segunda-feira, 9 de maio de 2011

Edição de Som



Quando pensamos em um filme e a forma como ele é gravado, temos a tentação de imaginar que todo o trabalho é realizado de uma só vez, uma multidão de camêras e microfones que registram tudo o que está acontecendo em cena. Bem, isso não deixa de ser verdade, mas, normalmente, todo o áudio que não seja voz é melhor controlado na ilha de edição que no set de filmagem e, por isso, acaba adicionado posteriormente.

Sim, é fácil captar as imagens de um trem em movimento, mas fazer com que o áudio obtido neste momento, especialmente o gravado fora de um estúdio, fique decente é uma outra história. Assim que, o som do trem deslizando pelos trilhos enquanto se aproxima do carro da mocinha, geralmente é acrescentado na ilha de edição. Que dizer do choque entre o trem e o veículo. Mesmo as falas são, muitas vezes, acrescentadas posteriormente, com os atores dublando a si mesmos já que o áudio captado no momento da gravação da cena ficou pouco nítido, neste exemplo o barulho real do trem pode ter poluído a gravação da voz da mocinha, ou alguém pigarreou durante a cena ou qualquer outra desculpa que sirva.

Recentemente assisti ao filme Velozes e Furiosos 5 (não recomendo) e, graças a um péssimo trabalho de edição de som, era nítido que todas as falas em português do filme (a história se passa no Brasil), foram gravadas em um momento diferente das outras falas. A princípio imaginei que as falas em portugês haviam sido refeitas em estudio, mas sua qualidade é tão inferior a do restante das falas (parece que os atores estão falando com a boca dentro de uma lata) que passei a imaginar que seria o contrário, mas como acredito que dificilmente isso seria verdade, o mais provável é que a primeira hipótese seja verdadeira, apesar do péssimo resultado. De qualquer maneira, este filme acabou servindo para mostrar um pouco de um mau trabalho de edição de som. Afinal, uma edição bem feita tem de ser imperceptível e por isso seria difícil chamar a atenção para bons trabalhos.

A parte das vozes que só são refeitas caso haja algum problema, quase tudo é inserido posteriormente, do barulho feito ao se abrir uma latinha de refrigerante, até a explosão de um helicóptero. Outro filme que assisti recentemente também mostra um pouco deste trabalho. O filme intitulado aqui no Brasil de A Vida dos Outros (este é um excelente filme alemão que recomendo indiscriminadamente). Em determinado momento, um dos personagens esconde um objeto no assoalho de seu apartamento. A partir de então, sempre que alguém passa por aquele lugar o piso range, até aí tudo bem, o problema é quando um grupo entra em sua casa para revistá-la a droga do piso começa a soar o tempo todo, mais parecendo que um alarme havia sido disparado dentro da casa. A princípio eu senti muita tensão imaginando que o som iria revelar o esconderijo (claramente esta era a idéia), mas quando percebi que o rangido acontecia ao acaso e de uma forma desproporcional, este sentimento foi substituído por uma certa frustração. Assim, uma boa edição de som poderia ter aumentado minha tensão e me prendido a história, mas a edição ruim me tirou da história fazendo com que eu fosse transportado a realidade de que meramente assistia a um filme.

Muitos desses áudios inseridos nos filmes são gravados em estúdios, outros em ambientes controlados, há ainda os que são produzidos artificialmente, com sintetizadores, computadores e o que mais você possa imaginar, e, uns poucos, são realmente capturados em ambiente natural. Esses áudios são normalmente pequenas porções que são remendados e as vezes multiplicados para produzir o efeito desejado. Assim, um homem aplaudindo pode se tornar uma multidão de aplausos. Hoje, com o advento da internet existem muitos bancos de áudio disponíveis para profissionais e mesmo amadores. Não ganho nada com isso, mas, para os interessados, lugares com bastante deste material são o Bible Sound e o Soundsnap. Infelizmente, não conheço nenhum endereço tupiniquim, mas caso alguém conheça algum, me indique que eu coloco no post.

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