quarta-feira, 16 de abril de 2008

2 Dias em Paris

Não são raros os casos de atores que se aventuram na direção, muitos com bastante sucesso. Entre esses três nomes não podem deixar de ser citados: Mel Gibson (Apocalypto), ganhou o Oscar de direção por Coração Valente; Clint Eastwood (Cartas de Iwo Jima), levou o Oscar por melhor direção de 2006; George Clooney (Boa Noite e Boa Sorte), que foi indicado ao Oscar por este mesmo filme. Pois bem, 2 Dias em Paris é mais uma das aventuras de Julie Delpy na direção. A qual não alcançou o mesmo resultado dos outros atores já citados, mas tem algum mérito.

Dois Dias em Paris conta a história de um casal, ele americano ela francesa, que após passar férias em Veneza decide ficar dois dias em Paris para que Jack (Adam Goldberg) conheça os pais de Marion (Julie Delpy). Durante esses dois dias Jack sofre com a nova cultura, com os hábitos de seus sogros, além de encontrar diversos ex-namorados de Marion e descobrir sobre suas mentiras "inocentes" (não guardei a expressão que Marion usa no filme, mas este é seu significado).

O filme é uma mistura de Antes do Pôr do Sol (onde Delpy co-escreve e atua) e Encontros e Desencontros com uma boa dose de Casamento Grego. De forma que o roteiro é baseado em diálogos como o primeiro, seu mote (o termo técnico seria plot) é o problema cultural e idiomático a semelhança do segundo e a familia da noiva proporciona estranhamentos e boas piadas como em Casamento Grego. É uma pena que ele não ombreie qualquer um deles, pecando especialmente pelo excesso. Na verdade, excesso é a palavra de ordem deste filme, além das muitas idéias por serem trabalhadas, a fotografia é excessivamente rude e invasiva, com closes igualmente excessivos que mostram mesmo as marcas do tempo nos rostos dos atores. Apesar do filme se passar em Paris não há mais de dois ou três minutos de projeção que identifiquem iconicamente a cidade. Os enquadramentos, em geral, são grosseiros e óbvios buscando sempre o ponto de vista de quem está assistindo o casal. O que torna o clima tão claustrofóbico que pensei que esta poderia ser a idéia do diretor de fotografia Lubomir Bakchev, cheguei mesmo a pesquisar a filmografia dele, mas não encontrei nenhum trabalho dele que eu já houvesse assistido. O que não me impede de dizer que mesmo que tenha sido proposital foi excessivo.

Contrabalanceando a má fotografia está a excelente montagem do filme. A enfase no início da projeção onde Marion explica seu relacionamento com Jack enquanto fotos acompanham a narrativa dela com o som do trem ao fundo. A montagem se sobressai como a melhor coisa do filme se destacando em muitos outros momentos da projeção. O que acaba sendo quase que o oposto do que acontece com Antes do Pôr do Sol que tem longas tomadas sem nenhum corte. Além disso, o montador (não consegui pegar seu nome) conhecia mesmo os momentos em que devia ser discreto e apenas acompanhar a narrativa. Chega a ser incrível que um material fotográfico tão pobre tenha rendido uma montagem desta magnitude.

Julie Delpy e Adam Goldberg trabalham bem, mas são prejudicados pelo roteiro de Delpy cheio de auto-referências. Ambos são hipocondríacos. Ele sofre em algum grau de sindrome do pânico, se recusando a andar de metrô ou ônibus. Ela é uma ativista de joça nenhuma que diante de problemas universais como racismo e prostituição infantil estoura em discussão, o que estranhamente parece nunca ter acontecido antes deles chegarem a França. Ambos tem problema com sexo.

Sobre o roteiro: Ele lança diversos detalhes que sobre os personagens que enriquecem a trama, seja o motivo pelo qual Marion se torna fotógrafa, sejam as tatuagens Jack, aquele mundo é visto em detalhes. O problema é que Delpy tem algo a dizer neste filme, mas suas muitas escolhas, seus muitos assuntos e seu interesse por seus personagens não permitem que ela faça mais que esboçar seu discurso o que não deixar de ser uma pena. As piadas culturais são bons momentos que devem ser vistos com atenção.

Dois dias em Paris é um filme que agradará a gregos sem nunca chegar a agradar troianos. É com certeza um filme que alimenta a pretensão de ser cult, o tempo dirá se conseguirá tornar-se. Contra ele, o excesso.

3 comentários:

Rodrigo Camargo disse...

Nossa, uma nota ruim... O que será que aconteceu?

Cristiano Silva disse...

Assisti este filme no último dia 12/04. Estava no HSBC Belas Artes para ver Um Beijo Roubado, e acabei vendo a sinopse de 2 Dias em Paris, e me interessei por vê-lo, o que fiz no mesmo dia com a minha esposa.

O que me interessou na sinopse foi a direção e atuação de Julie Delpy em um filme com proposta uma de ser comédia romântica, e além de tudo a proposta também de um filme autobiográfico, que mostraria ela em relação às suas origens. Aliás, os pais dela no filme são realmente os pais verdadeiros dela.

Na primeira metado do filme, eu e minha esposa rimos muito, muito mesmo. Tem cenas muito engraçadas. Contudo, da metade para o fimo humor não se manteve, ficou mais um drama mesmo, e rimos bem menos. Acho que só em dois momentos. Não sei se foi uma escolha proposital da diretora ou foi problema dela mesmo. Mas foi assim.

Sobre o lance de ser autobiográfico, acho que Julie não queria mostrar sobre Paris em si, mas sim o jeito dos franceses. Esse era o foco que acho que o filme teve: mostrar um pouco dos franceses em si. Como os pais dela são, a irmã (não sei se é a verdadeira, se ela tiver), os amigos dela, até os taxistas. Cada vez que ela pegava um táxi, era uma personalidade diferente, incluindo um xenófobo, que é um problema que dizem existir muito na França.

Na minha avaliação pessoal, foi um filme bom, não excelente (eu tenho excelente, bom, ruim e muito ruim). Valeu o ingresso.

Bela crítica, sempre profissional. Abraços!

Eduardo Udo disse...

Prezado amigo Garcia, suas críticas estão ficando cada vez melhores, mais técnicas, mais profissionais. Isto sem contar o aprimoramento deste seu inegável dom para a escrita. Parabéns!!