Carter (Morgan Freeman), um mecânico inteligente e culto(?) cujo sonho era ser professor de história e em seguida apresentado a Edwad. Ambos descobrem sobre suas doenças nesta primeira aparição. Enquanto o primeiro recebe uma ligação sobre o resultado de seus exames, o outro tem uma crise em meio a uma disputa jurídica.

Obrigados a conviver no mesmo quarto, Edward e Carter sofrem estranhamentos da vida confinada e acabam por aprender a conviver e apoiar um ao outro. Aqui acontecem os melhores momentos do filme, uma vez que tanto Jack Nicholson quanto Morgan Freeman assumem suas funções muitíssimo bem. Além disso, ambos recebem visitas que interferem na rotina dos personagens. Enquanto Carter recebe as visitas de Virginia (Beverly Todd), sua esposa, com quem vem tendo problemas. Edward é visitado por seu secretário Thomas (Sean Hayes), que traz o alivio cômico para o filme. Agora talvez seja o momento de comentar que a química entre Jack Nicholson e Sean Hayes é excelente e rende alguns dos melhores momentos do filme, uma vez que, ao contrário do Morgan Freeman, que antagoniza Jack Nicholson, Sean Hayes o reflete.

Infelizmente a dita lista tem poucos itens interessantes e justamente esses são tratados com menos interesse pelo filme. O que transforma as últimas vontades dos dois personagens uma mera e extravagante viagem. O que faz o filme voltar a cair de nível. Toda a filmagem é feita em estúdio sobre o fundo verde, Egito, Grécia, Himalaia (de novo), passeio de skydiving e até um pega de automóveis são todos inseridos digitalmente de forma tristemente mal acabada, e cheia de planos esquematizados.

Rob Reiner conduz o filme de forma burocrática e apenas funcional. Ele apresenta os personagens de maneira semelhante, as viagens começam com planos onde o lugar em que eles estão é mostrado numa panorâmica para que seja identificado pelo público, ambos os personagens tem, no fim, um mesmo objetivo/lição, o filme termina com a continuidade da primeira cena. Sua idéia inicial era tratar de um assunto delicado sem cair num dramalhão, mesclando comédia ao drama inerente ao tema do filme. Isto ele consegue fazer, mas apenas parcialmente, pois apesar de não querer levar seu público as lágrimas, muitas vezes vemos suas tentativas de emocioná-lo, de fazer o público entender o que os personagens estão passando e isto ele não consegue.

Antes de Partir é um filme mediano que ainda assim vale ser visto por seu excelente humor e ótimas atuações.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Em busca de novidades

Ontem, Luiz Romanini, um amigo da produção do Cine Paranóia, sugeriu que o blog poderia ampliar seu escopo para além das críticas. Ele sugeriu que fossem realizados comentários de salas e valor de ingressos. Independente da sua sugestão ser acatada ou não, seu comentário levantou a idéia de que o Cine Paranóia poderia trabalhar com outras matérias que seriam do interesse dos seus leitores, desde que elas sejam voltadas ao cinema. Desta forma, está-se abrindo este espaço para que as pessoas coloquem suas sugestões para o desenvolvimento do blog. Então, se você tem uma idéia que possa ser usada pela nossa equipe, não importa se ela é boa ou ruim, clique no link de comentário e mande-a para nós.

Aproveitamos esta postagem para agradecer ao bom amigo Luiz Romanini por sua sugestão.

O Ano que Meus Pais Saíram de Férias

Não é de se admirar que a comissão criada para indicar o filme nacional para o Oscar preteriu Tropa de Elite a O Ano Que Meus Pais Saíram de Férias. O Ano que Meus País Saíram de Férias além de ser um filme bonito e sensível tem como parte do seu pano de fundo a comunidade judaica no Brasil e como muita gente sabe os Judeus não apenas trabalham em massa na indústria hollywoodiana como adoram puxar sardinha para seu próprio lado, do mesmo modo que todo mundo adora fazer.

