segunda-feira, 28 de julho de 2008

Hancock


Will Smith tem o toque Midas. Além de figurar na Forbes semana passada como a celebridade que mais faturou no último ano (US$80 mi). Com Hancock, Will Smith continua com sua impressionante série de filmes com arrecadação superior a cem milhões de dólares, este é o oitavo deles. Muito mais que um bom ator, o que já foi considerado tremendamente improvável, o protagonista de Um Maluco no Pedaço tem mostrado que escolhe seus projetos a dedo e que não quer ser estereotipado como ator. Assim, além das comédias que lhe ajudaram no inicio de sua carreira como MiB, MiB II, As Loucas Aventuras de James West, ele tem trabalhado em filmes de ação (Inimigo do Estado, Eu Sou a Lenda), ficção científica (Eu, Robô), dramas (Ali, A Procura da Felicidade) e até uma comédia romântica (Hitch - Conselheiro Amoroso), conseguindo bons resultados em todos esses seguimentos.

Aproveitando a onda de super-heróis que vem chegando à tela grande, Will Smith surge como, talvez, o mais original dentre esses, ele é um dos poucos que não é baseado em uma revista em quadrinhos. Também não é um cara legal, muito pelo contrário. Hancock, personagem de Will, é bêbado, mulherengo, grosseiro, ressentido e desajeitado. Agora una está alma gentil, uma inclinação natural para fazer o bem e superpoderes, o que você terá é um super-herói muito mais desprezado que querido, cujos danos ao patrimônio público são maiores que os benefícios trazidos com sua presença, a ponto de existirem diversos processos em seu nome e de ele ser normalmente tratado pela carinhosa alcunha de asshole (indesejável, em tradução liberada para menores).

As coisas andavam como sempre na vida de Hancock, algumas pessoas eram salvas, o patrimônio público tinha o prejuízo de alguns milhões de dólares, ele enchia a cara e as pessoas o xingavam ao passar. Mas, entre um desastre de trem, provocado pelo próprio super-herói, e uma avalanche de reclamações, surge um homem, recém-salvo por Hancock, com tamanha fé na humanidade, que abraça Hancock como seu projeto pessoal pelo bem do próximo. A imagem de Hancock precisa ser revigorada e é Ray Embrey (Jason Bateman), o relações públicas que trabalhará por mais esta causa perdida.

O filme segue muito bem durante a primeira hora de projeção, enquanto apresenta a ação desconcertante de seu personagem título e avança bem dentro dos esforços de Hancock para melhorar. Infelizmente, este bom começo não é corretamente aproveitada pelo roteiro que, acaba errando a mão ao dosar drama e comédia no filme, e, como resultado, temos um filme que deixa a desejar. Sem falar que, insistir em contar a origem do personagem e fazê-la central ao desfecho da história denegriu imensamente seu último ato.

Ainda rezam contra o filme algumas infelizes gags cômicas, que, muitas vezes, poderiam funcionar, mas graças a falta de tato do diretor Peter Berg, que parece não saber sugerir, acabam bobas e grosseiras.

Por fim, Hancock é mesmo carregado no ombros por seu verdadeiro super-herói: Will Smith, que aperfeiçoando-se como ator a cada filme, soube trabalhar perfeitamente com o seu personagem, conferindo-lhe uma incrível presença em tela. E levando o personagem do drama ao humor quando exigido pelo roteiro. Algumas de suas falas ainda ecoam engraçadas em nossas mentes mesmo muito tempo após o fim da projeção. Jason Bateman e Charlize Theron atuam bem com o pouco que tem em mãos e ajudam Will Smith a segurar esta claudicante película.

Sem duvida, como acontecem com a maioria dos blockbusters, uma infinidade de pessoas adorará o filme, que, apesar de tudo, traz um interessante personagem que, se não fosse completa e ridiculamente resolvido neste primeiro filme, poderia gerar uma ótima seqüência. Dá para conferir nos cinemas? Bem, se você já viu Batman e Wall°e chegou a hora de conferir Hancock.

ps.: Leia este pos scriptum apenas se você já assistiu ao filme. Quando saí do cinema, eu tinha a impressão que John Hancock significava o mesmo que John Doe (João Ninguém). Outros amigos, que também assistiram ao filme e sabem inglês melhor do que eu, tiveram a mesma impressão. Felizmente, fiquei com a pulga atrás da orelha e após alguma pesquisa descobri que John Hancock é o mesmo que assinatura em inglês. Também descobri o porquê disso, mas deixo para o leitor mais curioso descobrir por si mesmo.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Batman - O Cavaleiro das Trevas


Eu gosto de quadrinhos, mesmo que não seja grande fã, tento ler tudo o que me cai nas mãos. Contudo, a atitude recente das produtoras de levarem ao cinema tudo o que é escrito nesta mídia, só me levou recrudescer minha crítica diante desses filmes. Não, não é preconceito, o problema é que agora, estes filmes dominam o cenário cinematográfico ao lado dos remakes e adaptações de séries antigas. Só este ano foram Persépolis, Homem de Ferro, Hulk, Hancock [1], Batman e Wanted, sendo que este último ainda está por estrear em terras tupiniquins. Assim, entre tantas adaptações, pouquíssimas coisas realmente novas chegam a esta que é a mais conservadora das formas de arte.

Por favor, não me julguem mal. Assisti a todos os filmes que comentei acima com exceção de Wanted e todos são bons filmes. Então, qual a razão da crítica acima? Quando escrevo sobre os filmes que assisti, eu me coloco no papel de crítico. Como crítico, meu secreto prazer é espezinhar, espinafrar mesmo, aos filmes que assisto. Infelizmente, isso não poderá ser feito com este Batman. Eu tinha de descontar minha frustração em alguma coisa. Quanto ao Batman, não há duvidas, finalmente deram um tratamento digno para o personagem baseado em quadrinhos mais achincalhado da história do cinema ao lado do Justiceiro.

Antes de mais nada é necessário fazer um comentário sobre a atuação de Heath Ledger como o Coringa. Este é o melhor papel que Heath Ledger já realizou. Infelizmente, sua prematura morte colocará em cheque a própria trajetória do personagem nos cinemas de agora em diante. Esqueça a performance de Jack Nicholson, não há como comparar, este Coringa é outro personagem. Ele não procura divertir aos outros mas a si mesmo. Quando conta piadas, essas são de matar; quando propões jogos, esses são mortais. Assim, não vemos lacaios rindo das piadas do Coringa e o próprio Alfred traz mais alivio cômico ao filme que ele. O Coringa é perigoso e psicótico. Um personagem instável que é representado com perfeição. A cena onde ele explica seu plano a máfia de Gotham evidência seu carater perturbador, a maneira como ele parece pensar naquele instante o que vai dizer, como alguém que fora preso de surpresa é ótima.

Batman - O Cavaleiro das Trevas é um filme de ação com um verdadeiro tripé que o sustenta: ação, história e personagens. Os três agem de forma orgânica, numa simbiose difícil de se ver em filmes deste e de qualquer outro gênero. Grande parte do mérito disto tem de ser dado ao seu diretor Christopher Nolan, cujo trabalho acompanho desde Amnésia. Além de escrever a história do filme junto com seu irmão (o que é uma parceria habitual). Christopher optou por evitar o uso de efeitos de computação gráfica. O que trouxe muito mais plausabilidade ao filme. Quanto ao seu trabalho com os personagens, é evidente que ele é um excelente diretor de atores (sim, isso existe) e provavelmente um bom gerenciador de conflitos. De outra maneira não haveria como trabalhar com tantos astros em um filme tão grande sem meter os pés pelas mãos.

Batman é um homem curvado sob o peso de suas escolhas. Seja ao se deparar com homens que se disfarçam de Batman e se intrometem em suas ações; seja ao perceber que sua aparição trouxe um novo tipo de criminoso as ruas. A duvida da validade de sua existência reverbera em seus ouvidos. O que faz com que ele se agarre a esperança de que Harvey Dent pode ser o cavaleiro branco que guiará Gotham em direção a luz e o libertará definitivamente de sua mascara. Apoiada nesta esperança a história se desenvolve. Harvey Dent (Aaron Eckhart) parece realmente merecer a confiança que lhe é depositada, aparecendo sorridente, corajoso e centrado, o cavaleiro branco de Gotham, o herói sem mascara. Assim fechamos nosso trio principal: Harvey Dent, o Cavaleiro Branco; Coringa, o Agente do Caos; Batman, o Cavaleiro das Trevas.

As cenas de luta mostram muito das características dos personagens. Se Batman parece meio engessado por causa do traje; o Espantalho não vê porque lutar e foge; enquanto o Coringa usa tudo o que estiver ao seu alcance para obter alguma vantagem; já o Duas-caras vai direto ao ponto, como um arauto da justiça. Espantalho? Duas-caras? O vilão não é o Coringa? Sim, é claro, mas o filme se reserva várias surpresas as quais prefiro não estragar.

