Ficha Técnica
- Título Original...: Metropolis
- Ano de Lançamento.: 1926
- Diretor...........: Fritz Lang
- Roterista.........: Thea von Harbou
- Gênero............: Ficção Científica
- Duração...........: 2h04
Elenco Principal
- Alfred Abel..........: Joh Fredersen
- Gustav Fröhlich......: Freder
- Rudolf Klein-Rogge...: C. A. Rotwang
- Fritz Rasp...........: The Thin Man
- Theodor Loos.........: Josaphat
- Erwin Biswanger......: 11811
- Heinrich George......: Grot
- Brigitte Helm........: Maria
Ser considerado predecessor dos filmes de ficção científica é provavelmente título insuficiente para expressar a importância desta obra de Fritz Lang. Ficção científica, crítica social, alegoria bíblica, tragédia shakesperiana, tudo isto é Metrópolis. O projeto foi desenvolvido para enfrentar de peito aberto o já poderoso cinema holywoodiano. Seu resultado foi tão impressionante que levou o próprio Hitler a convidar Fritz Lang para ser um fomentador do cinema nazista. Felizmente, Fritz Lang era fiel ao lema de seu filme, "The mediator between head and hands must be the heart"[1], e tratou de zarpar para os Estados Unidos.
Em um futuro onde a distância entre ricos e pobres chegou a níveis tão extremos que estes últimos passaram a viver e trabalhar em cidades subterrâneas, uma jovem profetizada chamada Maria anuncia aos operários a vinda daquele que mediará as relações entre operários e senhores (foi difícil encontrar outro epíteto para a classe privilegiada da história). Acreditando que a presença de Maria era nociva aos operários e sem saber que o mediador anunciado seria seu único filho, Joh Fredersen, governante de Metrópolis, acaba convencido por Rotwang, inventor com quem possui estranha relação, a substituir a jovem Maria por sua última invenção, um andróide capaz de imitar qualquer um com perfeição.
Após substituir Maria o andróide começa sua dupla missão, fomentar a intolerância e ódio entre os operários ante a classe dominante e levar a já frívola classe dominante a orgias e a um prenúncio de fim-do-mundo. De fato, Rotwang queria que seu andróide destruísse a sociedade e para impedí-lo Freder e Fredersen lutam, cada qual a sua maneira, cada um movido por seus próprios sentimentos e convicções. Aqui é importante notar que a visão de Freder sobre o que está acontecendo é apenas parcial e, ainda que ele tente se colocar na posição de mediador, ele parece muito mais preocupado com o destino de Maria.
Metrópolis é, em essência, uma ferrenha crítica social. Todavia ele é ambientado numa sociedade futurista e isso lhe galgou a posição de primeiro filme de ficção científica. Pensando em Metrópolis como ficção científica, é notável o design dos prédios e arranha-céus que servem de background para o filme. Aqui vale lembrar que Fritz Lang era arquiteto e poucos anos antes fizera uma viagem a New York e ali se maravilhara com os edificios. Apesar do andróide (o mais correto seria dizer ginóide) de Metrópolis não extrapolar o conceito sobre o qual um robô é feito, servir o homem, ao conferir à sua criação a tarefa de enganar as pessoas, Rotwang acaba iludindo a si mesmo e se vendo incapaz de distinguir o andróide de Maria. Esta cegueira de Rotwang daria abertura para o andróide intervir sem diretriz na sociedade em que está inserido. Infelizmente esta possibilidade acaba não sendo explorada o que diminui o alcance do filme como do gênero de ficção científica.