O Ano que Meus Pais Saíram de Férias narra a história de Mauro (Michel Joelsas) um menino de doze anos que acaba sendo cuidado por um estranho judeu, vizinho de seu avô, quando este falece repentinamente e os pais dele saem de férias, fogem para escapar da perseguição política promovida pela ditadura.

O filme se prende exclusivamente ao olhar de Mauro e, por isso mesmo, esbanja todos os problemas causados pela temática garoto na casa de estranhos. Mauro tem problemas com Shlomo (Germano Haiut), judeu que o hospeda, com os novos amigos, atravessa uma paixonite de verão, sente a falta dos pais e se assombra com os tipos diferentes que encontra. Tudo isso poderia soar banal e corriqueiro não fosse pelo ritmo cálido conferido por Cao Hamburguer e pelo ano em que Mauro se vê afastado de sua zona de conforto.

1970 foi o ano do tri-campeonato brasileiro e o inicio dos anos negros da ditadura, fase mais violenta da ditadura no Brasil. Talvez por isso muitas pessoas tendam a estreitar os limites do filme, umas dizem que ele fala de futebol, outras que ele diz respeito a ditadura. Coisa que o próprio título do filme parece confirmar. Se O Ano que Meus Pais Saíram de Férias remete a ditadura, Vida de Goleiro, que seria o título do filme não fosse a influência da produção do filme, grita futebol nos ouvidos. Mas a verdade é que o filme retrata um garoto no ano de 1970. Mauro está ausente nos ápices das duas vertentes, ele tanto é retirado de um confronto público entre policiais e manifestantes, quanto abandona o bar onde assistia a final da copa do mundo.

A música do filme pontua muito bem a ação aflorando a emoção do espectador sem, no entanto, tentar levá-lo as lágrimas. Se poderia dizer que ela é contida como o filme.

Contudo provavelmente este belo filme desagradará a grande parte de sua platéia, seja porque as tensões criadas são leves e resolvidas de forma natural, o que vai levar as pessoas a considerá-lo chato ( para mim ele não foi chato ), seja pelo desfecho aberto, que é claro tem sua poética uma vez que a vida de todo garoto pode seguir em qualquer direção, mas normalmente não é do gosto do espectador.

terça-feira, 11 de março de 2008

Agradecimento

O Cine Paranóia agradece ao bom amigo Helder Paiva pela nova arte do sistema de avaliação que substituiu a ridícula primeira versão desenvolvida pelos redatores do site.

Valeu pela força Helder!

10.000 A.C.



Com a chegada de uma menina de olhos azuis em uma pequena tribo de caçadores surge uma profecia sobre o momento mais importante desta tribo; o dia em que eles passarão de caçadores para coletores, mas para que isso aconteça eles antes terão de tornar-se guerreiros.

O paragráfo acima é empolgante e vazio. Pois bem, este é 10.000 A.C.

Dito isso é importante que se saiba que a menina de olhos azuis é Evolet (Camilla Belle), mocinha do filme. A profecia diz respeito a um ataque que será feito por demônios de quatro patas que seqüestrarão quase todos os homens da tribo e, de quebra, Evolet. Ela diz ainda que surgirá um caçador que guiará o povo para uma nova vida, e ainda que ele se casará com Evolet.

Alguns anos depois disso a jovem Evolet está apaixonada por D'Leh (Steven Strait) que para poder se casar com ela precisa ganhar a lança branca, símbolo de autoridade da tribo. Eis que começam as grandes cenas e se acaba com qualquer preocupação com um enredo consistente. Agora tudo o que veremos serão estouros de mamutes, saques de tribos, avestruzes gigantes comedores de gente, tigres dentes-de-sabre e o primeiro grande império do mundo, que, é claro, precisa ser derrubado.

Roland Emmerich, diretor do filme, tem dois grandes problemas que são pontuais em toda a sua filmografia: Ele não confia na inteligência do seu público, usa saídas simplórias para as situações de tensão que acontecem na história. Provavelmente o segundo problema seja decorrente do primeiro. Afinal, se o espectador é burro, não perceberá as resoluções absurdas dos problemas. Para exemplificar essa prática não há caso mais notório que o de Independence Day. Vírus de computador! Vírus de computador é o escambau!