Bom do começo ao fim, Batman - O Cavaleiro das Trevas transpassa o caráter de mero blockbuster e se torna um verdadeiro estudo de personagens ao assinalar o contraponto entre Batman e Coringa, duas faces de uma mesma moeda. Explora-se a alma de Batman, cutuca-lhe as feridas e eis que o Coringa surge no trecho mais sombrio de cada beco. Isso sem falar de toda a experimentação feita pelo Coringa nos habitantes de Gotham City.

Contando ainda com um excelente elenco secundário que só é enfraquecido pela pifia presença de Maggie Gyllenhaal como Rachel Dawes. Na outra ponta há o Michael Caine com seu papel reforçado e ampliado, ajuda, encoraja e crê. Chegando mesmo a armar com Bruce Wayne a estratégia de uma das ações do Batman. Não fosse o bastante, ele traz a maioria do alivio cômico do filme. Morgan Freeman também trabalha bem, mas nada que mereça uma nota especial ante a tão boas interpretações.

Falar em iluminação, montagem, música e som seria apenas chover no molhado. Excepcional é uma palavra que vem bem a calhar agora, tudo em Batman - O Cavaleiro das Trevas é excepcionalmente bem feito. Claro que muitos fãs falarão disto ou daquilo, mas eu te aconselho, faça-lhes ouvidos mocos. Fãs não são racionais de forma que suas opiniões não podem ser verificadas logicamente. Mesmo assim, estou absolutamente certo que este filme irá agradar aos fãs de maneira geral.

Antes de escrever excepcional no parágrafo acima eu havia escrito irretocável, mas eu não poderia ser tão condescendente e, para terminar esta crítica, terei de lançar mão de duas pequenas reprimendas: 1ª Entortar o cano da arma de um dos bandidos com uma das mãos foi ridículo; 2ª o movimento que a bat-moto faz quando alcança uma parede foi absurdo.

Para terminar, prestem especial atenção aos diálogos Coringa/Batman e Coringa/Harvey Dent só eles já valem o ingresso. Agora, se como eu disse no começo deste texto eu recrudesci minha crítica aos filmes de quadrinho e, ainda assim, me esparramei de elogios a este filme, o que você está esperando? Corra ao cinema enquanto ainda é tempo. Saia da frente deste computador e compre o seu ingresso.

[1] Apesar de Hancock não ser baseado em um quadrinho ele é obviamente um sub-produto deste.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Metrópolis



Ficha Técnica
- Título Original...: Metropolis
- Ano de Lançamento.: 1926
- Diretor...........: Fritz Lang
- Roterista.........: Thea von Harbou
- Gênero............: Ficção Científica
- Duração...........: 2h04

Elenco Principal

- Alfred Abel..........: Joh Fredersen
- Gustav Fröhlich......: Freder
- Rudolf Klein-Rogge...: C. A. Rotwang
- Fritz Rasp...........: The Thin Man
- Theodor Loos.........: Josaphat
- Erwin Biswanger......: 11811
- Heinrich George......: Grot
- Brigitte Helm........: Maria

Ser considerado predecessor dos filmes de ficção científica é provavelmente título insuficiente para expressar a importância desta obra de Fritz Lang. Ficção científica, crítica social, alegoria bíblica, tragédia shakesperiana, tudo isto é Metrópolis. O projeto foi desenvolvido para enfrentar de peito aberto o já poderoso cinema holywoodiano. Seu resultado foi tão impressionante que levou o próprio Hitler a convidar Fritz Lang para ser um fomentador do cinema nazista. Felizmente, Fritz Lang era fiel ao lema de seu filme, "The mediator between head and hands must be the heart"[1], e tratou de zarpar para os Estados Unidos.

Em um futuro onde a distância entre ricos e pobres chegou a níveis tão extremos que estes últimos passaram a viver e trabalhar em cidades subterrâneas, uma jovem profetizada chamada Maria anuncia aos operários a vinda daquele que mediará as relações entre operários e senhores (foi difícil encontrar outro epíteto para a classe privilegiada da história). Acreditando que a presença de Maria era nociva aos operários e sem saber que o mediador anunciado seria seu único filho, Joh Fredersen, governante de Metrópolis, acaba convencido por Rotwang, inventor com quem possui estranha relação, a substituir a jovem Maria por sua última invenção, um andróide capaz de imitar qualquer um com perfeição.

Após substituir Maria o andróide começa sua dupla missão, fomentar a intolerância e ódio entre os operários ante a classe dominante e levar a já frívola classe dominante a orgias e a um prenúncio de fim-do-mundo. De fato, Rotwang queria que seu andróide destruísse a sociedade e para impedí-lo Freder e Fredersen lutam, cada qual a sua maneira, cada um movido por seus próprios sentimentos e convicções. Aqui é importante notar que a visão de Freder sobre o que está acontecendo é apenas parcial e, ainda que ele tente se colocar na posição de mediador, ele parece muito mais preocupado com o destino de Maria.

Metrópolis é, em essência, uma ferrenha crítica social. Todavia ele é ambientado numa sociedade futurista e isso lhe galgou a posição de primeiro filme de ficção científica. Pensando em Metrópolis como ficção científica, é notável o design dos prédios e arranha-céus que servem de background para o filme. Aqui vale lembrar que Fritz Lang era arquiteto e poucos anos antes fizera uma viagem a New York e ali se maravilhara com os edificios. Apesar do andróide (o mais correto seria dizer ginóide) de Metrópolis não extrapolar o conceito sobre o qual um robô é feito, servir o homem, ao conferir à sua criação a tarefa de enganar as pessoas, Rotwang acaba iludindo a si mesmo e se vendo incapaz de distinguir o andróide de Maria. Esta cegueira de Rotwang daria abertura para o andróide intervir sem diretriz na sociedade em que está inserido. Infelizmente esta possibilidade acaba não sendo explorada o que diminui o alcance do filme como do gênero de ficção científica.

Rico em símbolos cristãos, não seria exagero dizer que Metrópolis é uma alegoria cristã, mais precisamente uma alegoria apocalíptica. O reino de paz, Deus, o adversário, Cristo, a grande prostituta, todos esses elementos estão presentes e ainda são adornados pela iconografia cristã, e vem jardim do Éden, nova torre de Babel, entre outras. Apenas para deixar clara a alegoria para aqueles que conhecem pouco a Bíblia vou explicar alguns dos papéis alegóricos. Freder seria Cristo. Além de se profetizar sobre ele e seu papel como mediador, ele é o único que age sobre os dois mundos, ele traz esperança a Josaphat impedindo-o de ir trabalhar no mundo subterrâneo e perdoa 11811. Não bastasse tudo isso, Freder salva as criancinhas. Rotwang é o adversário. Ele engana o governo humano prometendo paz para trazer à baila o Anticristo, o andróide, a quem ainda cabe a função de Grande Prostituta. Como Anticristo o andróide lidera os operários causando destruição e caos, como a Grande Prostituta ele perverte a sociedade trazendo imoralidade. Fredersen representa o governo humano, que acredita no Anticristo como solução pacificadora para a crise que se apresenta.

Shakesperiano porque a epopéia vivida por Freder com seu pai que o ama e desconfia dele, o amor compartilhado de Fredersen com seu inimigo pela esposa morta do primeiro, a visão parcial dos personagens e seu desejo de seguir adiante, os desencontros de Freder e Maria, o amigo fiel de Freder e a traição e arrependimento de 11811. Todos elementos Shakesperianos, a grandiloqüência do cinema mudo.

A crítica social é de importância ímpar para a correta compreensão do filme. E aqui claro e cristalino está o fato de que Metrópolis não apenas antecedeu Tempos Modernos em dez anos, como o influenciou profundamente. A simbiose entre homem e máquina, pares em um ballet de dezenas de dançarinos, é só a ponta desta enciclopédica galeria de imagens. A desumanização é tão intensa neste filme que após uma explosão os homens são substituídos como se fossem peças de manutenção. As crianças que tudo vêem e nada entendem são o reflexo perfeito de uma sociedade dominada pelo sistema, da mesma forma que o seriam na República de Platão e na Utopia de Thomas More (Morus).

É interessante notar que o mundo conhece apenas uma versão fragmentada deste grande clássico, uma vez que a obra de Fritz Lang foi picotada pelos produtores que a achavam muito longa e difícil. Com isso cerca de meia hora do filme foi considerada perdida por décadas. Felizmente, há poucas semanas atrás foi comprovada que uma cópia do filme encontrada na Argentina contém o original do filme que agora está sendo trabalhado pelo instituto que detém os direitos da obra de Fritz.

