segunda-feira, 21 de julho de 2008

Batman - O Cavaleiro das Trevas


Eu gosto de quadrinhos, mesmo que não seja grande fã, tento ler tudo o que me cai nas mãos. Contudo, a atitude recente das produtoras de levarem ao cinema tudo o que é escrito nesta mídia, só me levou recrudescer minha crítica diante desses filmes. Não, não é preconceito, o problema é que agora, estes filmes dominam o cenário cinematográfico ao lado dos remakes e adaptações de séries antigas. Só este ano foram Persépolis, Homem de Ferro, Hulk, Hancock [1], Batman e Wanted, sendo que este último ainda está por estrear em terras tupiniquins. Assim, entre tantas adaptações, pouquíssimas coisas realmente novas chegam a esta que é a mais conservadora das formas de arte.

Por favor, não me julguem mal. Assisti a todos os filmes que comentei acima com exceção de Wanted e todos são bons filmes. Então, qual a razão da crítica acima? Quando escrevo sobre os filmes que assisti, eu me coloco no papel de crítico. Como crítico, meu secreto prazer é espezinhar, espinafrar mesmo, aos filmes que assisto. Infelizmente, isso não poderá ser feito com este Batman. Eu tinha de descontar minha frustração em alguma coisa. Quanto ao Batman, não há duvidas, finalmente deram um tratamento digno para o personagem baseado em quadrinhos mais achincalhado da história do cinema ao lado do Justiceiro.

Antes de mais nada é necessário fazer um comentário sobre a atuação de Heath Ledger como o Coringa. Este é o melhor papel que Heath Ledger já realizou. Infelizmente, sua prematura morte colocará em cheque a própria trajetória do personagem nos cinemas de agora em diante. Esqueça a performance de Jack Nicholson, não há como comparar, este Coringa é outro personagem. Ele não procura divertir aos outros mas a si mesmo. Quando conta piadas, essas são de matar; quando propões jogos, esses são mortais. Assim, não vemos lacaios rindo das piadas do Coringa e o próprio Alfred traz mais alivio cômico ao filme que ele. O Coringa é perigoso e psicótico. Um personagem instável que é representado com perfeição. A cena onde ele explica seu plano a máfia de Gotham evidência seu carater perturbador, a maneira como ele parece pensar naquele instante o que vai dizer, como alguém que fora preso de surpresa é ótima.

Batman - O Cavaleiro das Trevas é um filme de ação com um verdadeiro tripé que o sustenta: ação, história e personagens. Os três agem de forma orgânica, numa simbiose difícil de se ver em filmes deste e de qualquer outro gênero. Grande parte do mérito disto tem de ser dado ao seu diretor Christopher Nolan, cujo trabalho acompanho desde Amnésia. Além de escrever a história do filme junto com seu irmão (o que é uma parceria habitual). Christopher optou por evitar o uso de efeitos de computação gráfica. O que trouxe muito mais plausabilidade ao filme. Quanto ao seu trabalho com os personagens, é evidente que ele é um excelente diretor de atores (sim, isso existe) e provavelmente um bom gerenciador de conflitos. De outra maneira não haveria como trabalhar com tantos astros em um filme tão grande sem meter os pés pelas mãos.

Batman é um homem curvado sob o peso de suas escolhas. Seja ao se deparar com homens que se disfarçam de Batman e se intrometem em suas ações; seja ao perceber que sua aparição trouxe um novo tipo de criminoso as ruas. A duvida da validade de sua existência reverbera em seus ouvidos. O que faz com que ele se agarre a esperança de que Harvey Dent pode ser o cavaleiro branco que guiará Gotham em direção a luz e o libertará definitivamente de sua mascara. Apoiada nesta esperança a história se desenvolve. Harvey Dent (Aaron Eckhart) parece realmente merecer a confiança que lhe é depositada, aparecendo sorridente, corajoso e centrado, o cavaleiro branco de Gotham, o herói sem mascara. Assim fechamos nosso trio principal: Harvey Dent, o Cavaleiro Branco; Coringa, o Agente do Caos; Batman, o Cavaleiro das Trevas.

