

Aproveitando a onda de super-heróis que vem chegando à tela grande, Will Smith surge como, talvez, o mais original dentre esses, ele é um dos poucos que não é baseado em uma revista em quadrinhos. Também não é um cara legal, muito pelo contrário. Hancock, personagem de Will, é bêbado, mulherengo, grosseiro, ressentido e desajeitado. Agora una está alma gentil, uma inclinação natural para fazer o bem e superpoderes, o que você terá é um super-herói muito mais desprezado que querido, cujos danos ao patrimônio público são maiores que os benefícios trazidos com sua presença, a ponto de existirem diversos processos em seu nome e de ele ser normalmente tratado pela carinhosa alcunha de asshole (indesejável, em tradução liberada para menores).
As coisas andavam como sempre na vida de Hancock, algumas pessoas eram salvas, o patrimônio público tinha o prejuízo de alguns milhões de dólares, ele enchia a cara e as pessoas o xingavam ao passar. Mas, entre um desastre de trem, provocado pelo próprio super-herói, e uma avalanche de reclamações, surge um homem, recém-salvo por Hancock, com tamanha fé na humanidade, que abraça Hancock como seu projeto pessoal pelo bem do próximo. A imagem de Hancock precisa ser revigorada e é Ray Embrey (Jason Bateman), o relações públicas que trabalhará por mais esta causa perdida.
O filme segue muito bem durante a primeira hora de projeção, enquanto apresenta a ação desconcertante de seu personagem título e avança bem dentro dos esforços de Hancock para melhorar. Infelizmente, este bom começo não é corretamente aproveitada pelo roteiro que, acaba errando a mão ao dosar drama e comédia no filme, e, como resultado, temos um filme que deixa a desejar. Sem falar que, insistir em contar a origem do personagem e fazê-la central ao desfecho da história denegriu imensamente seu último ato.
Ainda rezam contra o filme algumas infelizes gags cômicas, que, muitas vezes, poderiam funcionar, mas graças a falta de tato do diretor Peter Berg, que parece não saber sugerir, acabam bobas e grosseiras.
Por fim, Hancock é mesmo carregado no ombros por seu verdadeiro super-herói: Will Smith, que aperfeiçoando-se como ator a cada filme, soube trabalhar perfeitamente com o seu personagem, conferindo-lhe uma incrível presença em tela. E levando o personagem do drama ao humor quando exigido pelo roteiro. Algumas de suas falas ainda ecoam engraçadas em nossas mentes mesmo muito tempo após o fim da projeção. Jason Bateman e Charlize Theron atuam bem com o pouco que tem em mãos e ajudam Will Smith a segurar esta claudicante película.
Sem duvida, como acontecem com a maioria dos blockbusters, uma infinidade de pessoas adorará o filme, que, apesar de tudo, traz um interessante personagem que, se não fosse completa e ridiculamente resolvido neste primeiro filme, poderia gerar uma ótima seqüência. Dá para conferir nos cinemas? Bem, se você já viu Batman e Wall°e chegou a hora de conferir Hancock.
ps.: Leia este pos scriptum apenas se você já assistiu ao filme. Quando saí do cinema, eu tinha a impressão que John Hancock significava o mesmo que John Doe (João Ninguém). Outros amigos, que também assistiram ao filme e sabem inglês melhor do que eu, tiveram a mesma impressão. Felizmente, fiquei com a pulga atrás da orelha e após alguma pesquisa descobri que John Hancock é o mesmo que assinatura em inglês. Também descobri o porquê disso, mas deixo para o leitor mais curioso descobrir por si mesmo.