[1] O mediador entre a cabeça e as mãos precisa ser o coração (em tradução livre)

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Comentando Clássicos

Depois que comecei com este blog eu senti uma necessidade premente de aprofundar meu conhecimento cinematográfico e, para isso, entre outras coisas, decidi assistir grandes clássicos do cinema mundial. Claro que minha primeira preocupação para iniciar esta tarefa era com o que assistir. Eu precisava de um rol para atirar-me ao garimpo destes filmes. Eu precisava que este rol fosse feito por alguém gabaritado. Após pouco tempo de buscas encontrei um especial da revista Bravo com os cem "melhores" filmes da história. Conseguira minha lista, agora era partir ao garimpo.

Minha idéia inicial era assistir a esses filmes apenas para acumular conhecimento e afiar minha sensibilidade cinematográfica, não pretendia blogar sobre eles. Mas ontem à noite, após assistir Metrópolis (o que só consegui fazer graças ao meu amigo Cristiano que gentilmente me emprestou sua cópia do filme), achei que valeria a pena falar da minha experiência com esses filmes que venho assistindo. Não vou criticá-los, até porque isso não teria o menor sentido. Pretendo apenas comentar sobre os filmes e, quando possível, passar alguma informação que acrescente interesse ao filme.

Ontem assisti o Metrópolis e na semana passada assisti novamente o Blade Runner director's cut. Assim, esperem para os próximos dias os comentários destes dois filmes.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

WALL·E


Estupendo! Não consigo pensar em outra forma de iniciar esta crítica senão com esta louvação. Estupendo! WALL·E é tudo o que a Pixar prometeu e ainda mais. O filme será lembrado por gerações e daqui a 25 anos estaremos comprando edições especiais de aniversário deste que é o melhor filme já realizado pela Pixar e que completa o panteão do estúdio ombreado por Monstros S.A. e Os Incríveis.

O filme conta a história de como os humanos abandonaram a Terra após a vida aqui se tornar insustentável por causa da poluição e deixaram para trás um exército de operários robôs encarregados de fazer a faxina enquanto a humanidade permanece em um cruzeiro estrelar aguardando que a limpeza do planeta termine. Por misterioso e inacreditável que possa parecer fomos mais competentes em sujar a Terra do que dimensionamos e o programa desenvolvido foi incapaz de terminar sua tarefa. Setecentos anos após a evasão humana um único robo continua operacional e é sobre a sua perspectiva que vemos no que nos tornaremos.

WALL·E é uma reunião de estilos e homenagens que coordenados com precisão deu origem a esta obra fenomenal. WALL·E é a um tempo comédia romântica, ficção científica e infantil. É influenciado por Chaplin e Kubrick. E de quebra homenageia E.T., repare em como o personagem WALL·E lembra o personagem do filme de Steven Spielberg, além de ambos terem as personalidades mais cativantes da história dos personagens inumanos do cinema.

Repleto de cenas memoráveis WALL·E encanta pela exuberância e força de suas imagens desde a Terra inabitável até a Axiom, a nave cruzeiro, todas as imagens têm uma força insuspeita e se muitos temiam que a falta de diálogos prejudicasse o filme tenho de dizer que só o fizeram melhor. A natureza do WALL·E é realçada através da ausência destes diálogos que o tornam uma verdade versão robótica de Carlitos.

A questão levantada anteriormente em Os Incríveis e Ratatouille é mais uma vez esboçada em WALL·E. Ser especial é uma questão de escolha e neste filme isso é representado através do contato do pequeno WALL·E com os demais personagens humanos e robóticos do filme e suas mudanças de comportamento. De certa forma WALL·E é a fada madrinha que com sua varinha de condão transforma a vida das pessoas. Assim, quando um robozinho da nave que avança pela sua linha-guia se depara com uma trilha de sujeira feita por WALL·E pára e por um instante hesita entre a linha-guia que aqui representa o ordinário, o comum, o conhecido e a trilha de sujeira antes de seguir a trilha de sujeira, aquilo faz todo o sentido e acaba nos colocando em cheque com nossas próprias vidas. O engraçado é que tudo isso está relacionado com o conceito de homem funcional com que me debati na semana passada, mas como o tema deste blog é cinema e não pseudo-filosofia, deixe-me continuar falando do WALL·E.

Claro que o filme sofre com as dificuldades de suas referências mais próximas o cinema mudo e a ficção científica. A dificuldade com o cinema mudo é que é muito difícil, especialmente para as crianças, acompanhar o filme muito tempo sem diálogos o que acaba causando alguma dispersão, já a ficção científica arrasta consigo uma marca até hoje indelével, o filme precisa apresentar o cenário em que a história é contada o que torna o filme um pouco lento especialmente no começo, isso é especialmente nocivo aos filmes de animação já que eles ainda possuem a barreira das duas horas ( vc já viu uma animação com mais de duas horas?), o que faz com que tudo tenha de ser resolvido as pressas no final do filme. Sim, isso prejudico o WALL·E, mas nada que consiga tirar o brilho desta estupenda animação.

Para crianças de dois a noventa anos, WALL·E está esperando por você, corra e apaixone-se.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Kung Fu Panda

Semana passada assisti ao Incrível Hulk e noticiei a amigos que iria finalmente atualizar o blog com a crítica deste filme. Chegou o final de semana e, apesar de descrente, fui ao cinema assistir Agente 86. Na saída do cinema eu já estava preocupado. Tinha de blogar sobre dois filmes. Agente 86 merecia certa consideração de minha parte e eu não poderia ignorá-lo. Mas nada havia me preparado para aquilo, eu apreciava os cartazes enquanto Dna. Patroa aturava a fila do banheiro feminino, quando li, em letras pequenas sobre o cartaz do Kung Fu Panda, o anúncio de uma sessão de pré-estréia para o filme. O inacreditável é que o filme só fará sua estréia no dia 4 de Julho. Resultado: No dia seguinte eu estava novamente as portas do cinema e as críticas do Incrível Hulk e do Agente 86 vão aguardar mais alguns dias para serem postadas.

Desde muito tempo desconfiava que Kung Fu Panda poderia não ser um bom filme. A estratégia de marketing usada para divulgá-lo mostrava muito pouco do seu material o que normalmente significa que o filme não tem material. Felizmente, como aconteceu também com Happy Feet, outro filme de animação que vale a pena ser visto, eu estava retumbantemente enganado. Kung Fu Panda é ótimo. Adultos e crianças riem durante toda a projeção.

Kung Fu Panda conta a história de um grupo de grandes mestres de Kung Fu que após a revelação de que o lendário Dragão Guerreiro é Po, um panda que trabalha com seu pai, um budista-hinduísta-xintoísta-confuso pato cozinheiro que acredita que todos vieram da sopa, como assistente de cozinha, precisam treiná-lo para que ele cumpra seu destino, derrotar Tai Lung e trazer paz ao Vale da Paz.

Iniciando com uma longa e excelente seqüência em 2D o filme mostra logo para que veio, divertir. O filme não tem a mesma qualidade gráfica e estética das animações da Pixar, que ainda são inigualáveis, mesmo assim possui um excelente trabalho gráfico, bastante superior aos filmes antecedentes da PDA, divisão de animação da DreamWorks responsável pelas franquias Shrek, Madagascar. De maneira geral as cenas são pouco poluídas e algumas "locações" são artisticamente belas.

O tempo de comédia do filme é muito bom, tanto que não me recordo de nenhuma tentativa fracassada de provocar risadas no espectador. Seja com tiradas verbais, seja com o humor físico, Kung Fu Panda sempre acerta. Conseguindo tirar boas risadas mesmo das seqüências de luta, algumas bem longas.

Como um grande e profissional estúdio que é a DreamWorks planeja e desenvolve o filme com o público alvo sempre em mente. Neste caso, seu público são as crianças. Então, não espere muita verossimilhança, nem uma história complexa repleta de reviravoltas. O enredo é manjado e até certo ponto clichê, tanto que me fez lembrar de uma boa meia dúzia de outros filmes. Contudo não deixa de divertir os adultos.

Quanto a preocupação que tenho visto por parte de alguma pessoas, Kung Fu Panda não é um filme para meninos. Minha filha de seis e uma sobrinha de doze anos me acompanharam ao cinema e já fui obrigado a prometer a minha filha que comprarei o DVD do filme tão logo quanto ele esteja disponível.

Aconselho a todos que não precisam levar crianças pequenas ao cinema e planejam assistir ao filme que procurem a versão legendada que está com um ótimo elenco de dubladores que inclui: Jack Black, Dustin Hoffman, Angelina Jolie, Jackie Chan, Lucy Liu, entre outros.