Rico em símbolos cristãos, não seria exagero dizer que Metrópolis é uma alegoria cristã, mais precisamente uma alegoria apocalíptica. O reino de paz, Deus, o adversário, Cristo, a grande prostituta, todos esses elementos estão presentes e ainda são adornados pela iconografia cristã, e vem jardim do Éden, nova torre de Babel, entre outras. Apenas para deixar clara a alegoria para aqueles que conhecem pouco a Bíblia vou explicar alguns dos papéis alegóricos. Freder seria Cristo. Além de se profetizar sobre ele e seu papel como mediador, ele é o único que age sobre os dois mundos, ele traz esperança a Josaphat impedindo-o de ir trabalhar no mundo subterrâneo e perdoa 11811. Não bastasse tudo isso, Freder salva as criancinhas. Rotwang é o adversário. Ele engana o governo humano prometendo paz para trazer à baila o Anticristo, o andróide, a quem ainda cabe a função de Grande Prostituta. Como Anticristo o andróide lidera os operários causando destruição e caos, como a Grande Prostituta ele perverte a sociedade trazendo imoralidade. Fredersen representa o governo humano, que acredita no Anticristo como solução pacificadora para a crise que se apresenta.
Shakesperiano porque a epopéia vivida por Freder com seu pai que o ama e desconfia dele, o amor compartilhado de Fredersen com seu inimigo pela esposa morta do primeiro, a visão parcial dos personagens e seu desejo de seguir adiante, os desencontros de Freder e Maria, o amigo fiel de Freder e a traição e arrependimento de 11811. Todos elementos Shakesperianos, a grandiloqüência do cinema mudo.
A crítica social é de importância ímpar para a correta compreensão do filme. E aqui claro e cristalino está o fato de que Metrópolis não apenas antecedeu Tempos Modernos em dez anos, como o influenciou profundamente. A simbiose entre homem e máquina, pares em um ballet de dezenas de dançarinos, é só a ponta desta enciclopédica galeria de imagens. A desumanização é tão intensa neste filme que após uma explosão os homens são substituídos como se fossem peças de manutenção. As crianças que tudo vêem e nada entendem são o reflexo perfeito de uma sociedade dominada pelo sistema, da mesma forma que o seriam na República de Platão e na Utopia de Thomas More (Morus).
É interessante notar que o mundo conhece apenas uma versão fragmentada deste grande clássico, uma vez que a obra de Fritz Lang foi picotada pelos produtores que a achavam muito longa e difícil. Com isso cerca de meia hora do filme foi considerada perdida por décadas. Felizmente, há poucas semanas atrás foi comprovada que uma cópia do filme encontrada na Argentina contém o original do filme que agora está sendo trabalhado pelo instituto que detém os direitos da obra de Fritz.
[1] O mediador entre a cabeça e as mãos precisa ser o coração (em tradução livre)
Em um futuro onde a distância entre ricos e pobres chegou a níveis tão extremos que estes últimos passaram a viver e trabalhar em cidades subterrâneas, uma jovem profetizada chamada Maria anuncia aos operários a vinda daquele que mediará as relações entre operários e senhores (foi difícil encontrar outro epíteto para a classe privilegiada da história). Acreditando que a presença de Maria era nociva aos operários e sem saber que o mediador anunciado seria seu único filho, Joh Fredersen, governante de Metrópolis, acaba convencido por Rotwang, inventor com quem possui estranha relação, a substituir a jovem Maria por sua última invenção, um andróide capaz de imitar qualquer um com perfeição.
Após substituir Maria o andróide começa sua dupla missão, fomentar a intolerância e ódio entre os operários ante a classe dominante e levar a já frívola classe dominante a orgias e a um prenúncio de fim-do-mundo. De fato, Rotwang queria que seu andróide destruísse a sociedade e para impedí-lo Freder e Fredersen lutam, cada qual a sua maneira, cada um movido por seus próprios sentimentos e convicções. Aqui é importante notar que a visão de Freder sobre o que está acontecendo é apenas parcial e, ainda que ele tente se colocar na posição de mediador, ele parece muito mais preocupado com o destino de Maria.
Metrópolis é, em essência, uma ferrenha crítica social. Todavia ele é ambientado numa sociedade futurista e isso lhe galgou a posição de primeiro filme de ficção científica. Pensando em Metrópolis como ficção científica, é notável o design dos prédios e arranha-céus que servem de background para o filme. Aqui vale lembrar que Fritz Lang era arquiteto e poucos anos antes fizera uma viagem a New York e ali se maravilhara com os edificios. Apesar do andróide (o mais correto seria dizer ginóide) de Metrópolis não extrapolar o conceito sobre o qual um robô é feito, servir o homem, ao conferir à sua criação a tarefa de enganar as pessoas, Rotwang acaba iludindo a si mesmo e se vendo incapaz de distinguir o andróide de Maria. Esta cegueira de Rotwang daria abertura para o andróide intervir sem diretriz na sociedade em que está inserido. Infelizmente esta possibilidade acaba não sendo explorada o que diminui o alcance do filme como do gênero de ficção científica.