Infelizmente essas práticas tem vez, e como tem vez, neste seu mais novo trabalho. Começando com um narrador que se dispõe a dizer o óbvio a todo instante. A cena em que Mãe-Velha (Mona Hammond) abençoa os homens que vão partir em busca dos companheiros aprisionados cuspindo neles acompanhada pelo irritante narrador é o fim da picada. Como se alguém fosse incapaz entender o significado da cena sem que houvesse explicação. Mas isso ainda é pouco, o pior é o fato de todos os conflitos serem resolvidos pelo cumprimento de profecias. Alias este é um filme místico, não apenas as pessoas crêem em profecias e shamãs, como essas se realizam e esses tem poderes reais. O que por si não seria um problema não fosse o cumprimento de profecias, e eu vou repetir, ser a única solução de todos os conflitos. Ele é o escolhido, ele é aquele que fala com o dente-de-lança, ela tem a marca do guerreiro do céu, ou uma bobagem parecida.

O que o filme tem de bom além de efeitos irretocáveis e cenas de ação empolgantes? Isso é difícil dizer, na verdade a maior surpresa constatada no filme é que de fato ele se trata de um road movie e por este prisma ele acaba sendo eficiente uma vez que D'Leh chega amadurecido no final da história. Aqui ainda cabe um último comentário: Este é um filme pipoca, se você procura apenas um filme divertido que consiga te distrair por duas horas, você encontrará isto em 10.000 A.C..

domingo, 9 de março de 2008

Rambo IV

Do início dos anos 80 até meados dos 90 o subgênero de filmes de ação com ícones que se contorciam, quebravam, lutavam (artes marciais), suspendiam seus inimigos pelos pés apenas com uma mão, entre outras demonstrações de virilidade alcançou seu auge. Dentre esses não podem ser esquecidos filmes como: Comando para Matar, Exterminador do Futuro, O Grande Dragão Branco, Retroceder Nunca Render-se Jamais, Rocky, Cobra. Películas que tiveram seu tempo e espaço. Hoje é notória a decadência deste subgênero, haja visto que sua maior estrela da atualidade, o grande ator Dwayne "The Rock" Johnson (ele tem 1m93!) é praticamente desconhecido do grande público.

Os atores que se tornaram ícones desta espécie de filme hoje precisaram se redescobrir ou desaparecer: Jean-Claude Van Damme passou os últimos anos lançando filmes direto em vídeo e está para filmar sua obra-prima, sua autobiografia; Arnold Schwarzenegger com sua tarimbada interpretação robótica em O Exterminador do Futuro 3 fechou seu ciclo razoavelmente bem e hoje é governador pelo estado da Califórina. Agora o robozão é problema do Bush. Lorenzo Lamas e Dolph Lundgren sumiram e ninguém sentiu a falta deles. Por fim, Sylvester Stallone caminhava um fim semelhante até que uma temporada no reality show The Contender cativou-o a reviver seus grandes personagens. O primeiro a voltar as telas foi Rocky Balboa, que realizado num caráter mais dramático, como o primeiro filme da série, Rocky - Um Lutador, não decepcionou, para a surpresa geral. Até trouxe um pouco de dignidade para o filme original que havia sido achincalhado por seqüências ruins e comerciais, especialmente os Rocky III, IV e V. Para este ano as expectativas repousavam no retorno de John Rambo.