Kung Fu Panda pode não ser um exemplo perfeito de filme para toda a familia, mas, sem duvida, é diversão garantida para todos aqueles que procuram uma excelente comédia.

terça-feira, 20 de maio de 2008

De Volta ao Trabalho

Aparentemente cometi um grande erro ao sair de férias, deveria ter avisado que estaria sem postar por um período de tempo. Como não o fiz, o resultado foi o quase completo debandagem por parte dos leitores deste blog. Agora, com o fim das minhas férias voltarei a postar e devo começar com o novo Indiana Jones que planejo assistir na quarta-feira agora.

Durante minhas férias fui bastante ao cinema, só não pretendo efetuar postagens sobre os filmes que vi. Mas, para não passar em branco, vou colocar neste espaço as notas de dois dos blockbusters deste ano.

Homem de Ferro ganhou um Quero Ser Grande, o Marvel Studios provou que tem maturidade o bastante para tocar seus filmes de forma independente, parabéns para os caras que apostaram em Jon Favreau, que tem pouquíssimos trabalhos como diretor, e o cara trabalhou direito.

Muitos não estão acreditando em mim, mas é pura verdade, a grande surpresa que tive durante as férias foi com Speed Racer. Os irmãos Wachowski acertaram a mão como eles não acertavam desde o primeiro Matrix. Digo mais, a fotografia e montagem é tão espetacular que me arrisco em dizer que Speed Racer é mais inovador que Matrix. Assim, Melhor é Impossível com louvor para os irmãos Wachowski e seu Speed Racer.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Quebrando a Banca

Muitas pessoas sentem comichão por assistir filmes baseados em fatos reais. Para elas qualquer história banal ganha renovado interesse quando a informação de que algo do filme já aconteceu está impressa no cartaz à entrada do cinema. O que provoca tanto interesse? Em algumas a vontade de se meter na vida alheia, em outras um interesse genuíno pela excentricidade do mundo. Qualquer que seja a razão, no final do filme, essas pessoas (e as outras também) gostam de expecular sobre o que é e o que não é real na história que acabam de assistir (conheci uma mulher que tinha certeza que o Jack do Titanic existira). O que as pessoas não sabem é que o termo "baseado" deveria ser substituído por "inspirado" na grande maioria dos filmes, uma vez que da história original, normalmente, não subsistem mais que o plot (jargão técnico que significa aquilo que move a história) e duas ou três cenas. Exato o que acontece com Quebrando a Banca.

Alunos do MIT (Massachusetts Institute of Technology) desenvolvem um método para contar cartas no blackjack (popular jogo de cartas) sem serem identificados e passam os finais de semana apostando alto em Las Vegas. A verossimilhança com os fatos terminam por aí, a sinopse do filme não. Hollywood tem sua própria fórmula para filmes e quando os fatos não se encaixam nesta fórmula elementos podem ser alterados e introduzidos. Recordes, interesse amoroso, tutor todos esses são elementos incorporados para tornar a obra mais "cinematográfica". Por fim, a história do filme fica mais ou menos assim:

Ben Campbell (Jim Sturgess),um jovem genial que sonha cursar medicina em Havard e não tem dinheiro para pagar a faculdade, é recrutado por um de seus professores para participar de um grupo de contadores de cartas que consegue lucrar alto em Las Vegas. A principio Ben recusa. Jill Taylor (Kate Bosworth), seu interesse amoroso que coincidentemente faz parte do grupo, insiste e ele acaba aceitando. Seu grande sucesso lhe causa problemas com outro jogador e esses problemas o levarão a história ao seu desfecho.

Quebrando a Banca é um filme que não impressiona. Ao invés de aproveitar a oportunidade de ter um grupo de gênios dispostos a desobedecer regras e, com isso, criar uma história interessante, fragmentaria e inteligente, o filme adotou a esquemática clássica holywoodiana que expurgou todo um possível melhor conteúdo em favor de uma trama previsível e clichê. Não há surpresas, bons personagens, nem lances inteligentes. As pouco mais de duas horas passam quase como um filme adolescente, sem a graça e jovialidade dos bons filmes adolescentes como Superbad - é hoje (Superbad).

Talvez por isso, a notória falta de inteligência dos personagens que deveriam ser geniais passa quase despercebida. Seja o local onde Ben guarda seu dinheiro, seja o acordo que o Prof. Micky Rosa (Kevin Spacey) faz com Ben perto do final da narrativa a imbecilidade ronda os personagens. Os gênios parecem modelos e os "normais" é que são nerds, mesmo esta inversão não é aproveitada em beneficio da história.

Com dois bons atores em interpretações pobres, o elenco certamente não merece ser perdoado. Kevin Spacey surge como um professor escolado, mas falha peremptóriamente ao tentar transmitir um lado perigoso e assustador. Laurence Fishburne não passa de um troglodita que mesmo sendo capaz de contar as cartas, prefere, segundo ele mesmo, o outro lado do trabalho. Isto é, bater nos contadores. O que poderia trazer algo de interessante a trama se interrompe por aí já que o roteiro não lhe dá a chance de fazer nada além de tirar e colocar anéis.

Quando comecei a escrever esta crítica minha idéia era dar À Espera de um Milagre para este filme, agora que terminei estou tentado a pontuá-lo como meu primeiro Desejo de Matar, mas, além de ser injusto com o filme, eu receberia um MONTANHA de reclamações (não mais de duas ou três) de pessoas que adoraram o filme. Melhor não me levar pela emoção e jogar conforme as regras.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Os Indomáveis


Não existem gêneros cinematográficos mortos, por mais que um seja usado e maltratado pela indústria cinematográfica. Basta uma boa história e trabalho sério para que o aparentemente caquético gênero dê bons frutos. 2007 (no calendário estadounidense) foi o ano que devolveu à baila os westerns (faroestes), com, ao menos, três bons filmes: O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford (The Assassination of Jesse James by the coward Robert Ford), Onde os Fracos Não Tem Vez (No Country for Old Men) e o objeto de analise deste texto Os Indomáveis (3:10 To Yuma). Alguns reclamarão que Onde os Fracos Não Têm Vez não é um western. A verdade é que toda sua temática é a de um legitimo faroeste e o fato dele se passar nos dias de hoje apenas mostra a capacidade do cinema de recriar.

Os Indomáveis é o remake de um clássico dos westerns chamado Galante e Sanguinário - o título original é 3:10 To Yuma em ambas as versões - que conta a história de Ben Wade (Russell Crowe), um perigoso e famoso ladrão de diligências, que após ser preso em uma pequena cidade precisa ser escoltado a Contention onde pegará o trem dàs 3:10 para a cidade de Yuma. Um pequeno grupo é selecionado para escoltar Wade, entre eles um rancheiro falido e perneta chamado Daniel Evans (Christian Bale) que acredita que com a recompensa por este trabalho poderá manter suas terras e reconquistar algum prestigio junto a sua familia. Entre eles e Contention está o bando de Wade que tentará obstinadamente resgatar seu líder.

Conciliando sua preocupação com a história que tem que contar, com seu desejo de homenagear o gênero, o diretor James Mangold (Johnny e June) adiciona todos os elementos consagrados possíveis de faroeste a história. Assim, se é para Ben Wade ser ladrão, que seja de diligências, já que Daniel Evans é pobre, por que não ser um rancheiro endividado que teme a ferrovia que talvez venha a passar por suas terras e, ainda, ex-soldado da guerra de secessão. O que não pode ser adicionado, James Mangold quer se concentrar na história, pode ser citado. não há bebedeiras em bar! que hajá ao menos um brinde; ninguém joga pôquer! Que o garoto embaralhe cartas; não há duelos! Que alguém comente a velocidade com que Ben Wade saca; não tem dançarinas de cabaré! Que Wade esteja dormindo com uma ex ao ser preso; essas são algumas das muitas homenagens preparadas pelo diretor que ainda introduz: celeiros em chamas, índios, garotos usando armas (algo cada vez mais inaceitável no cinema estadounidense), etc.

Manejando bem os recursos técnicos disponíveis sem deixar de usá-los como um meio para um fim (ops, referência ao Quebrando a Banca), James sabe que o que ele tem para mostrar são os dois ótimos personagens da história e chamar atenção ao meio que comunica esta história pode, de alguma maneira, tirar a atenção destes personagens. Assim, fotografia, montagem e trilha podem não ser destacados por determinado momento do filme, mas acompanham dignamente seus protagonistas.

Quem diria que o circunspecto protagonista de Psicopata Americano (American Psycho), O Grande Truque (The Prestige) e Batman Begins, Christian Bale, sabe atuar. Ainda que haja uma certa predileção pelo personagem de Russel Crowe, Christian valoriza seus momentos em cena mesmo com pequenos gestos. Seja um franzir de olhos ou um movimento com a mão tudo lembra um homem selvagem preso ao seu papel na sociedade. Na outra ponta, Russel Crowe vive um homem que se orgulha em dizer que é mau feito o diabo e que prova isso inúmeras vezes durante a projeção. Detentor de um certo carisma que fascina os inocentes ao seu redor, Ben Wade passa mesmo a imagem de bom moço e como todo o cara mau feito o diabo sabe usar isso em seu beneficio.

