terça-feira, 4 de março de 2008

Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet

Eu pretendia começar esta crítica fazendo um comentário sobre a falta de criatividade demonstrada pela indústria cinematográfica nos últimos anos, mas pensei melhor e decidi que escreverei um artigo sobre esse tema mais adiante.

Sweeney Todd é antes de mais nada um musical. Assim, se você não gosta deste tipo de filme, se detestou Moulin Rouge, Chicago e Dreamgirls, se odeia ver pessoas cantando quando deveriam falar, não perca tempo correndo aos cinemas por causa do Johnny Depp ou por causa do Tim Burton. Você não vai gostar de Sweeney Todd. Guarde seu dinheiro para um outro lançamento qualquer.

A história conta como seu personagem-título (Johnny Depp) foi injustamente condenado pelo libidinoso Juiz Turpin ( Alan Rickman ), que nutria interesse por sua esposa, perdendo sua familia até seu retorno e a arquitetação do seu plano de vingança, transformar seus inimigos, e quem mais lhe aprouver, em torta. No que é auxiliado pela viúva Lovett (Helena Bonham Carter), quituteira falida que se apaixona por Todd. Tudo, é claro, acontece na sombria Londres do final do século XIX.

Aprecio imensamente um bom e saudável humor negro, portanto, gosto de Tim Burton, como gosto de poucos diretores. Podem chamá-lo de irregular, comercial ou do que quiserem. Ele faz filmes que me agradam de Edward Mãos de Tesoura até este Sweeney Todd, sou constantemente grato pelo trabalho de Tim Burton. Claro que não fecho os olhos para seus filmes questionáveis, como Batman I e II, A Fantástica Fábrica de Brinquedos, O Planeta dos Macacos ( apenas a nova versão é dele ), mas normalmente eles não estão ligados ao humor do diretor. Tudo bem A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça é uma exceção a regra. O que importa é que aqui Tim Burton nos agracia com uma história que caiu como uma luva em sua mão ampliando sua já rica coleção de histórias da catacumba.

O filme agrada especialmente pela maravilhosamente sombria e repugnante Londres, onde todos os personagens são figuras pálidas que parecem ter suas roupas cobertas por uma camada de fuligem. O único personagem que não se apresenta assim é o barbeiro "italiano" Pirelli ( Sacha Baron Cohen - Borat ).E isto torna as faces pálidas e as roupas escuras e sujas dos personagens uma característica tipicamente londrina. Além disso o sonho de viver na praia revelado por Lovett, agrada sobremaneira por nos permitir sair daquela atmosfera de tons pastéis onde a única coisa que parece viva é o abundante sangue das vítimas de Todd, para entrarmos numa nova temática claramente onírica onde o ponto de desajuste é justamente Todd.

As letras das músicas, especialmente na primeira metade da narrativa são engraças e ricas, mas é preciso dizer: Johnny Depp tem sorte de ser um excelente ator, uma vez que se esforçando muito conseguiu no máximo ser sofrível como cantor. E justo no aspecto musical o filme decepciona, não apenas por causa do Johnny Depp, mas por certas canções repetirem-se incansavelmente. Ouvi "I feel you, Johanna" tantas vezes que quase fiquei enjoado, na verdade, imaginava que a qualquer momento Anthony Hope (Jamie Campbell Bower) seria atropelado por uma charrete dando um fim justo ao personagem. Já a coreografia do filme é corretamente ajustada aos personagens e ocorre como uma forma particular de diálogo. O que é completamente diferente do que acontece com Chicago onde os personagens parecem arrancados da realidade para cantar e dançar suas canções.

Já a trama secundária protagonizada pelo marinheiro Anthony Hope e por Johanna (Jayne Wisener), filha de Todd, é completamente inexpressiva e vazia. Só não se pode classificá-la como desnecessária por ser extremamente importante para o desfecho e para que entendamos o próprio Todd no clímax de sua demência. Contudo, claramente Tim Burton esteve tão ligado a trama principal que deixou o inexperiente e necessitado casal da trama secundária por sua própria conta. O resultado é atuações vexaminosas e, mais uma vez, inexpressivas, que me fizeram torcer pelo pior.

Considero Jonny Depp o melhor ator de sua geração e, como sempre, ele não decepciona. Sua atuação segura a narrativa nos momentos em que ela não parece suportar-se. Nos sonhos de Lovett ele é todo o humor da cena e seu prazer e classe ao degolar suas vitimas impressionam especialmente quando contrastam com o momento em que ele finalmente tem o Juiz Turpin sob sua navalha, Todd revela a selvageria e descontrole causados por sua fúria justiceira. Infelizmente para Alan Rickman seu velho personagem Professor Snape parece estar por traz de cada palavra do Juiz Turpin, o que acaba enfraquecendo sua performance.

A trama bem construída e corretamente balizada pelas décadas de Broadway é aproveitada de forma exemplar neste filme que, sim, peca pelo final moralista e uma subtrama mal desenvolvida, mas se revigora pela excelente direção de arte e pela performance de Depp. Talvez o que falte hoje nas adaptações de musicais para o cinema seja torná-los mais filmes e menos musicais, quebrando de forma definitiva com o ritmo teatral que vem engessando este tipo de película.

3 comentários:

Rodrigo Camargo disse...

Musical nem morto pelo Sweeney Todd.

Cristiano Silva disse...

É, no máximo vou pegar em DVD mesmo...

Unknown disse...

O filme é bastante atraente, embora eu não gosto de musicais devo dizer que o filme apreciado principalmente por Jonny Deep and a excelente roteiro cujo mérito deve entregá-lo a J. Logan. Altamente recomendado.