quarta-feira, 23 de abril de 2008

Os Indomáveis


Não existem gêneros cinematográficos mortos, por mais que um seja usado e maltratado pela indústria cinematográfica. Basta uma boa história e trabalho sério para que o aparentemente caquético gênero dê bons frutos. 2007 (no calendário estadounidense) foi o ano que devolveu à baila os westerns (faroestes), com, ao menos, três bons filmes: O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford (The Assassination of Jesse James by the coward Robert Ford), Onde os Fracos Não Tem Vez (No Country for Old Men) e o objeto de analise deste texto Os Indomáveis (3:10 To Yuma). Alguns reclamarão que Onde os Fracos Não Têm Vez não é um western. A verdade é que toda sua temática é a de um legitimo faroeste e o fato dele se passar nos dias de hoje apenas mostra a capacidade do cinema de recriar.

Os Indomáveis é o remake de um clássico dos westerns chamado Galante e Sanguinário - o título original é 3:10 To Yuma em ambas as versões - que conta a história de Ben Wade (Russell Crowe), um perigoso e famoso ladrão de diligências, que após ser preso em uma pequena cidade precisa ser escoltado a Contention onde pegará o trem dàs 3:10 para a cidade de Yuma. Um pequeno grupo é selecionado para escoltar Wade, entre eles um rancheiro falido e perneta chamado Daniel Evans (Christian Bale) que acredita que com a recompensa por este trabalho poderá manter suas terras e reconquistar algum prestigio junto a sua familia. Entre eles e Contention está o bando de Wade que tentará obstinadamente resgatar seu líder.

Conciliando sua preocupação com a história que tem que contar, com seu desejo de homenagear o gênero, o diretor James Mangold (Johnny e June) adiciona todos os elementos consagrados possíveis de faroeste a história. Assim, se é para Ben Wade ser ladrão, que seja de diligências, já que Daniel Evans é pobre, por que não ser um rancheiro endividado que teme a ferrovia que talvez venha a passar por suas terras e, ainda, ex-soldado da guerra de secessão. O que não pode ser adicionado, James Mangold quer se concentrar na história, pode ser citado. não há bebedeiras em bar! que hajá ao menos um brinde; ninguém joga pôquer! Que o garoto embaralhe cartas; não há duelos! Que alguém comente a velocidade com que Ben Wade saca; não tem dançarinas de cabaré! Que Wade esteja dormindo com uma ex ao ser preso; essas são algumas das muitas homenagens preparadas pelo diretor que ainda introduz: celeiros em chamas, índios, garotos usando armas (algo cada vez mais inaceitável no cinema estadounidense), etc.

Manejando bem os recursos técnicos disponíveis sem deixar de usá-los como um meio para um fim (ops, referência ao Quebrando a Banca), James sabe que o que ele tem para mostrar são os dois ótimos personagens da história e chamar atenção ao meio que comunica esta história pode, de alguma maneira, tirar a atenção destes personagens. Assim, fotografia, montagem e trilha podem não ser destacados por determinado momento do filme, mas acompanham dignamente seus protagonistas.

Quem diria que o circunspecto protagonista de Psicopata Americano (American Psycho), O Grande Truque (The Prestige) e Batman Begins, Christian Bale, sabe atuar. Ainda que haja uma certa predileção pelo personagem de Russel Crowe, Christian valoriza seus momentos em cena mesmo com pequenos gestos. Seja um franzir de olhos ou um movimento com a mão tudo lembra um homem selvagem preso ao seu papel na sociedade. Na outra ponta, Russel Crowe vive um homem que se orgulha em dizer que é mau feito o diabo e que prova isso inúmeras vezes durante a projeção. Detentor de um certo carisma que fascina os inocentes ao seu redor, Ben Wade passa mesmo a imagem de bom moço e como todo o cara mau feito o diabo sabe usar isso em seu beneficio.

O filme, é claro, tem seus tropeços. Neste filme, eles estão exatamente em seus personagens principais e, lamentavelmente, poderiam ser evitados com imensa facilidade. Como já foi dito Daniel Evans é perneta o que faz as peripécias realizadas por ele no terceiro ato soarem inverossímeis, demorei mesmo a associar a dor que ele sente com uma queda ao fato de ele não ter uma perna. Já a Ben Wade é atribuída uma religiosidade artificial, ele cita passagens bíblicas e tem crucifixos incrustados nas coronhas de seus revólveres, mas desdenha da oração antes do jantar.

Os Indomáveis é não apenas uma homenagem ao gênero, como um filme que merece ser assistido seja por fãs de westerns seja pelo público em geral.

Um comentário:

Rodrigo Camargo disse...

o duro é ter que agüentar o Christian Bale e o Russel Crowe juntos. Mas pela análise vou assistir. Nem que for em DVD...