O filme, é claro, tem seus tropeços. Neste filme, eles estão exatamente em seus personagens principais e, lamentavelmente, poderiam ser evitados com imensa facilidade. Como já foi dito Daniel Evans é perneta o que faz as peripécias realizadas por ele no terceiro ato soarem inverossímeis, demorei mesmo a associar a dor que ele sente com uma queda ao fato de ele não ter uma perna. Já a Ben Wade é atribuída uma religiosidade artificial, ele cita passagens bíblicas e tem crucifixos incrustados nas coronhas de seus revólveres, mas desdenha da oração antes do jantar.

Os Indomáveis é não apenas uma homenagem ao gênero, como um filme que merece ser assistido seja por fãs de westerns seja pelo público em geral.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

2 Dias em Paris

Não são raros os casos de atores que se aventuram na direção, muitos com bastante sucesso. Entre esses três nomes não podem deixar de ser citados: Mel Gibson (Apocalypto), ganhou o Oscar de direção por Coração Valente; Clint Eastwood (Cartas de Iwo Jima), levou o Oscar por melhor direção de 2006; George Clooney (Boa Noite e Boa Sorte), que foi indicado ao Oscar por este mesmo filme. Pois bem, 2 Dias em Paris é mais uma das aventuras de Julie Delpy na direção. A qual não alcançou o mesmo resultado dos outros atores já citados, mas tem algum mérito.

Dois Dias em Paris conta a história de um casal, ele americano ela francesa, que após passar férias em Veneza decide ficar dois dias em Paris para que Jack (Adam Goldberg) conheça os pais de Marion (Julie Delpy). Durante esses dois dias Jack sofre com a nova cultura, com os hábitos de seus sogros, além de encontrar diversos ex-namorados de Marion e descobrir sobre suas mentiras "inocentes" (não guardei a expressão que Marion usa no filme, mas este é seu significado).

O filme é uma mistura de Antes do Pôr do Sol (onde Delpy co-escreve e atua) e Encontros e Desencontros com uma boa dose de Casamento Grego. De forma que o roteiro é baseado em diálogos como o primeiro, seu mote (o termo técnico seria plot) é o problema cultural e idiomático a semelhança do segundo e a familia da noiva proporciona estranhamentos e boas piadas como em Casamento Grego. É uma pena que ele não ombreie qualquer um deles, pecando especialmente pelo excesso. Na verdade, excesso é a palavra de ordem deste filme, além das muitas idéias por serem trabalhadas, a fotografia é excessivamente rude e invasiva, com closes igualmente excessivos que mostram mesmo as marcas do tempo nos rostos dos atores. Apesar do filme se passar em Paris não há mais de dois ou três minutos de projeção que identifiquem iconicamente a cidade. Os enquadramentos, em geral, são grosseiros e óbvios buscando sempre o ponto de vista de quem está assistindo o casal. O que torna o clima tão claustrofóbico que pensei que esta poderia ser a idéia do diretor de fotografia Lubomir Bakchev, cheguei mesmo a pesquisar a filmografia dele, mas não encontrei nenhum trabalho dele que eu já houvesse assistido. O que não me impede de dizer que mesmo que tenha sido proposital foi excessivo.

Contrabalanceando a má fotografia está a excelente montagem do filme. A enfase no início da projeção onde Marion explica seu relacionamento com Jack enquanto fotos acompanham a narrativa dela com o som do trem ao fundo. A montagem se sobressai como a melhor coisa do filme se destacando em muitos outros momentos da projeção. O que acaba sendo quase que o oposto do que acontece com Antes do Pôr do Sol que tem longas tomadas sem nenhum corte. Além disso, o montador (não consegui pegar seu nome) conhecia mesmo os momentos em que devia ser discreto e apenas acompanhar a narrativa. Chega a ser incrível que um material fotográfico tão pobre tenha rendido uma montagem desta magnitude.

Julie Delpy e Adam Goldberg trabalham bem, mas são prejudicados pelo roteiro de Delpy cheio de auto-referências. Ambos são hipocondríacos. Ele sofre em algum grau de sindrome do pânico, se recusando a andar de metrô ou ônibus. Ela é uma ativista de joça nenhuma que diante de problemas universais como racismo e prostituição infantil estoura em discussão, o que estranhamente parece nunca ter acontecido antes deles chegarem a França. Ambos tem problema com sexo.

Sobre o roteiro: Ele lança diversos detalhes que sobre os personagens que enriquecem a trama, seja o motivo pelo qual Marion se torna fotógrafa, sejam as tatuagens Jack, aquele mundo é visto em detalhes. O problema é que Delpy tem algo a dizer neste filme, mas suas muitas escolhas, seus muitos assuntos e seu interesse por seus personagens não permitem que ela faça mais que esboçar seu discurso o que não deixar de ser uma pena. As piadas culturais são bons momentos que devem ser vistos com atenção.

Dois dias em Paris é um filme que agradará a gregos sem nunca chegar a agradar troianos. É com certeza um filme que alimenta a pretensão de ser cult, o tempo dirá se conseguirá tornar-se. Contra ele, o excesso.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Jumper


Ontem ouvi o comentário de que não dou boas notas a nenhum filme, na semana anterior um amigo me disse que eu não gosto de filme nenhum. Bem, os que lerem as críticas deste blog talvez concordem com isso, mas a verdade é que o período de fevereiro à abril é o que lança as produções de pior qualidade todos os anos. Os blockbusters saem entre maio e agosto e os filmes que almejam prêmios (especialmente o Oscar) são lançados entre novembro e janeiro. Estas são as expectativas de lançamento no Brasil, nos EUA os períodos são um pouco diferentes. Assim, como não sou homem de comer sardinha e arrotar caviar e sei que críticas de filmes antigos são, em geral, desinteressantes demais para postá-las, continuarei a falar dos filmes que estão em cartaz e a lhes dar as notas que merecem.

Jumper tinha três fatores e meio em quatro para ser um excelente filme. Partia de uma boa idéia; foi dirigido pelo competente Doug Liman (Identidade Bourne); tinha os bons roteiristas David S. Goyer (Cidade das Sombras, Blade, Batman Begins) e Jim Uhls (Clube da Luta). Simon Kinberg também consta dos créditos e provavelmente é o responsável pela maior parte dos problemas do filme, mas estou tentando mostrar o que o filme tinha para dar certo; e um elenco mediano com os competentes Samuel L. Jackson (Star Wars), Diane Lane (Infidelidade) e Jamie Bell (A Conquista da Honra), o desprezível protagonista Hayden Christensen (Star Wars), o mesmo ator que interpretou Anakin Skywalker expurgando o Darth Vader como a encarnação do mal das mentes e corações de milhões de pessoas ao redor do mundo e o seu interesse amoroso Rachel Bilson (do seriado O.C.), com uma atuação simplesmente insignificante. Mesmo com tantos pontos em seu favor, a má escolha do protagonista e a influência funesta de Simon Kinberg (que já trabalhara com Liman no fraco Sr. e Sra. Smith) arrastaram o filme para baixo.

David Rice, um adolescente de 15 anos abandonado pela mãe e criado por um pai violento, descobre, ao cair em um rio, que tem o poder de se teletransportar para qualquer lugar que ele já tenha visto antes. Sem deixar nada para traz além de um pai com quem não se entende e uma paixão não consumada, David foge de casa e começa a roubar bancos. Seu novo estilo de vida chama a atenção de um grupo de caçadores de jumpers e de um outro jumper chamado Griffin que, ao contrário de David, está engajado na guerra contra os paladinos (os caçadores de jumpers).

Perceba que nesta sinopse encontram-se todos os ingredientes de um grande filme, o problema é que todos eles foram aplicados na dose errada. O pai de David, a namorada, um colega de escola e mesmo Roland (Samuel L. Jackson), que só protagoniza algumas cenas para que o filme possa mostrar o quão mau ele é, parecem apenas fazer figuração durante o filme. E se Roland é mau, David não é nenhum Robin Hood, ele usa seus poderes apenas em beneficio próprio sem se importar com as conseqüências de seus atos. Então, entre o mau, que odeia, persegue, e mata aquilo que não entende e o não bom, que tem a namorada em perigo, acabamos forçados para torcer pelo não bom, uma vez que não há nada no filme que nos aproxime de David.

As seqüências de ação geralmente são boas e beneficiadas pela leve confusão causada pelos saltos dos personagens, sem falar no interesse causado pela falta de empatia de David e Griffin, quando um quer fugir, o outro quer lutar; quando o outro quer explodir tudo, o um quer entrar num combate suícida; quando um quer lutar sozinho, o outro quer trabalhar em dupla e vice-versa. O que chega ao ponto deles abandonarem seus agressores para brigarem entre si.

