terça-feira, 15 de julho de 2008

Metrópolis



Ficha Técnica
- Título Original...: Metropolis
- Ano de Lançamento.: 1926
- Diretor...........: Fritz Lang
- Roterista.........: Thea von Harbou
- Gênero............: Ficção Científica
- Duração...........: 2h04

Elenco Principal

- Alfred Abel..........: Joh Fredersen
- Gustav Fröhlich......: Freder
- Rudolf Klein-Rogge...: C. A. Rotwang
- Fritz Rasp...........: The Thin Man
- Theodor Loos.........: Josaphat
- Erwin Biswanger......: 11811
- Heinrich George......: Grot
- Brigitte Helm........: Maria

Ser considerado predecessor dos filmes de ficção científica é provavelmente título insuficiente para expressar a importância desta obra de Fritz Lang. Ficção científica, crítica social, alegoria bíblica, tragédia shakesperiana, tudo isto é Metrópolis. O projeto foi desenvolvido para enfrentar de peito aberto o já poderoso cinema holywoodiano. Seu resultado foi tão impressionante que levou o próprio Hitler a convidar Fritz Lang para ser um fomentador do cinema nazista. Felizmente, Fritz Lang era fiel ao lema de seu filme, "The mediator between head and hands must be the heart"[1], e tratou de zarpar para os Estados Unidos.

Em um futuro onde a distância entre ricos e pobres chegou a níveis tão extremos que estes últimos passaram a viver e trabalhar em cidades subterrâneas, uma jovem profetizada chamada Maria anuncia aos operários a vinda daquele que mediará as relações entre operários e senhores (foi difícil encontrar outro epíteto para a classe privilegiada da história). Acreditando que a presença de Maria era nociva aos operários e sem saber que o mediador anunciado seria seu único filho, Joh Fredersen, governante de Metrópolis, acaba convencido por Rotwang, inventor com quem possui estranha relação, a substituir a jovem Maria por sua última invenção, um andróide capaz de imitar qualquer um com perfeição.

Após substituir Maria o andróide começa sua dupla missão, fomentar a intolerância e ódio entre os operários ante a classe dominante e levar a já frívola classe dominante a orgias e a um prenúncio de fim-do-mundo. De fato, Rotwang queria que seu andróide destruísse a sociedade e para impedí-lo Freder e Fredersen lutam, cada qual a sua maneira, cada um movido por seus próprios sentimentos e convicções. Aqui é importante notar que a visão de Freder sobre o que está acontecendo é apenas parcial e, ainda que ele tente se colocar na posição de mediador, ele parece muito mais preocupado com o destino de Maria.

Metrópolis é, em essência, uma ferrenha crítica social. Todavia ele é ambientado numa sociedade futurista e isso lhe galgou a posição de primeiro filme de ficção científica. Pensando em Metrópolis como ficção científica, é notável o design dos prédios e arranha-céus que servem de background para o filme. Aqui vale lembrar que Fritz Lang era arquiteto e poucos anos antes fizera uma viagem a New York e ali se maravilhara com os edificios. Apesar do andróide (o mais correto seria dizer ginóide) de Metrópolis não extrapolar o conceito sobre o qual um robô é feito, servir o homem, ao conferir à sua criação a tarefa de enganar as pessoas, Rotwang acaba iludindo a si mesmo e se vendo incapaz de distinguir o andróide de Maria. Esta cegueira de Rotwang daria abertura para o andróide intervir sem diretriz na sociedade em que está inserido. Infelizmente esta possibilidade acaba não sendo explorada o que diminui o alcance do filme como do gênero de ficção científica.

Rico em símbolos cristãos, não seria exagero dizer que Metrópolis é uma alegoria cristã, mais precisamente uma alegoria apocalíptica. O reino de paz, Deus, o adversário, Cristo, a grande prostituta, todos esses elementos estão presentes e ainda são adornados pela iconografia cristã, e vem jardim do Éden, nova torre de Babel, entre outras. Apenas para deixar clara a alegoria para aqueles que conhecem pouco a Bíblia vou explicar alguns dos papéis alegóricos. Freder seria Cristo. Além de se profetizar sobre ele e seu papel como mediador, ele é o único que age sobre os dois mundos, ele traz esperança a Josaphat impedindo-o de ir trabalhar no mundo subterrâneo e perdoa 11811. Não bastasse tudo isso, Freder salva as criancinhas. Rotwang é o adversário. Ele engana o governo humano prometendo paz para trazer à baila o Anticristo, o andróide, a quem ainda cabe a função de Grande Prostituta. Como Anticristo o andróide lidera os operários causando destruição e caos, como a Grande Prostituta ele perverte a sociedade trazendo imoralidade. Fredersen representa o governo humano, que acredita no Anticristo como solução pacificadora para a crise que se apresenta.

Shakesperiano porque a epopéia vivida por Freder com seu pai que o ama e desconfia dele, o amor compartilhado de Fredersen com seu inimigo pela esposa morta do primeiro, a visão parcial dos personagens e seu desejo de seguir adiante, os desencontros de Freder e Maria, o amigo fiel de Freder e a traição e arrependimento de 11811. Todos elementos Shakesperianos, a grandiloqüência do cinema mudo.

A crítica social é de importância ímpar para a correta compreensão do filme. E aqui claro e cristalino está o fato de que Metrópolis não apenas antecedeu Tempos Modernos em dez anos, como o influenciou profundamente. A simbiose entre homem e máquina, pares em um ballet de dezenas de dançarinos, é só a ponta desta enciclopédica galeria de imagens. A desumanização é tão intensa neste filme que após uma explosão os homens são substituídos como se fossem peças de manutenção. As crianças que tudo vêem e nada entendem são o reflexo perfeito de uma sociedade dominada pelo sistema, da mesma forma que o seriam na República de Platão e na Utopia de Thomas More (Morus).

É interessante notar que o mundo conhece apenas uma versão fragmentada deste grande clássico, uma vez que a obra de Fritz Lang foi picotada pelos produtores que a achavam muito longa e difícil. Com isso cerca de meia hora do filme foi considerada perdida por décadas. Felizmente, há poucas semanas atrás foi comprovada que uma cópia do filme encontrada na Argentina contém o original do filme que agora está sendo trabalhado pelo instituto que detém os direitos da obra de Fritz.

[1] O mediador entre a cabeça e as mãos precisa ser o coração (em tradução livre)

3 comentários:

Hugo K disse...

Até dá vontade de assistir.

Ivo La Puma disse...

Até dá não. Deu. Vou assistir. Depois que encontrar o filme, claro!

Garcia, abraços!

Cristiano Silva disse...

Metrópolis! Por ser de longe um dos meus filmes prediletos, pretendo comentar também no meu Blog, mas para isso preciso ver de novo para relembrar os elementos que me chamam a atenção.

Os símbolos bíblicos, a crítica social, os elementos sci-fi, tudo combinado de uma forma harmoniasa com uma ótima história. Gosto muito, muito mesmo, deste filme, e indico para aqueles que conseguem vencer este "cansaço da atualiadade" que temos ao ver filmes antigos, que o façam!

Deus, que é Bom, permitiu que o filme completo fosse encontrado na Argentina. Viva los Hermanos! Espero que logo saia o director's cut.