Rico em símbolos cristãos, não seria exagero dizer que Metrópolis é uma alegoria cristã, mais precisamente uma alegoria apocalíptica. O reino de paz, Deus, o adversário, Cristo, a grande prostituta, todos esses elementos estão presentes e ainda são adornados pela iconografia cristã, e vem jardim do Éden, nova torre de Babel, entre outras. Apenas para deixar clara a alegoria para aqueles que conhecem pouco a Bíblia vou explicar alguns dos papéis alegóricos. Freder seria Cristo. Além de se profetizar sobre ele e seu papel como mediador, ele é o único que age sobre os dois mundos, ele traz esperança a Josaphat impedindo-o de ir trabalhar no mundo subterrâneo e perdoa 11811. Não bastasse tudo isso, Freder salva as criancinhas. Rotwang é o adversário. Ele engana o governo humano prometendo paz para trazer à baila o Anticristo, o andróide, a quem ainda cabe a função de Grande Prostituta. Como Anticristo o andróide lidera os operários causando destruição e caos, como a Grande Prostituta ele perverte a sociedade trazendo imoralidade. Fredersen representa o governo humano, que acredita no Anticristo como solução pacificadora para a crise que se apresenta.
Shakesperiano porque a epopéia vivida por Freder com seu pai que o ama e desconfia dele, o amor compartilhado de Fredersen com seu inimigo pela esposa morta do primeiro, a visão parcial dos personagens e seu desejo de seguir adiante, os desencontros de Freder e Maria, o amigo fiel de Freder e a traição e arrependimento de 11811. Todos elementos Shakesperianos, a grandiloqüência do cinema mudo.
A crítica social é de importância ímpar para a correta compreensão do filme. E aqui claro e cristalino está o fato de que Metrópolis não apenas antecedeu Tempos Modernos em dez anos, como o influenciou profundamente. A simbiose entre homem e máquina, pares em um ballet de dezenas de dançarinos, é só a ponta desta enciclopédica galeria de imagens. A desumanização é tão intensa neste filme que após uma explosão os homens são substituídos como se fossem peças de manutenção. As crianças que tudo vêem e nada entendem são o reflexo perfeito de uma sociedade dominada pelo sistema, da mesma forma que o seriam na República de Platão e na Utopia de Thomas More (Morus).
É interessante notar que o mundo conhece apenas uma versão fragmentada deste grande clássico, uma vez que a obra de Fritz Lang foi picotada pelos produtores que a achavam muito longa e difícil. Com isso cerca de meia hora do filme foi considerada perdida por décadas. Felizmente, há poucas semanas atrás foi comprovada que uma cópia do filme encontrada na Argentina contém o original do filme que agora está sendo trabalhado pelo instituto que detém os direitos da obra de Fritz.
[1] O mediador entre a cabeça e as mãos precisa ser o coração (em tradução livre)
3 comentários:
Até dá vontade de assistir.
Até dá não. Deu. Vou assistir. Depois que encontrar o filme, claro!
Garcia, abraços!
Metrópolis! Por ser de longe um dos meus filmes prediletos, pretendo comentar também no meu Blog, mas para isso preciso ver de novo para relembrar os elementos que me chamam a atenção.
Os símbolos bíblicos, a crítica social, os elementos sci-fi, tudo combinado de uma forma harmoniasa com uma ótima história. Gosto muito, muito mesmo, deste filme, e indico para aqueles que conseguem vencer este "cansaço da atualiadade" que temos ao ver filmes antigos, que o façam!
Deus, que é Bom, permitiu que o filme completo fosse encontrado na Argentina. Viva los Hermanos! Espero que logo saia o director's cut.
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