Tenho um preceito que diz que nenhum longa metragem da atualidade com menos de noventa minutos é bom e que a culpa, nestes casos, é do roteiro. Jumper e seus 88 minutos de projeção sofrem especialmente neste quesito. Há uma quantidade altíssima de perguntas sem resposta, os personagens são caricatos ou inexpressivos e não há uma explicação clara para o pano de fundo da história. Sim, paladinos perseguem jumpers há séculos, mas não há nenhuma explicação definitiva para isso, há o esboço de uma ou outra. A guerra que citei na sinopse, ocorre da mesma forma que acontece neste texto, só é citada. Afinal, se os jumpers não são organizados mesmo após séculos de perseguição, como foi doloroso perceber isso, eles só podem ser caçados mesmo. De forma que o que acontece não é uma guerra e sim uma chacina.

Despretensiosamente é possível acompanhar o filme do começo ao fim sem se aborrecer. Na verdade, dá até para sair do cinema com uma boa impressão do filme, uma vez que ele passa tão depressa que não chega a nos aborrecer. O que não me impediu de olhar umas duas vezes pro relógio durante sua projeção.

terça-feira, 1 de abril de 2008

As Crônicas de Spiderwick

É sempre interessante ver e analisar o movimento de massas feito por Hollywood, atualmente quatro acontecem concomitantemente: Os remakes de filmes antigos e/ou estrangeiros, as homenagens a seriados antigos, as adaptações dos quadrinhos (graphic novels para os geeks) e as aventuras fantásticas para adolescentes. Nesta última onda encontra-se As Crônicas de Spiderwick (acho que depois escreverei um artigo sobre esses movimentos) que apesar de estar apenas aproveitando o filão inaugurado por Harry Potter traz algo de novo e tem até mesmo um certo charme.

O filme conta a história de Jared Grace (Freddie Highmore), de como ele encontra o Manual de Campo de Arthur Spiderwick, escrito por seu antigo parente(David Strathairn), que lhe revela um novo mundo, oculto pelo mimetismo, repleto de fadas, ogros, trolls e afins. Mundo que agora está em risco já que ao abrir o livro ele chama a atenção de Mulgarath (Nick Nolte), rei dos ogros, que há décadas quer se apoderar dos segredos contidos no livro. Para defendê-lo Jared contará com a ajuda de seus irmãos Mallory (Sarah Bolger) e Simon (Freddie Highmore) e de um simpático duende caseiro (brownie) chamado Thimbletack (Tibério em português).

Toda trama funciona bem ainda que ela seja extremamente simplista e leve. De fato, o filme não chama muito a atenção e só se torna interessante por não tentar enganar o espectador com reviravoltas banais que apenas confundiriam o seu público, nem impressioná-lo com paisagens grandiosas, sequer dar brechas para continuações (claro que uma seqüência é possível, mas o filme não tenta impor uma). Essas características criam uma história fácil de assistir e fácil de gostar. Os efeitos especiais são bem feitos, mas faltam exemplares dos seres deste outro mundo, no geral apenas ogros preenchem as cenas.

Um problema que acontece comumente nos filmes de hoje e me aborrece sobremaneira é a falha em sua própria lógica interna, claro que As Crônicas de Spiderwick, como filme despretensioso que é, não poderia deixar de ter a sua. Apenas deixarei aqui a pergunta a qual não consegui deixar de lado durante toda a projeção: Como um livro que não pode ser destruído tem suas páginas arrancadas e rasgadas? Desta pergunta pode surgir uma boa porção de outras, mas elas são de fato apenas variantes desta.

Apesar da forma quase caricata pela qual a familia Grace é tratada pelo roteiro, Jared é o rebelde que culpa a mãe pelo divórcio de seus pais, Mallory é a irmã mais velha que por ter uma visão mais ampla e madura do que está acontecendo com sua própria familia apóia a mãe e tenta aliviá-la dos constantes ataques de Jared, Simon vivido pelo próprio Highmore é um pacifista que foge de confrontos. Helen (Mary-Louise Parker) é a mãe que tenta reconstruir a sua vida, o talento dos três atores consegue conferir a eles bastante profundidade. Para se ter uma idéia, apesar de Highmore interpretar os gêmeos Jared e Simon, em nenhum momento há dúvida de qual deles está diante de nós. Frisando que nenhum deles usa algo particularmente emblemático.

As Crônicas de Spiderwick não tem a pretensão de ser um filme de arte, abrir uma nova franquia, ou qualquer coisa do gênero, e, como não tenta enganar seu espectador fingindo ser uma dessas coisas, ele terminar por agradar ao público em geral. Com certeza não estamos diante de um novo blockbuster, mas, sem sombra de dúvida, ele conseguirá atingir o seu objetivo, retornar um bom lucro para a Nickelodeon, responsável pela sua produção.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Comentando Trilhas

O Cine Paranóia continua inovando. Agora, com a adesão oficial do colaborador Amarildo Mello, acrescentou-se à sua gama de atrações os comentários das trilhas musicais que acompanham os filmes. Começando pela excelente trilha de Cassino Royale.

Afim de realizar o aprimoramento do Cine Paranóia continuamos pedindo idéias para acrescentar ao blog.

Obrigado pela visita,
Equipe do Cine Paranóia

A Trilha de 007 Cassino Royale

Desde os primórdios as trilhas dos filmes do espião mais famoso de todos os tempos são tratadas com maestria, sejam suas seqüências instrumentais, sejam seus temas interpretados. Quem não se recorda de Live And Let Die (tema de 007 - Viva ou deixe Morrer) de Paul McCartney, Secret Agent Man de Johnny Rivers ou da trilha instrumental de Monty Norman, criada originalmente para 007 Contra Dr. No e que acompanha a série até hoje.

Neste filme, Monty Norman retorna com uma nova roupagem de seu tema característico e com alguns simples arranjos do novato na área Gary Trotman. Já na trilha interpretada, Chris Cornell (Ex-Sound Garden e Audioslave) empresta sua voz para cantar You Know my Name, composta pelo próprio Cornell e por um monstro no gênero, David Arnold. Aliando partes orquestradas com um refrão forte que cativa e prende a atenção dos ouvintes. Cornell também interrompe a seqüência de trilhas entoadas por mulheres, que começou com 007 Contra GoldenEye (Tina Turner) passando por 007 - O Amanhã Nunca Morre (Sheryl Crow) continuando em 007 - O Mundo não é o Bastante (Garbage na voz de Shieley Manson) até encerrar em 007 - Um Novo dia para Morrer (Madonna).

Durante o filme há passagens sutis da música tema em formato instrumental, principalmente nas partes de ação. Já nas cenas rodadas no Cassino em que os personagens de Daniel Craig (James Bond) e de Mads Mikkelsen (Le Chiffre) disputam a partida de pôquer, a trilha é suprimida, aumentando a tensão e concentrando o espectador no silencioso jogo de poker e nos blefes de seus personagens.

Como sempre ocorre nas trilhas de 007 o tema é forte, característico e com propriedade. O que garante conforto aos ouvidos. Agora é só aguardar as surpresas da trilha de 007 - Quantun of Solace, próximo filme da série que tem estréia prevista para novembro/2008, já que de ante-mão será comandada por novamente David Arnold e seu toque atento.

Faixas
01.African Rundown
02.Nothing Sinister
03.Unauthorised Access
04.Blunt Instrument
05.Cctv
06.Solange
07.Trip Aces
08.Miami International
09.I'm The Money
10.Aston Montenegro
11.Dinner Jackets
12.The Tell
13.Stairwell Fight
14.Vesper
15.Bond Loses It All
16.Dirty Martini
17.Bond Wins It All
18.The End of an Aston Martin
19.The Bad Die Young
20.City of Lovers
21.The Switch
22.Fall of a House in Venice
23.Death of Vesper
24.The Bitch is Dead
25.The Name's Bond... James Bond

007 Cassino Royale

Comentar sobre o personagem mais famoso de Ian Fleming não é nada simples, haja visto que desde sua primeira aparição cinematográfica, 007 contra Dr. No - 1962, até os dias de hoje somam-se 21 filmes, protagonizados por diversos atores, dentre eles: Roger Moore, Sean Connery e Pierce Brosnan. Assim, todo o cuidado é pouco na hora de apurar os fatos.

Neste 21º filme, Bond, interpretado pelo britânico Daniel Craig, precisa impedir que o banqueiro Le Chiffre (Mads Mikkelsen) continue financiando atentados terroristas, para isso James participa de um jogo de pôquer no Cassino Royale em Montenegro. Por trás desta trama existe o fato de que James foi recém promovido ao cargo de agente "00", cometendo vários deslizes para poder aprimorar sua conduta no MI-6.