Na sua eterna busca pela paz interior Rambo isola-se na fronteira da Birmânia e passa a viver da caça de cobras. Infeliz e coincidentemente o país em que ele busca paz está há anos em guerra civil. Então, certo dia, sua ajuda é requisitada por missionários. Depois desse grande enredo o filme mostra para que foi feito: ser sangrento (o filme tem censura 18 anos). Na falta de história mata-se todo mundo e pronto. Como se não bastasse isso a crueldade com que são tratadas as vítimas capturadas pelos revolucionários birmaneses é ridiculamente exagerada, apesar de necessária para preencher o filme (é difícil fazer um filme de 1h33 sem história). Já a pederastia e pedofilia do Major Pa Tee Tint está totalmente fora de contexto. A interpretação de Sylvester Stallone é excelente uma vez que ele tem apenas uma meia dúzia de falas. A ambientação lembra aqueles filmes de boxe Tailandês onde o mocinho tem que proteger os animais de caçadores. O filme traz ainda o espírito do Elfo Légolas revivido por um ex-combatente sessentão.

Reviver esse tipo de filme enterrado há tantos anos é sem dúvida alguma uma temeridade que muito provavelmente rolará o precipício do fracasso. Mesmo trazer de volta personagens desta época é perigoso e deveria se evitado. Fazer ambas as coisas é um despropério. Mesmo assim, falando especificamente de Rambo IV, escrito, dirigido e atuado por Sylvester Stallone, sem roteiro, com coadjuvantes amadores e efeitos especiais de segunda categoria conseguiu ao menos livrar-se do fracasso total graças aos remanescentes fãs de John Rambo (entre os quais eu me incluo) oriundos da época das sangue-sugas e das cauterizações a base de pólvora. É claro que isso provavelmente não o livrará da premiação mas indesejada do cinema estadounidense O Framboesa de Ouro.

Trilha Sonora

Bom, não queria estrear meus comentários sobre trilhas sonoras com tão pouco mas, não há trilha de fato e mesmo os efeitos sonoros são banais para as ações. O tema principal que o acompanha desde o primeiro filme é ouvido, mas apenas em poucos trechos no início. Há também nas cenas de ação pequenas faixas orquestradas, mas de uma maneira ou de outra elas não se sintonizam com o momento do filme. A maior e "melhor" parte da trilha está nos créditos com quase 5 minutos de duração.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Classificação dos Filmes no Cine Paranóia

Como a prática de avaliar filmes com notas é amplamente difundida entre críticos amadores e profissionais o Cine Paranóia decidiu adotá-la. Contudo, parte do objetivo do blog é realizar uma crítica diferenciada de filmes, de maneira que decidiu-se adotar esta política também na maneira de se representarem as notas. O resumo da ópera, as tradicionais estrelas não seriam adotadas.

Após muita deliberação foi decidido que o melhor seria a adoção de um sistema baseado nos títulos dos filmes. Desta forma criou-se um selo que será colado junto a cada crítica com a nota alcançada por este filme. Os filmes escolhidos para representar as notas são: Melhor É Impossível, Quero Ser Grande, Encontros e Desencontros, À Espera de um Milagre e Desejo de Matar que representam respectivamente cinco, quatro, três, duas e uma estrelas.

Provisoriamente os selos adotados são os que seguem:





















terça-feira, 4 de março de 2008

Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet

Eu pretendia começar esta crítica fazendo um comentário sobre a falta de criatividade demonstrada pela indústria cinematográfica nos últimos anos, mas pensei melhor e decidi que escreverei um artigo sobre esse tema mais adiante.

Sweeney Todd é antes de mais nada um musical. Assim, se você não gosta deste tipo de filme, se detestou Moulin Rouge, Chicago e Dreamgirls, se odeia ver pessoas cantando quando deveriam falar, não perca tempo correndo aos cinemas por causa do Johnny Depp ou por causa do Tim Burton. Você não vai gostar de Sweeney Todd. Guarde seu dinheiro para um outro lançamento qualquer.

A história conta como seu personagem-título (Johnny Depp) foi injustamente condenado pelo libidinoso Juiz Turpin ( Alan Rickman ), que nutria interesse por sua esposa, perdendo sua familia até seu retorno e a arquitetação do seu plano de vingança, transformar seus inimigos, e quem mais lhe aprouver, em torta. No que é auxiliado pela viúva Lovett (Helena Bonham Carter), quituteira falida que se apaixona por Todd. Tudo, é claro, acontece na sombria Londres do final do século XIX.