As cenas de luta mostram muito das características dos personagens. Se Batman parece meio engessado por causa do traje; o Espantalho não vê porque lutar e foge; enquanto o Coringa usa tudo o que estiver ao seu alcance para obter alguma vantagem; já o Duas-caras vai direto ao ponto, como um arauto da justiça. Espantalho? Duas-caras? O vilão não é o Coringa? Sim, é claro, mas o filme se reserva várias surpresas as quais prefiro não estragar.

Bom do começo ao fim, Batman - O Cavaleiro das Trevas transpassa o caráter de mero blockbuster e se torna um verdadeiro estudo de personagens ao assinalar o contraponto entre Batman e Coringa, duas faces de uma mesma moeda. Explora-se a alma de Batman, cutuca-lhe as feridas e eis que o Coringa surge no trecho mais sombrio de cada beco. Isso sem falar de toda a experimentação feita pelo Coringa nos habitantes de Gotham City.

Contando ainda com um excelente elenco secundário que só é enfraquecido pela pifia presença de Maggie Gyllenhaal como Rachel Dawes. Na outra ponta há o Michael Caine com seu papel reforçado e ampliado, ajuda, encoraja e crê. Chegando mesmo a armar com Bruce Wayne a estratégia de uma das ações do Batman. Não fosse o bastante, ele traz a maioria do alivio cômico do filme. Morgan Freeman também trabalha bem, mas nada que mereça uma nota especial ante a tão boas interpretações.

Falar em iluminação, montagem, música e som seria apenas chover no molhado. Excepcional é uma palavra que vem bem a calhar agora, tudo em Batman - O Cavaleiro das Trevas é excepcionalmente bem feito. Claro que muitos fãs falarão disto ou daquilo, mas eu te aconselho, faça-lhes ouvidos mocos. Fãs não são racionais de forma que suas opiniões não podem ser verificadas logicamente. Mesmo assim, estou absolutamente certo que este filme irá agradar aos fãs de maneira geral.

Antes de escrever excepcional no parágrafo acima eu havia escrito irretocável, mas eu não poderia ser tão condescendente e, para terminar esta crítica, terei de lançar mão de duas pequenas reprimendas: 1ª Entortar o cano da arma de um dos bandidos com uma das mãos foi ridículo; 2ª o movimento que a bat-moto faz quando alcança uma parede foi absurdo.

Para terminar, prestem especial atenção aos diálogos Coringa/Batman e Coringa/Harvey Dent só eles já valem o ingresso. Agora, se como eu disse no começo deste texto eu recrudesci minha crítica aos filmes de quadrinho e, ainda assim, me esparramei de elogios a este filme, o que você está esperando? Corra ao cinema enquanto ainda é tempo. Saia da frente deste computador e compre o seu ingresso.

[1] Apesar de Hancock não ser baseado em um quadrinho ele é obviamente um sub-produto deste.

3 comentários:

Rodrigo Camargo disse...

O filme é Assustadoramente Bom. Bela crítica. Finalmente após um longo jejum de críticas, pudemos desfrutar de um belo post.

Anônimo disse...

Batman - O Cavaleiro das Trevas é realmente um filme acima da média: ótimas interpretações, ação sob medida e um roteiro que faz com que tudo no filme aconteça de maneira coerente, instigante e fascinante. Eu não gosto muito do Batman como personagem de quadrinhos, mas não pude deixar de achar este filme e, até mesmo este Batman, como personagem absolutamente magníficos. Quanto ao Coringa... Simplesmente espetacular! Ao mesmo tempo em que diverte é assustador. Trata-se da verdadeira personificação do vilão: sem escrúpulos, imprevisível, uma força da natureza.
Batman - O Cavaleiro das Trevas é o tipo de filme para ser assistido mais de uma vez... no cinema!

Lei disse...

Bela crítica, parabéns!
Eu tive a impressão dele usar um mecanismo para entortar o cano, o mesmo que ele usa para cortar a lataria do carro. E mais ridículo que a manobra, foi ele cair feito jaca na sequencia de semelhante manobra!

Concordo com o Alemão, este filme da vontade de ver novamente, no cinema!

Abs