Diferentemente dos anteriores, esta película demonstra novas características que podem servir como fatores determinantes para o sucesso da mesma. Mas também apresenta a ausência de situações e personagens tradicionais, que talvez possam vir a torná-la decepcionante para os fãs mais fervorosos. Como as ausências dos personagens Q, interpretado por Desmond Llewelyn e falecido antes do lançamento de 007 - O Mundo não é o Bastante e R (Jonh Cleese), que participa dos 007 - O Mundo Não é o Bastante e 007 - Um Novo dia para Morrer, que eram responsáveis pelo alivio cômico destes filmes, o que não os impediu de serem descartados neste último. Outro ponto a se destacar é a falta (justa) de cenas mirabolantes e extremamente inverossímeis como a passagem inicial de 007 Contra GoldenEye e, por fim, o fator chave de todo James Bond, que é seu charme, foi totalmente perdido neste filme, não que o diretor e o roteirista não o tenham incluído no filme, mas sim pelo pela incapacidade de Daniel Craig em demonstrar o mesmo sex appeal que seus predecessores.

Mesmo com essas mudanças, diversos elementos clássicos continuam: as estonteantes Bondgirls,que em Cassino Royale são interpretadas por Caterina Murino e Eva Green, além do vilão-aberração (cada filme da série tem o seu). Neste ele chora sangue.

Os erros primários do agente, seu anseio por matar inimigos, sua impulsividade ao tomar decisões (o que quase o matou) e sua ingenuidade, que o torna alvo de traições, são evidentes desde o início da projeção. Bem como sua resistência em aceitar tais erros. E são exatamente os erros que o levarão para a missão central do filme, bem como o arrastarão ao seu desfecho.

quarta-feira, 19 de março de 2008

O que que há, Velhinho?

Após a descoberta de mais algumas incríveis ferramentas desenvolvidas e disponibilizadas gratuitamente pela Google. Uma importante adição foi feita hoje no Cine Paranóia, a criação da seção O Que Que Há, Velhinho? com as notícias mais relevantes do cinema.

Não fazia parte do escopo deste blog a divulgação de notícias, uma vez que diversos sites profissionais se dispõem a este papel de uma forma que seria impossível para a equipe do Cine Paranóia acompanhar. Felizmente, essas novas ferramentas permitem que as notícias sejam adicionadas de uma forma completamente orgânica, o que não causará nenhum desgaste excessivo na equipe.

Agora, a seção O Que Que Há, Velhinho? não trará a totalidade das notícias disponibilizadas diariamente na rede, mas será uma série de links para as notícias consideradas mais relevantes pela equipe do Cine Paranóia. Assim, a seção terminará auxiliando o leitor que não tem tempo para ficar varrendo diversos sites e lendo notícias desinteressantes para se atualizar.

terça-feira, 18 de março de 2008

Antes de Partir


O filme conta a história de dois pacientes terminais que se conhecem num quarto de hospital e após conviverem algum tempo neste mesmo quarto, criam uma lista com tudo o que desejam fazer antes de partir. Uma vez que Edward ( Jack Nicholson ) é um milionário solitário e extravagante, não é difícil para eles começarem sua última viagem.

Logo no inicio da projeção é possível se dar conta que não se verá uma produção caprichada. A cena onde um homem caminha pelo Himalaia com a narrativa de Morgan Freeman, visivelmente feita sob fundo verde, dá uma má impressão sobre o que virá a seguir. Afinal, a primeira impressão muitas vezes é a única num mundo onde se tem cada vez menos tempo. Razão pela qual filmes e livros tentam ganhar seu público logo no inicio e que produtoras costumam contratar grandes cineastas para filmar o primeiro episódio de um novo seriado. Uma primeira cena pouco trabalhada berra "ruim" nos ouvidos.

Da mesma forma que o filme teve de continuar esta crítica não pode silenciar ainda, apesar de um começo pedante, o filme não é ruim. Após a primeira cena no Himalaia o público é apresentado a Carter (Morgan Freeman), um mecânico inteligente e culto(?) cujo sonho era ser professor de história e em seguida apresentado a Edwad. Ambos descobrem sobre suas doenças nesta primeira aparição. Enquanto o primeiro recebe uma ligação sobre o resultado de seus exames, o outro tem uma crise em meio a uma disputa jurídica.

Obrigados a conviver no mesmo quarto, Edward e Carter sofrem estranhamentos da vida confinada e acabam por aprender a conviver e apoiar um ao outro. Aqui acontecem os melhores momentos do filme, uma vez que tanto Jack Nicholson quanto Morgan Freeman assumem suas funções muitíssimo bem. Além disso, ambos recebem visitas que interferem na rotina dos personagens. Enquanto Carter recebe as visitas de Virginia (Beverly Todd), sua esposa, com quem vem tendo problemas. Edward é visitado por seu secretário Thomas (Sean Hayes), que traz o alivio cômico para o filme. Agora talvez seja o momento de comentar que a química entre Jack Nicholson e Sean Hayes é excelente e rende alguns dos melhores momentos do filme, uma vez que, ao contrário do Morgan Freeman, que antagoniza Jack Nicholson, Sean Hayes o reflete.

Infelizmente a dita lista tem poucos itens interessantes e justamente esses são tratados com menos interesse pelo filme. O que transforma as últimas vontades dos dois personagens uma mera e extravagante viagem. O que faz o filme voltar a cair de nível. Toda a filmagem é feita em estúdio sobre o fundo verde, Egito, Grécia, Himalaia (de novo), passeio de skydiving e até um pega de automóveis são todos inseridos digitalmente de forma tristemente mal acabada, e cheia de planos esquematizados.

Rob Reiner conduz o filme de forma burocrática e apenas funcional. Ele apresenta os personagens de maneira semelhante, as viagens começam com planos onde o lugar em que eles estão é mostrado numa panorâmica para que seja identificado pelo público, ambos os personagens tem, no fim, um mesmo objetivo/lição, o filme termina com a continuidade da primeira cena. Sua idéia inicial era tratar de um assunto delicado sem cair num dramalhão, mesclando comédia ao drama inerente ao tema do filme. Isto ele consegue fazer, mas apenas parcialmente, pois apesar de não querer levar seu público as lágrimas, muitas vezes vemos suas tentativas de emocioná-lo, de fazer o público entender o que os personagens estão passando e isto ele não consegue.

Antes de Partir é um filme mediano que ainda assim vale ser visto por seu excelente humor e ótimas atuações.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Em busca de novidades

Ontem, Luiz Romanini, um amigo da produção do Cine Paranóia, sugeriu que o blog poderia ampliar seu escopo para além das críticas. Ele sugeriu que fossem realizados comentários de salas e valor de ingressos. Independente da sua sugestão ser acatada ou não, seu comentário levantou a idéia de que o Cine Paranóia poderia trabalhar com outras matérias que seriam do interesse dos seus leitores, desde que elas sejam voltadas ao cinema. Desta forma, está-se abrindo este espaço para que as pessoas coloquem suas sugestões para o desenvolvimento do blog. Então, se você tem uma idéia que possa ser usada pela nossa equipe, não importa se ela é boa ou ruim, clique no link de comentário e mande-a para nós.

Aproveitamos esta postagem para agradecer ao bom amigo Luiz Romanini por sua sugestão.

O Ano que Meus Pais Saíram de Férias

Não é de se admirar que a comissão criada para indicar o filme nacional para o Oscar preteriu Tropa de Elite a O Ano Que Meus Pais Saíram de Férias. O Ano que Meus País Saíram de Férias além de ser um filme bonito e sensível tem como parte do seu pano de fundo a comunidade judaica no Brasil e como muita gente sabe os Judeus não apenas trabalham em massa na indústria hollywoodiana como adoram puxar sardinha para seu próprio lado, do mesmo modo que todo mundo adora fazer.

O Ano que Meus Pais Saíram de Férias narra a história de Mauro (Michel Joelsas) um menino de doze anos que acaba sendo cuidado por um estranho judeu, vizinho de seu avô, quando este falece repentinamente e os pais dele saem de férias, fogem para escapar da perseguição política promovida pela ditadura.

O filme se prende exclusivamente ao olhar de Mauro e, por isso mesmo, esbanja todos os problemas causados pela temática garoto na casa de estranhos. Mauro tem problemas com Shlomo (Germano Haiut), judeu que o hospeda, com os novos amigos, atravessa uma paixonite de verão, sente a falta dos pais e se assombra com os tipos diferentes que encontra. Tudo isso poderia soar banal e corriqueiro não fosse pelo ritmo cálido conferido por Cao Hamburguer e pelo ano em que Mauro se vê afastado de sua zona de conforto.