Aprecio imensamente um bom e saudável humor negro, portanto, gosto de Tim Burton, como gosto de poucos diretores. Podem chamá-lo de irregular, comercial ou do que quiserem. Ele faz filmes que me agradam de Edward Mãos de Tesoura até este Sweeney Todd, sou constantemente grato pelo trabalho de Tim Burton. Claro que não fecho os olhos para seus filmes questionáveis, como Batman I e II, A Fantástica Fábrica de Brinquedos, O Planeta dos Macacos ( apenas a nova versão é dele ), mas normalmente eles não estão ligados ao humor do diretor. Tudo bem A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça é uma exceção a regra. O que importa é que aqui Tim Burton nos agracia com uma história que caiu como uma luva em sua mão ampliando sua já rica coleção de histórias da catacumba.

O filme agrada especialmente pela maravilhosamente sombria e repugnante Londres, onde todos os personagens são figuras pálidas que parecem ter suas roupas cobertas por uma camada de fuligem. O único personagem que não se apresenta assim é o barbeiro "italiano" Pirelli ( Sacha Baron Cohen - Borat ).E isto torna as faces pálidas e as roupas escuras e sujas dos personagens uma característica tipicamente londrina. Além disso o sonho de viver na praia revelado por Lovett, agrada sobremaneira por nos permitir sair daquela atmosfera de tons pastéis onde a única coisa que parece viva é o abundante sangue das vítimas de Todd, para entrarmos numa nova temática claramente onírica onde o ponto de desajuste é justamente Todd.

As letras das músicas, especialmente na primeira metade da narrativa são engraças e ricas, mas é preciso dizer: Johnny Depp tem sorte de ser um excelente ator, uma vez que se esforçando muito conseguiu no máximo ser sofrível como cantor. E justo no aspecto musical o filme decepciona, não apenas por causa do Johnny Depp, mas por certas canções repetirem-se incansavelmente. Ouvi "I feel you, Johanna" tantas vezes que quase fiquei enjoado, na verdade, imaginava que a qualquer momento Anthony Hope (Jamie Campbell Bower) seria atropelado por uma charrete dando um fim justo ao personagem. Já a coreografia do filme é corretamente ajustada aos personagens e ocorre como uma forma particular de diálogo. O que é completamente diferente do que acontece com Chicago onde os personagens parecem arrancados da realidade para cantar e dançar suas canções.

Já a trama secundária protagonizada pelo marinheiro Anthony Hope e por Johanna (Jayne Wisener), filha de Todd, é completamente inexpressiva e vazia. Só não se pode classificá-la como desnecessária por ser extremamente importante para o desfecho e para que entendamos o próprio Todd no clímax de sua demência. Contudo, claramente Tim Burton esteve tão ligado a trama principal que deixou o inexperiente e necessitado casal da trama secundária por sua própria conta. O resultado é atuações vexaminosas e, mais uma vez, inexpressivas, que me fizeram torcer pelo pior.

Considero Jonny Depp o melhor ator de sua geração e, como sempre, ele não decepciona. Sua atuação segura a narrativa nos momentos em que ela não parece suportar-se. Nos sonhos de Lovett ele é todo o humor da cena e seu prazer e classe ao degolar suas vitimas impressionam especialmente quando contrastam com o momento em que ele finalmente tem o Juiz Turpin sob sua navalha, Todd revela a selvageria e descontrole causados por sua fúria justiceira. Infelizmente para Alan Rickman seu velho personagem Professor Snape parece estar por traz de cada palavra do Juiz Turpin, o que acaba enfraquecendo sua performance.

A trama bem construída e corretamente balizada pelas décadas de Broadway é aproveitada de forma exemplar neste filme que, sim, peca pelo final moralista e uma subtrama mal desenvolvida, mas se revigora pela excelente direção de arte e pela performance de Depp. Talvez o que falte hoje nas adaptações de musicais para o cinema seja torná-los mais filmes e menos musicais, quebrando de forma definitiva com o ritmo teatral que vem engessando este tipo de película.