1970 foi o ano do tri-campeonato brasileiro e o inicio dos anos negros da ditadura, fase mais violenta da ditadura no Brasil. Talvez por isso muitas pessoas tendam a estreitar os limites do filme, umas dizem que ele fala de futebol, outras que ele diz respeito a ditadura. Coisa que o próprio título do filme parece confirmar. Se O Ano que Meus Pais Saíram de Férias remete a ditadura, Vida de Goleiro, que seria o título do filme não fosse a influência da produção do filme, grita futebol nos ouvidos. Mas a verdade é que o filme retrata um garoto no ano de 1970. Mauro está ausente nos ápices das duas vertentes, ele tanto é retirado de um confronto público entre policiais e manifestantes, quanto abandona o bar onde assistia a final da copa do mundo.

A música do filme pontua muito bem a ação aflorando a emoção do espectador sem, no entanto, tentar levá-lo as lágrimas. Se poderia dizer que ela é contida como o filme.

Contudo provavelmente este belo filme desagradará a grande parte de sua platéia, seja porque as tensões criadas são leves e resolvidas de forma natural, o que vai levar as pessoas a considerá-lo chato ( para mim ele não foi chato ), seja pelo desfecho aberto, que é claro tem sua poética uma vez que a vida de todo garoto pode seguir em qualquer direção, mas normalmente não é do gosto do espectador.

terça-feira, 11 de março de 2008

Agradecimento

O Cine Paranóia agradece ao bom amigo Helder Paiva pela nova arte do sistema de avaliação que substituiu a ridícula primeira versão desenvolvida pelos redatores do site.

Valeu pela força Helder!

10.000 A.C.



Com a chegada de uma menina de olhos azuis em uma pequena tribo de caçadores surge uma profecia sobre o momento mais importante desta tribo; o dia em que eles passarão de caçadores para coletores, mas para que isso aconteça eles antes terão de tornar-se guerreiros.

O paragráfo acima é empolgante e vazio. Pois bem, este é 10.000 A.C.

Dito isso é importante que se saiba que a menina de olhos azuis é Evolet (Camilla Belle), mocinha do filme. A profecia diz respeito a um ataque que será feito por demônios de quatro patas que seqüestrarão quase todos os homens da tribo e, de quebra, Evolet. Ela diz ainda que surgirá um caçador que guiará o povo para uma nova vida, e ainda que ele se casará com Evolet.

Alguns anos depois disso a jovem Evolet está apaixonada por D'Leh (Steven Strait) que para poder se casar com ela precisa ganhar a lança branca, símbolo de autoridade da tribo. Eis que começam as grandes cenas e se acaba com qualquer preocupação com um enredo consistente. Agora tudo o que veremos serão estouros de mamutes, saques de tribos, avestruzes gigantes comedores de gente, tigres dentes-de-sabre e o primeiro grande império do mundo, que, é claro, precisa ser derrubado.

Roland Emmerich, diretor do filme, tem dois grandes problemas que são pontuais em toda a sua filmografia: Ele não confia na inteligência do seu público, usa saídas simplórias para as situações de tensão que acontecem na história. Provavelmente o segundo problema seja decorrente do primeiro. Afinal, se o espectador é burro, não perceberá as resoluções absurdas dos problemas. Para exemplificar essa prática não há caso mais notório que o de Independence Day. Vírus de computador! Vírus de computador é o escambau!

Infelizmente essas práticas tem vez, e como tem vez, neste seu mais novo trabalho. Começando com um narrador que se dispõe a dizer o óbvio a todo instante. A cena em que Mãe-Velha (Mona Hammond) abençoa os homens que vão partir em busca dos companheiros aprisionados cuspindo neles acompanhada pelo irritante narrador é o fim da picada. Como se alguém fosse incapaz entender o significado da cena sem que houvesse explicação. Mas isso ainda é pouco, o pior é o fato de todos os conflitos serem resolvidos pelo cumprimento de profecias. Alias este é um filme místico, não apenas as pessoas crêem em profecias e shamãs, como essas se realizam e esses tem poderes reais. O que por si não seria um problema não fosse o cumprimento de profecias, e eu vou repetir, ser a única solução de todos os conflitos. Ele é o escolhido, ele é aquele que fala com o dente-de-lança, ela tem a marca do guerreiro do céu, ou uma bobagem parecida.

O que o filme tem de bom além de efeitos irretocáveis e cenas de ação empolgantes? Isso é difícil dizer, na verdade a maior surpresa constatada no filme é que de fato ele se trata de um road movie e por este prisma ele acaba sendo eficiente uma vez que D'Leh chega amadurecido no final da história. Aqui ainda cabe um último comentário: Este é um filme pipoca, se você procura apenas um filme divertido que consiga te distrair por duas horas, você encontrará isto em 10.000 A.C..

domingo, 9 de março de 2008

Rambo IV

Do início dos anos 80 até meados dos 90 o subgênero de filmes de ação com ícones que se contorciam, quebravam, lutavam (artes marciais), suspendiam seus inimigos pelos pés apenas com uma mão, entre outras demonstrações de virilidade alcançou seu auge. Dentre esses não podem ser esquecidos filmes como: Comando para Matar, Exterminador do Futuro, O Grande Dragão Branco, Retroceder Nunca Render-se Jamais, Rocky, Cobra. Películas que tiveram seu tempo e espaço. Hoje é notória a decadência deste subgênero, haja visto que sua maior estrela da atualidade, o grande ator Dwayne "The Rock" Johnson (ele tem 1m93!) é praticamente desconhecido do grande público.

Os atores que se tornaram ícones desta espécie de filme hoje precisaram se redescobrir ou desaparecer: Jean-Claude Van Damme passou os últimos anos lançando filmes direto em vídeo e está para filmar sua obra-prima, sua autobiografia; Arnold Schwarzenegger com sua tarimbada interpretação robótica em O Exterminador do Futuro 3 fechou seu ciclo razoavelmente bem e hoje é governador pelo estado da Califórina. Agora o robozão é problema do Bush. Lorenzo Lamas e Dolph Lundgren sumiram e ninguém sentiu a falta deles. Por fim, Sylvester Stallone caminhava um fim semelhante até que uma temporada no reality show The Contender cativou-o a reviver seus grandes personagens. O primeiro a voltar as telas foi Rocky Balboa, que realizado num caráter mais dramático, como o primeiro filme da série, Rocky - Um Lutador, não decepcionou, para a surpresa geral. Até trouxe um pouco de dignidade para o filme original que havia sido achincalhado por seqüências ruins e comerciais, especialmente os Rocky III, IV e V. Para este ano as expectativas repousavam no retorno de John Rambo.

Na sua eterna busca pela paz interior Rambo isola-se na fronteira da Birmânia e passa a viver da caça de cobras. Infeliz e coincidentemente o país em que ele busca paz está há anos em guerra civil. Então, certo dia, sua ajuda é requisitada por missionários. Depois desse grande enredo o filme mostra para que foi feito: ser sangrento (o filme tem censura 18 anos). Na falta de história mata-se todo mundo e pronto. Como se não bastasse isso a crueldade com que são tratadas as vítimas capturadas pelos revolucionários birmaneses é ridiculamente exagerada, apesar de necessária para preencher o filme (é difícil fazer um filme de 1h33 sem história). Já a pederastia e pedofilia do Major Pa Tee Tint está totalmente fora de contexto. A interpretação de Sylvester Stallone é excelente uma vez que ele tem apenas uma meia dúzia de falas. A ambientação lembra aqueles filmes de boxe Tailandês onde o mocinho tem que proteger os animais de caçadores. O filme traz ainda o espírito do Elfo Légolas revivido por um ex-combatente sessentão.

Reviver esse tipo de filme enterrado há tantos anos é sem dúvida alguma uma temeridade que muito provavelmente rolará o precipício do fracasso. Mesmo trazer de volta personagens desta época é perigoso e deveria se evitado. Fazer ambas as coisas é um despropério. Mesmo assim, falando especificamente de Rambo IV, escrito, dirigido e atuado por Sylvester Stallone, sem roteiro, com coadjuvantes amadores e efeitos especiais de segunda categoria conseguiu ao menos livrar-se do fracasso total graças aos remanescentes fãs de John Rambo (entre os quais eu me incluo) oriundos da época das sangue-sugas e das cauterizações a base de pólvora. É claro que isso provavelmente não o livrará da premiação mas indesejada do cinema estadounidense O Framboesa de Ouro.

Trilha Sonora

Bom, não queria estrear meus comentários sobre trilhas sonoras com tão pouco mas, não há trilha de fato e mesmo os efeitos sonoros são banais para as ações. O tema principal que o acompanha desde o primeiro filme é ouvido, mas apenas em poucos trechos no início. Há também nas cenas de ação pequenas faixas orquestradas, mas de uma maneira ou de outra elas não se sintonizam com o momento do filme. A maior e "melhor" parte da trilha está nos créditos com quase 5 minutos de duração.